Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) – O assassinato do repórter britânico Dom Phillips na floresta amazônica há dois anos não foi um crime isolado em uma região onde a violência contra jornalistas aumentou nos últimos anos, de acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira.
Com o aumento do interesse global na Amazónia como barreira contra as alterações climáticas, o trabalho dos jornalistas que reportam crimes ambientais e outros crimes na vasta região também aumentou, mas isto teve um preço elevado.
Houve 230 casos de violência contra jornalistas na Amazônia na última década, com nove repórteres assassinados, disse o Instituto Vladimir Herzog, uma organização sem fins lucrativos.
Os incidentes de violência contra jornalistas mais que duplicaram, de 20 para 45, entre 2021 e 2022, anos em que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve no poder, segundo o Instituto Vladimir Herzog.
Bolsonaro afrouxou os controles ambientais e enfraqueceu as agências de supervisão para promover o desenvolvimento na Amazônia, o que levou a um aumento na mineração ilegal de ouro e na extração irregular de madeira.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu enfrentar o crime organizado que contribui para a destruição da maior floresta tropical do mundo. A desflorestação abrandou, mas o progresso tem sido lento noutras frentes.
A violência contra jornalistas diminuiu em 2023, segundo o relatório do Instituto Herzog, mas permaneceu ligeiramente acima da média histórica.
Dom Philips foi baleado em 2022 por pescadores ilegais enquanto viajava com Bruno Pereira, um especialista em povos indígenas isolados que monitorava a atividade de caça furtiva em reservas protegidas.
A reportagem do Instituto Herzog apontou que repórteres saíram da floresta temendo por suas vidas após receberem ameaças de garimpeiros, madeireiros e agricultores que ocupavam terras indígenas.
Em 2020, Roman dos Anjos, que denunciava o garimpo ilegal de ouro na reserva Yanomami, foi sequestrado, espancado e deixado na mata com fraturas no corpo. Ele sobreviveu à provação e ainda espera que seus sequestradores sejam levados à justiça.
Ainda em 2020, um jornalista que investigava a venda de mercúrio, usado por mineradores para separar petróleo, foi perseguido e ameaçado por garimpeiros em Porto Velho. Numa viagem de reportagem um ano depois, homens armados dispararam para o alto para assustá-lo, disse o Instituto Herzog.
Em 2022, na mesma cidade, criminosos metralharam a redação do jornal local Rondônia ao Vivo, que criticava os interesses dos agricultores que empurravam a fronteira agrícola para terras indígenas, segundo a reportagem.
“É urgente que o Estado brasileiro garanta segurança para esses jornalistas e suas fontes; para os defensores dos povos tradicionais; para aqueles que enfrentam grileiros, garimpeiros, madeireiros ou criminosos disfarçados de empresários agrícolas; para todas as pessoas que vivem na Amazônia , um território cada vez mais controlado por organizações criminosas”, escreveu na reportagem a repórter de TV Sônia Bridi, veterana na cobertura da Amazônia.
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