A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decide, nesta terça-feira, 18, se aceita a denúncia contra o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE), Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) e o ex-delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa pelo planejamento e morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O crime ocorreu em março de 2018.
A sessão está marcada para começar às 14h30. Os ministros decidirão se os acusados se tornarão réus por homicídio e organização criminosa. A Primeira Turma é formada por Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou os irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa no início de maio deste ano.
O caso foi divulgado após declarações da defesa. Os advogados afirmam que as acusações se baseiam exclusivamente na versão de Ronnie Lessa, o atirador que firmou uma colaboração premiada, e que as suspeitas não foram comprovadas.
O Ministério Público Federal acusa os irmãos Brazão pelos crimes de homicídio e organização criminosa. Rivaldo foi acusado apenas dos assassinatos. O STF deverá decidir se aceita ou não a acusação. O crime ocorreu em 2018, mas só agora eles foram apontados como mandantes, após serem citados no depoimento do atirador Ronnie Lessa. Todos estão em prisão preventiva desde março.
Também foram denunciados o ex-assessor Robson Calixto da Fonseca, conhecido como “Peixe”, que trabalhava no gabinete de Domingos Brazão no TCE, e o policial militar Ronald Paulo Alves Pereira, o “Major Ronald”, apontado como ex-chefe da milícia da Muzema, na zona oeste do Rio.
A execução da vereadora teria sido motivada pela exploração imobiliária em áreas dominadas pela milícia, especialmente em comunidades de Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
Para a PGR, as provas da investigação confirmam o relato de Ronnie Lessa. A denúncia foi apresentada pouco mais de um mês após a Polícia Federal entregar o relatório final da investigação. O relator do caso é o ministro Alexandre de Moraes, que agora precisa analisar as denúncias e decidir se abre processo criminal.
A defesa de Rivaldo Barbosa pediu que Flávio Dino se declarasse impossibilitado de participar da votação porque, antes de assumir o cargo no STF, comandou o Ministério da Justiça e Segurança Pública. A Polícia Federal, que assumiu a investigação no ano passado, faz parte da estrutura administrativa do departamento, mas tem autonomia para atuar. O delegado vê o ministro como “participante das investigações”.
Quem são os acusados?
Chiquinho Brazão foi vereador no Rio de Janeiro por quatro mandatos, o último dos quais coincidiu com o de Marielle Franco, entre 2017 e a morte do vereador em março de 2018. Foi eleito deputado federal pelo Avante nas eleições de 2022, e formou-se, no final do ano passado, para atuar como secretário municipal de ação comunitária do Rio. A temporada foi curta e terminou em fevereiro.
O nome de Chiquinho apareceu nas investigações devido à denúncia de Ronnie Lessa, ex-policial militar acusado de ser o responsável pelos disparos que atingiram Marielle e Anderson. O acordo foi aprovado esta semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Foi a citação a Chiquinho que levou o processo a ser remetido à instância superior. Anteriormente, a investigação já havia sido enviada ao Superior Tribunal de Justiça, devido à menção a Domingos Brazão, assessor do TCE-RJ.
Domingos Brazão foi nomeado para o Tribunal de Contas do Estado em 2015, mas antes disso foi deputado estadual, ocupando cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de 1999 até seu ingresso na Corte. A menção ao nome de Domingos na investigação dos assassinatos de Marielle e Anderson não é nova, já que em 2019 ele foi apontado como o ‘principal suspeito de ser o autor intelectual’ das mortes. Ele sempre negou participação no crime.
Rivaldo Barbosa é delegado e tomou posse como chefe da Polícia Civil do Estado do Rio em 13 de março de 2018, um dia antes da execução de Marielle. Na época, a segurança do Rio estava sob intervenção federal, tendo no comando o general Walter Braga Netto, que mais tarde se tornaria ministro da Defesa e da Casa Civil no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A indicação foi feita pelo general Richard Nunes, na época chefiando a Secretaria de Segurança Pública.
Deixou a chefia da Polícia Civil em janeiro de 2019, após a posse do então governador Wilson Witzel. Formado em direito, Barbosa também ocupou o comando do Departamento de Homicídios.
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