A batalha pelos eleitores indecisos na reta final da campanha eleitoral antes da votação no primeiro turno colocou as mulheres, a classe média e os evangélicos no centro do debate entre os candidatos a prefeito da capital paulista promovido nesta segunda-feira, 30, pelo UOL e pelo Folha de S.Paulo. A discussão sobre as propostas voltou a ficar em segundo plano. Num formato diferente, que permitia a intervenção a qualquer momento através de um banco de horas e com apenas quatro concorrentes – Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB) -, todos os participantes estavam sujeitos às críticas.
O autarca, nas suas intervenções, apontou a sua artilharia para Boulos e Marçal. No caso do candidato do PSOL, um dos focos de Nunes foi uma declaração do deputado criticando a classe média. O objetivo é tentar enfraquecer Boulos num eleitorado que geralmente decide eleições muito disputadas, como é o caso de São Paulo, que vive um cenário de triplo empate na liderança.
Mas Nunes também abriu uma frente que permeou todo o debate: a busca pelo voto evangélico. O prefeito até recitou versículos bíblicos. Marçal acusou-o de apenas memorizar o que o marqueteiro dizia sobre o assunto. Ele questionou Nunes sobre seu conhecimento de religião, acusando o emedebista de buscar apenas o voto do eleitorado evangélico. O prefeito rebateu, lembrando que o influenciador foi condenado por furto qualificado – decisão que prescreveu.
Tabata, por sua vez, ao tentar criticar os dois adversários, aproveitou para enaltecer sua vida na igreja e, em outro momento, afirmou que os rivais seriam julgados pela lei divina.
Em determinado momento do debate, o candidato do PRTB fez questão de perguntar sobre o boletim de ocorrência feito pela esposa de Nunes por suposta violência doméstica. “Como você é baixinho, cara”, reagiu o prefeito, que sempre negou qualquer tipo de agressão física à esposa.
Feminino
O voto feminino também esteve em disputa. Principalmente depois de Marçal ter afirmado que as mulheres, por serem inteligentes, não votariam em mulheres. A afirmação foi explorada primeiro por Boulos e depois por Tabata.
“O esforço de Tabata é parecer a mais sábia. Ela é a mais inteligente, mas sua sabedoria é a mais baixa. Por quê? A sabedoria envolve experiência. E o fato de ela continuar gritando, como se fosse a tia do ensino médio aqui entre nós, ela quer para te provar que ela é mulher. Ei Tabata, se uma mulher votasse em uma mulher, você venceria no primeiro turno. Mulheres não votam em mulheres, mulheres são inteligentes”, disse a candidata do PRTB.
“Marçal insinuou que quem vota nas mulheres teria menos inteligência. Lamentável. É triste ouvir isso de alguém que quer governar a maior cidade do Brasil”, rebateu Boulos. “Deve ser por isso que ele odeia tanto as mulheres e vem aqui dizer que mulheres inteligentes não votam em mulheres”, acrescentou Tabata, declarando que “só alguém deplorável e detestável” como Marçal faria a afirmação que ele fez.
A avaliação é que, quando cortada, a frase do influenciador tende a ser prejudicial a um candidato que, para diminuir a rejeição, busca melhorar o relacionamento com as eleitoras de olho na vaga no segundo turno. Nas pesquisas de intenção de voto, Marçal tem melhor desempenho entre os homens e vem tentando suavizar sua imagem para tentar conquistar as mulheres.
Nessa estratégia, buscou estabelecer um jogo duplo na relação com Tabata ao longo do debate. Por um lado, retratar a candidata como alguém que não tem chances ou que ainda não está preparada para a Prefeitura, mas, por outro, elogiá-la de olho na migração do seu eleitorado. A tática de Marçal já foi utilizada em debates anteriores, com o pedido de desculpas relativamente à acusação de que Tabata terá contribuído para o suicídio do pai. Ele continuou ontem dizendo que colocaria a candidata do PSB na Secretaria de Educação caso ela evitasse cargos tão à esquerda e afirmando que ela tem um plano de governo brilhante, mas que “não vai vencer”.
A candidata do PSB reagiu dizendo que seu adversário é “um palhaço” e que jamais aceitaria estar ao lado de um condenado.
Maconha
Boulos enfrentou mais críticas dos adversários do que em ocasiões anteriores, mas ganhou impulso devido ao duro debate entre Marçal e Nunes, principalmente na reta final da prova.
No início do debate, Marçal questionou Boulos sobre o uso de drogas, e o candidato do PSOL disse que nunca usou cocaína. “Experimentei maconha uma vez quando era adolescente. Nunca mais. Me deu uma forte dor de cabeça”, disse ele.
Desta vez, porém, o candidato do PSOL recebeu críticas de Tabata, que atacou o nome apoiado pelo PT e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em busca de reação nas urnas. Boulos, porém, evitou reagir, pois espera contar com o apoio do candidato do PSB e de seus eleitores em um possível segundo turno.
O debate de ontem foi o penúltimo antes da votação em primeiro turno, no próximo domingo. O último debate, organizado pela TV Globo, será na quinta-feira, 3. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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