Antes de se posicionar na disputa pela sucessão na Câmara, a bancada do agronegócio aguarda o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para definir qual candidato terá seu apoio. Parlamentares ligados à liderança da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) afirmam considerar o momento ainda prematuro para esta discussão e dizem que qualquer costura política depende dos sinais de Lira. Antecipadamente, os deputados rurais consideram que será preferido um candidato com “sensibilidade” às questões agrícolas.
Há uma avaliação de que a bancada agrícola apenas tentaria um caminho alternativo, ou seja, indicar um candidato que não tenha a benção de Lira, caso o presidente da Câmara optasse por apoiar um nome muito pró-governo. Os deputados, na visão de interlocutores da FPA, não querem mais ficar “nas mãos” do Palácio do Planalto e defendem a independência orçamentária do Legislativo, ampliada nos últimos anos, com o aumento do valor das emendas e a imposição (pagamento obrigatório) de parte desses recursos.
O presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), é citado pelo setor e por alguns parlamentares como um possível nome na disputa, mas integrantes do Centrão questionam sua viabilidade, já que a coordenação do comando da Câmara depende mais nos acordos partidários e na orientação dos líderes. Diante disso, a influência das bancadas temáticas no processo tende a ocorrer mais por meio das próprias legendas. Dizem ainda que as pré-candidaturas já estão consolidadas e dificilmente haverá espaço para um novo concorrente.
As negociações só devem ganhar força após as eleições municipais de outubro, mas Lira afirmou nos bastidores que escolherá seu candidato em agosto. A eleição que renovará o comando das duas Casas do Congresso ocorrerá em fevereiro do ano que vem. Em público, o presidente da Câmara já mencionou três nomes: o líder do PSD, Antonio Brito (BA), o primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), considerado o preferido de Lira.
A sucessão da Câmara ainda não é prioridade da frente parlamentar. Neste momento, o Plano Safra, a crise do arroz e a reforma tributária concentram os esforços setoriais. Lupion tem dito a interlocutores que a bancada tende a endossar e orientar o nome endossado por Lira, caso o candidato também mantenha compromissos com a agenda setorial. “Lira tem um compromisso conosco. Vamos esperar que ele defina o próximo passo”, disse. Estadão/Transmissão. Porém, ainda não há acordo firmado com o presidente da Câmara para isso. A FPA, maior grupo da Câmara com 324 deputados, deu apoio unânime à sua reeleição em 2023.
“Logicamente, a Frente ouvirá todos os candidatos que se apresentarem. Mas não tenho dúvidas de que um candidato apoiado pelo presidente Lira já leva vantagem pela relação de qualidade de Lira com a Frente”, afirmou o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). ), 1º vice-presidente da FPA na Câmara. A avaliação é que Lira cumpriu o que prometeu à bancada durante seus dois mandatos à frente da Casa, inclusive em temas delicados, como o projeto do marco temporal para a demarcação de terras indígenas e o projeto de novas regras para defensivos agrícolas. E, portanto, terá, em princípio, um voto de confiança no seu candidato.
O presidente da Câmara já recebeu do ex-presidente Jair Bolsonaro a garantia de que o PL, maior partido da Câmara, estará com ele na disputa. Segundo aliados, Lira quer lançar Elmar, mas também é preciso firmar um compromisso com o governo Lula, que resiste em dar aval ao líder da União.
Lira tem feito uma série de acenos às bancadas temáticas e aos deputados do chamado “baixo clero” da Câmara – parlamentares com pouca expressão política – para unir apoios em torno de seu futuro candidato. De olho na FPA, colocou em votação projetos de lei contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Não estamos tratando disso (agora) na bancada porque a bancada é setorial. Quem vai se envolver nessa questão são os partidos. “, afirmou o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), ex-presidente da FPA. “O normal é que falemos com cada um dos candidatos para discutir assuntos que são do interesse do nosso setor. Só discutiremos isso depois das eleições autárquicas, acrescentou.
“Reconheço que o Arthur (Lira) foi parceiro na maioria das causas agrícolas. Então, obviamente gostaríamos que fosse alguém que tivesse esse espírito de nos ouvir de forma semelhante ao presidente Arthur. questão forte fator partidário”, afirmou o deputado Zé Vitor (PL-MG), coordenador da comissão de Meio Ambiente da FPA, à reportagem.
O líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), também é citado na disputa pelo comando da Câmara. Outros nomes citados são o do líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), e o do líder do PP, Doutor Luizinho (RJ).
Nome de Lupion é lembrado entre possíveis candidatos
Lupion é citado entre os potenciais candidatos à sucessão de Lira. A menção vem de deputados da oposição e de entidades setoriais. A viabilidade de sua candidatura, porém, é vista como improvável porque depende de indicações dos partidos. “A presidência da Câmara é uma questão partidária. O PP não discute o nome do Lupion”, afirmou um interlocutor que lembra que Lira e Lupion são próximos e dividem o mesmo partido.
Outro fato que pode inviabilizar Lupion são cargos considerados “Bolsonaro” pelo Executivo, como a defesa de anistia para Bolsonaro e a assinatura de pedido de impeachment de Lula apresentado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).
“Ele está se consolidando como a principal voz da oposição contra o governo, movimentando muitas estruturas econômicas e políticas contra o governo, mas falta-lhe habilidade partidária”, afirma uma fonte. O perfil combativo de Lupion é classificado pelos interlocutores como positivo para a base, mas desfavorável para planos maiores a nível nacional. Outros recordam o seu papel de liderança à frente da coligação de frentes parlamentares produtivas e a sua capacidade de unificar posições dissonantes. “Ele acumulou uma série de vitórias setoriais. É natural estar entre os listados”, observa parlamentar
Aliados de Lupion garantem que a sucessão na Câmara não está nos seus planos neste momento. O deputado busca a reeleição na FPA, o que depende de mudança no estatuto da bancada. Seu mandato à frente do grupo termina em fevereiro de 2025.
Questionado sobre o apoio dos deputados da oposição ao seu nome para disputar a presidência da Câmara e uma possível candidatura, Lupion limitou-se a dizer que ficou honrado com a citação dos colegas. “Essa candidatura não depende de mim. A candidatura depende da composição partidária e de vários fatores. Ainda é cedo para falar sobre isso”, afirmou.
O maior movimento de endosso ao nome Lupion vem de entidades setoriais, ligadas ao Instituto Pensar Agro (IPA). O pontapé inicial foi dado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que levantou o tema em evento do setor sucroenergético em Brasília, no início de abril. “Certamente haveria consenso entre as entidades de classe para apoiar esse projeto. Ele está preparado para isso, mas se não for agora, num futuro próximo”, disse um líder do agronegócio. Há o entendimento, porém, de que há menos influência dos setores econômicos nos assuntos internos da Câmara do que nas agendas e projetos legislativos.
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