Uma menina de 4 anos teve que amputar a perna esquerda após sofrer um grave problema de circulação sanguínea. A família acredita que o caso tenha relação com a aplicação de uma injeção de Benzetacil, administrada em um posto de saúde de Três Barras, no Planalto Norte de Santa Catarina. O medicamento é comumente usado para tratar dor de garganta, entre outras condições.
Desde o dia 31 de agosto, a criança está internada no Hospital Materno Infantil Jesse Amarante, em Joinville, onde já passou por cinco cirurgias. “Ela sempre foi muito saudável. Agora ela passará pela sexta cirurgia em apenas sete dias. Os pais estão em estado de choque, todos estão sofrendo muito”, disse Odilene Aparecida Monteiro da Silva, madrinha da menina, que tem representado a família neste momento difícil.
Familiares relatam que os médicos suspeitam que a injeção tenha sido aplicada acidentalmente na veia ou artéria femoral, o que teria causado a complicação.
Segundo profissionais de saúde ouvidos pela reportagem, a aplicação de Benzetacil nas pernas de crianças é uma prática permitida, pois muitas vezes os músculos das nádegas não estão suficientemente desenvolvidos nesta faixa etária. Porém, é fundamental que a injeção seja aplicada corretamente, no músculo vasto lateral da coxa, para evitar danos às artérias, veias ou ligamentos.
Saúde da menina é monitorada no hospital
A equipe médica continua monitorando o estado da menina, com o objetivo de evitar que sua perna direita também seja afetada. Além disso, a criança, que não tinha histórico de doença, agora faz sessões contínuas de hemodiálise.
A previsão é que ela precise permanecer internada por pelo menos dois meses. Por isso, os pais, que são de origem humilde, alugaram um apartamento em Joinville para acompanhar de perto o tratamento. “Vendemos tudo o que tínhamos para estar aqui. O que importa agora é a vida dela”, declarou Jucélio Pereira, pai da menina.
Para ajudar a cobrir as despesas durante o período de internação, a família criou duas campanhas online de arrecadação de fundos. As doações podem ser feitas via Pix, utilizando as chaves: melissaluara11@gmail.com ou 096.892.999-05, em nome de Veridiane Aparecida Alves de Lima.
Município investiga serviço
Em nota, a prefeitura de Três Barras informou ao ND Mais nesta terça-feira (10) que os fatos estão sendo apurados, mas que emitirá nota oficial sobre o caso assim que a apuração técnica do ocorrido for concluída.
Lembre-se do caso
Na sexta-feira, 30 de agosto, a criança acordou com dor de garganta, segundo a família. Após diversas reclamações, a mãe decidiu buscá-la na casa da babá e levou-a ao posto de saúde de São João dos Cavalheiros, onde trabalha como auxiliar de dentista no setor odontológico.
Na delegacia, o médico que atendeu a menina receitou uma dose de Benzetacil, que depois foi administrada por uma enfermeira. Convencida de que a injeção aliviaria o desconforto da filha, a mãe a deixou mais uma vez aos cuidados da babá.
Pouco depois, o estado da menina piorou drasticamente. Preocupada, a mãe saiu do trabalho e foi até a casa da babá, onde encontrou a filha com manchas roxas nas pernas.
De volta ao centro de saúde, o médico que a atendeu inicialmente sugeriu que se tratava de uma reação alérgica. Confiando na avaliação, ela levou a menina para casa. Porém, ao chegar no final do dia, seu pai percebeu que o quadro havia piorado e decidiram levá-la ao Pronto Atendimento de Três Barras. O médico que a examinou classificou o caso como “alergia simples” e receitou medicamentos antialérgicos.
Mesmo depois de voltar para casa, Melissa continuou sentindo dores intensas e a escuridão nas pernas só piorou. No sábado, 31 de agosto, os pais retornaram ao Pronto Atendimento de Três Barras, onde foram atendidos por um novo médico. Ao perceber a gravidade do caso, o profissional encaminhou a menina com urgência para o Hospital Materno Infantil Jesse Amarante, em Joinville.
Durante a viagem, Melissa sofreu duas paradas cardíacas. Ao chegar ao hospital, uma tomografia computadorizada revelou que a circulação em sua perna estava gravemente comprometida e que seu coração e fígado também estavam em colapso. Segundo a família, os médicos suspeitavam que a injeção tivesse sido aplicada na veia ou artéria femoral.
A criança foi imediatamente levada para a sala de cirurgia. No sábado, ele passou pela primeira de uma série de cirurgias. No domingo, 1º de setembro, após tentativas frustradas de salvar a perna da menina, os médicos não tiveram escolha senão realizar uma amputação até a virilha.
“Fizeram tudo o que puderam para salvar a perna dela, mas na quinta cirurgia os médicos explicaram que havia risco de trombose e que era uma questão de vida ou morte. Entre a vida e a perna dela, escolhemos a vida dela”, relatou a madrinha.
A médica que prescreveu a injeção negou ter visto a criança pela segunda vez.
*Relatório criado em parceria com o portal JMais
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