Às vésperas da decisão do Copom, que deve interromper o corte dos juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou ontem sua artilharia contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em entrevista à Rádio CBN, Lula disse que o chefe do BC não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o país.
“Só temos uma coisa que está desajustada no Brasil neste momento, que é o comportamento do Banco Central, isso é uma coisa que está desajustada. Um presidente do BC que não demonstra capacidade de autonomia, que tem um lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar, porque não há explicação para a taxa de juro tal como está”, criticou.
Na sequência, Lula afirmou que o próximo presidente do BC será alguém que “não se submeta às pressões do mercado” e que esteja comprometido com “o desenvolvimento do país e o controle da inflação”. Hoje, o BC só trabalha com meta de inflação. O mandato de Campos Neto termina em dezembro. Dos nove diretores da instituição, Lula já nomeou quatro.
As declarações de Lula esquentaram sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado que discute projeto que amplia a autonomia do Banco Central (mais informações na página B2). Segundo as operadoras, elas também afetaram o mercado de câmbio, que já vem funcionando de olho na reunião do Copom. A moeda subiu mais 0,23% e chegou a R$ 5,43.
“É uma ‘minitombinização’, porque estamos falando de um BC que vai trabalhar com a inflação no teto”, reagiu o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, referindo-se à ideia do presidente de escolher alguém menos ortodoxo para o BC. Alexandre Tombini ocupou o cargo no governo Dilma Rousseff.
Ainda na entrevista, Lula voltou a criticar o jantar oferecido na semana passada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a Campos Neto. “(Tarcísio) tem mais (poder de influência) do que eu. Não é que ele conheceu Tarcísio em uma festa. A festa era para ele, foi uma homenagem do governo de São Paulo a ele, certamente porque o governador de São Paulo está pensando que a taxa de juros de 10,5% é maravilhosa”, atacou Lula.
Sobre os rumores de que Campos Neto teria sinalizado que aceitaria ser ministro da Fazenda em um possível governo Tarcísio, Lula fez uma comparação com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que deixou o Judiciário para ser ministro no governo Bolsonaro. “Vamos repetir um Moro? O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que Moro fez? Um campeão da Justiça, com o rabo amarrado a compromissos políticos?”
Nas redes sociais, Moro disse que a comparação é uma “nuvem de fumaça” para a “incompetência” do governo Lula na área da economia. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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