Ela ainda é uma adolescente de 14 anos, mas já tirou muitos homens marmanjos da vida pública por um tempo. No registro de nascimento seu nome é Lei Complementar nº 135/2010, porém, entre a população, é conhecida como Lei da Ficha Limpa.
A Ficha Limpa teve como objetivo alterar a Lei Complementar nº 64/1990, que já tratava do assunto, para estabelecer novas hipóteses de inelegibilidade de alguém, com o objetivo de proteger a honestidade e a moralidade administrativa no exercício do cargo, considerando, para isso propósito, a história do candidato.
A norma estabelece uma série de situações que tornam o cidadão inelegível, ou seja, impedido de disputar uma eleição. Entre os casos que podem causar inelegibilidade estão:
- Parlamentares (senador, deputado ou vereador) que cometerem qualquer irregularidade prevista nas constituições federal e estadual e nas leis orgânicas municipais;
- Membros do Poder Executivo (governador, vice-governador, prefeito e vice-prefeito) que perdem o cargo também por violação de leis;
- Políticos condenados pela Justiça Eleitoral, por exemplo, em processo de abuso de poder político ou econômico durante uma eleição;
- Pessoas que são condenadas em caráter definitivo, ou seja, sem possibilidade de recurso, em uma série de crimes definidos em lei.
A Lei da Ficha Limpa inovou ao prever que o cidadão também será inelegível caso seja condenado no que o Tribunal chama de órgão colegiado, ou seja, formado por mais de um juiz.
Num processo comum, a pessoa é julgada por apenas um juiz. Se ela recorrer, por exemplo, ao Tribunal de Justiça do seu Estado, o julgamento será feito por um grupo de juízes.
Neste caso, não é necessário que o processo chegue ao fim, ou seja, que se esgotem todas as possibilidades de recurso.
O que há de novo na Lei da Ficha Limpa?
Conheça algumas das mudanças trazidas pela Lei da Ficha Limpa
- Aumenta a lista de crimes que podem tornar alguém inelegível;
- Aumenta o período de inelegibilidade para oito anos.
- A lei da Ficha Limpa tornou inelegíveis:
- Quem for condenado por “captura ilegal de sufrágio”, que, por outras palavras, significa que a pessoa obteve (ou tentou obter) votos ilegalmente, oferecendo dinheiro, favores ou outros benefícios;
- Qualquer pessoa que seja excluída do exercício da sua profissão por decisão do órgão profissional que o fiscaliza. Por exemplo, um médico que teve seu registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina por ter cometido infração ética no seu exercício profissional;
- Quem for demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial;
- magistrados (juízes e desembargadores) e membros do Ministério Público (procuradores e procuradores) aposentados compulsoriamente;
Por outro lado, a lei eliminou a possibilidade de fazer com que quem cometesse:
- Crimes culposos – quando não há intenção;
- Crimes com menor potencial ofensivo – considerados de menor gravidade, que normalmente não causam grandes danos ou prejuízos, como ameaça, lesões corporais leves e desacato. Nestes casos, a punição costuma ser mais branda, como pagamento de multa ou prestação de serviços à comunidade;
- Crimes de persecução penal privada – modalidade de crime em que o lesado, ou seja, a vítima, é quem deve tomar a iniciativa de processar o arguido.
A lei estabelece que a inelegibilidade só ocorre se ficar comprovado que o indeferimento de contas relativas ao exercício de cargo ou função pública foi resultado de ato doloso e se tal decisão for anulada ou suspensa pelo Poder Judiciário.
Um dos artigos da lei torna inelegível quem renuncia a cargos públicos para escapar de possíveis punições. A exceção é para quem pede demissão para concorrer a outro cargo – o que é chamado de inabilitação.
A lei dá prioridade na tramitação de processos que tratem de desvio ou abuso de poder económico ou de autoridade.
Mil e um usos
A lei da Ficha Limpa é muito útil para a política e para a sociedade em geral. Uma das principais vantagens é retirar das urnas, pelo menos temporariamente, pessoas que cometeram irregularidades na vida pública ou mesmo que tenham sido condenadas criminalmente na vida privada ou na carreira profissional.
Outra é dar aos eleitores acesso a informações que os ajudem a escolher melhor os seus candidatos no momento da votação.
Lei da Ficha Limpa resultou de iniciativa popular
Até ser sancionada, a Lei da Ficha Limpa percorreu um longo caminho. O projeto de lei que deu origem à nova norma nasceu de uma iniciativa popular, liderada por entidades que integram o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), e mobilizou diversos setores da sociedade brasileira, entre eles:
- Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Procuradores Eleitorais (ABMPE);
- Central Única dos Trabalhadores (CUT);
- Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
- organizações não governamentais, sindicatos, associações e confederações de diversas categorias profissionais; e
- Igreja católica.
A mobilização – que começou em maio de 2008 e conseguiu recolher mais de 1,6 milhão de assinaturas de apoio – atingiu seu objetivo final em 4 de junho de 2010, quando a lei entrou em vigor, após ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como saber se o candidato está com a ficha limpa
No site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é possível conferir informações importantes sobre cada candidato no pleito.
Passo a passo
Acesse o site de divulgação candidaturas e contas eleitorais.
- Escolha a região que deseja pesquisar e clique no mapa.
- Clique no nome do Estado escolhido e depois no botão “Inscrições”.
- Selecione um município e posição. Nas eleições municipais, você pode escolher prefeito, vice-prefeito ou vereador.
- Clique no nome do candidato.
A partir daí, você poderá ver desde simples dados pessoais – como nome completo, data e local de nascimento, escolaridade e profissão – até bens do candidato, propostas, certidões criminais e, se for o caso, dados de eleições anteriores. dos quais ele participou.
Além do TSE, é possível consultar informações, conforme o caso, nos portais de transparência de câmaras de vereadores, prefeituras, governos estaduais, governo federal, Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça e empresas estatais, entre outros .
Todos são obrigados a manter um portal com informações como receitas e despesas, contratos e licitações. Até os salários dos funcionários públicos e dos agentes políticos devem estar disponíveis.
O que fazer se o candidato não tiver a ficha limpa
Todo eleitor pode denunciar um candidato que sabe que não tem ficha limpa ou que cometeu alguma irregularidade. Para isso, os cidadãos têm à sua disposição uma série de ferramentas, sites e aplicações.
Uma das formas mais eficientes é denunciar o fato ao Ministério Público Eleitoral. No caso de eleições municipais, o responsável pelo recebimento e tratamento das denúncias é o Ministério Público Eleitoral. Ele deve analisar o que lhe foi denunciado e decidir o que fazer: denunciar o caso à Justiça Eleitoral ou mandar a polícia investigar são algumas das medidas que podem ser tomadas.
Outra forma é denunciar à polícia ou diretamente ao juiz eleitoral. Este também analisa se há fundamento no que foi dito e pode encaminhar à polícia ou ao Ministério Público Eleitoral.
Para denunciar irregularidades cometidas por políticos e outros agentes públicos, a sociedade pode utilizar diversos sites, como:
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