A Polícia Federal paulista fez buscas em endereços na capital paulista e em cidades do interior do Estado nesta quinta-feira, 20, para investigar suposta venda de decisões judiciais do juiz Ivo de Almeida, de 66 anos (37 na carreira) , presidente da 1ª Câmara de Direito Penal do Tribunal de Justiça de São Paulo. A residência do magistrado e seu gabinete na Rua Conselheiro Furtado (centro de São Paulo) são alvo de buscas. O ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, relator da “Churrascada”, decretou o afastamento cautelar do juiz de suas funções por um ano.
Advogados da região de Ribeirão Preto e Taboão da Serra, entre eles Luiz Pires Moraes Neto, também estão listados como investigados. Og Fernandes impôs aos investigados, incluindo o juiz, a proibição de manter contacto com outros alvos da ofensiva. Alguns dos investigados também foram proibidos de ingressar no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A ofensiva foi chamada de Churrascada, porque os investigados usaram o termo “churrasco” para se referir ao dia em que o magistrado esteve de plantão no TJSP. A reportagem entrou em contato com o gabinete do desembargador e com o Tribunal de Justiça de São Paulo, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestações.
Esta manhã, 80 policiais saíram às ruas para cumprir 17 ordens de busca e apreensão. As medidas foram ordenadas pelo ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça.
Ivo de Almeida foi elevado ao cargo de juiz em 2013. Ingressou na magistratura em 1987, tendo atuado em tribunais de Bauru, São Bernardo do Campo, Cananéia e Registro. Na capital, atuou na 2ª Vara Criminal e no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Tribunal Regional de Santana. Ele era desembargador do Carandiru em 1992, quando houve um massacre que deixou 111 mortos.
Operação Contágio
Segundo a PF, a ofensiva é um desdobramento da Operação Contágio, inaugurada em 2021. Um dos alvos da Operação Churrascada, Wellington Pires da Silva, foi indiciado no Contágio, em 2021, por supostos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. dinheiro.
Esta investigação teve como foco o desvio de recursos de saúde por meio de uma organização social que assinou contratos no valor de mais de R$ 300 milhões com os municípios paulistas de Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Hortolândia, São Vicente e Cajamar.
Os investigadores estimam que mais de R$ 40 milhões foram desviados pelo esquema frustrado no Contágio. A Polícia Federal indiciou 27 pessoas investigadas após a operação.
O relatório final do caso, de mais de 200 páginas, detalhou as etapas da investigação que durou quase dois anos, entrevistou mais de 40 pessoas e incluiu duas etapas ostensivas – realizadas em abril e maio de 2021, com cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão.
Roubo e fraude
Três dos investigados na Operação Churrascada integram um habeas corpus e um recurso criminal julgado pelo TJSP em 2019, sob relatoria do desembargador Ivo de Almeida.
O habeas corpus foi impetrado pelo advogado Luiz Pires Moraes Neto em benefício de Adormevil Vieira Santana. Ele, junto com Sérgio Armando Audi, foi condenado pela 21ª Vara Criminal de São Paulo a sete anos de prisão, em regime fechado, por roubo qualificado e peculato, sem direito a recurso em liberdade.
As condenações foram motivadas por dois episódios: o “engano” de uma vítima de quem a dupla “comprou” uma filmadora da marca Sony (NYSE:) de R$ 14,5 mil, com simulação de depósito bancário; o roubo de um drone no valor de R$ 3 mil, “através de grave ameaça exercida mediante simulação de uso de arma de fogo”.
A defesa alegou demora excessiva na análise do recurso interposto contra a condenação, pedindo a soltura de Adormevil. De acordo com o voto de Ivo de Almeida, a 1ª Câmara de Direito Penal do Tribunal de Justiça de São Paulo negou o despacho, alegando que analisaria o recurso da defesa.
Meses depois, a mesma turma acatou parcialmente o recurso da defesa e alterou o regime de pena inicial de Adormevil e Sérgio Audi para semiaberto. O relator Ivo de Almeida entendeu que era oportuno abrandar o regime punitivo, “apesar da reincidência dos arguidos, considerando o valor da pena imposta e a restituição de bens às vítimas”.
A defesa posteriormente recorreu da decisão ao Superior Tribunal de Justiça.
COM A PALAVRA, O JULGAMENTO
Até a publicação deste texto, o relatório do Estadão Ele entrou em contato com o gabinete do juiz e com o Tribunal de Justiça de São Paulo, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.
COM A PALAVRA, CRIMINALISTA ALBERTO ZACHARIAS TORON
As suspeitas que recaem sobre o juiz Ivo de Almeida causaram grande impacto no Tribunal de Justiça e também entre os advogados criminais. Alberto Zacharias Toron, com larga experiência em ações no TJ de São Paulo, esclareceu que não defende o juiz, mas presta seu depoimento.
“Conheço o juiz há mais de 30 anos e sempre o vi como um juiz sério, honesto, correto, preocupado com a entrega da justiça. os fatos estejam bem esclarecidos e que tudo corra bem, porque ele é um excelente juiz.”
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