Depois de incluir o nome do coronel reformado da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa de reeleição na semana passada, a campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) recebeu o aval dos principais partidos que formam a coligação. Portanto, o anúncio depende apenas de um jantar formal na capital paulista, organizado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta quarta-feira, 19.
Ó Estadão apurou que o soldado sugerido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não encontra resistência no comando de siglas como PSD, Republicanos, Progressistas, Podemos, PRD e Avante e que o núcleo duro da campanha do próprio prefeito tem defendido a indicação em conversas privadas com o líderes. A tendência é que as áreas de insatisfação, em parte do Solidariedade e do próprio Progressistas, por exemplo, sejam superadas. O grupo de aliados do prefeito ainda inclui os “nanicos” Mobiliza e Agir e negocia a entrada do União Brasil.
Ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e diretor da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Mello Araújo é um defensor convicto de Bolsonaro que reproduz frequentemente o discurso do ex-presidente nas redes sociais, como ataques do Judiciário e defesa da agenda aduaneira conservadora. A indicação encontrou resistência entre chefes partidários de partidos mais centrais devido a essa postura, mas ganhou força com a recente “dupla” entre Bolsonaro e Tarcísio, os dois principais aliados do prefeito nas urnas.
A costura começou a ser vista por quem cercava Nunes como inevitável à medida que o técnico Pablo Marçal (PRTB) entrou na disputa e passou a flertar com deputados do PL e com o próprio Bolsonaro, em Brasília. Além disso, a alternativa mais simpática ao prefeito, o secretário municipal de Relações Internacionais, Aldo Rebelo (MDB), negou o convite para se juntar ao Republicanos na janela do partido, o que praticamente anulou suas chances de ser indicado, pois dependia de um “puro ingresso “emedebista.
Na sexta-feira, 14, em nova demonstração de força de Bolsonaro, Nunes almoçou com o ex-presidente, o governador Tarcísio e o próprio coronel no Edifício Matarazzo. O prefeito evitou chamar Mello Araújo de favorito à vice-presidência, mas disse que o escolhido de Bolsonaro tinha “argumentos fortes”. Publicamente, o horário gratuito de publicidade em rádio e TV disponibilizado pelo PL tem sido citado como motivo da preferência. Nos bastidores, aliados também citam a necessidade de “amarrar” Bolsonaro à campanha, evitando a dispersão de votos do eleitorado de direita.
Um dos bolsões de resistência foi o PP. Integrantes do partido criticaram publicamente a escolha de Mello Araújo como vice-presidente. Porém, na última segunda-feira, 17, o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira, se reuniu com Nunes e afirmou que, caso a indicação fosse oficializada, o partido aceitaria e trabalharia com Nunes em qualquer hipótese.
“É muito importante que o governador Tarcísio e o presidente Bolsonaro façam essa indicação (…) Se isso (nomeação) acontecer, vai contar com o nosso apoio e o nosso entusiasmo”, afirmou o senador a respeito do nome de Mello Araújo.
O jantar desta quarta será oferecido pelo governador Tarcísio na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Será a quarta reunião do chamado “conselho” de 11 partidos de apoio a Nunes, eleito vice-presidente de Bruno Covas (PSDB) em 2020, mas que governou a cidade praticamente todo o seu mandato após a morte de seu antecessor. Ainda não há confirmação de que o União Brasil participará do encontro.
O partido ainda mantém a pré-candidatura do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), mas pode retirá-la em julho. O presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (União), sempre defendeu publicamente o acordo com o prefeito, mas reivindicou o cargo de vice-presidente de Nunes. Ele, porém, criticou publicamente a escolha do coronel, que considera “não ter direito a voto”, e sugeriu que a definição não seja feita agora.
“A análise do Sindicato Básico é a seguinte: Ricardo é muito ligado à Igreja Católica. Precisamos de um evangélico, bem caracterizado. O coronel não atende a esse requisito”, disse Leite ao Estadão. Com a esperada nomeação do coronel Mello Araújo como substituto de Nunes, o vereador afirma que a entrada do União Brasil na coligação será discutida “em outro momento” diretamente com o prefeito.
Na segunda-feira, 17, Nunes reafirmou que a escolha pode não ser unânime dentro da coligação e que, neste caso, valerá a vontade da maioria. “A ideia é que, nessa reunião à noite, todos possam colocar seus nomes, possamos chegar a um consenso. Talvez não consigamos chegar a um consenso de 100%, mas faremos um exercício para que a maioria defina o consenso.”
Procurada, a campanha de Nunes não confirmou a informação de que a maioria dos partidos aceitou a indicação do coronel Mello, mas afirmou que conversaria com a imprensa após o jantar da chamada “frente ampla”. O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), não respondeu aos pedidos de entrevista. Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, e Antônio de Rueda, líder nacional do União Brasil, também não retornaram contato.
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