O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega neste domingo (29 de setembro de 2024) à Cidade do México para participar da cerimônia de posse da presidente eleita, Claudia Sheinbaum, 62 anos, do Morena (Movimentação Regeneração Nacional, centro-esquerda) . O evento está marcado para 1º de outubro. Ela será a primeira mulher a assumir a Presidência do México.
Sheinbaum é aliado do presidente Andrés Manuel López Obrador, 70 anos, conhecido pela sigla AMLO. Ela será sua sucessora no comando do país de quase 130 milhões de habitantes pelos próximos 6 anos.
É a terceira visita oficial de Lula ao país. Esteve no México durante seus outros 2 mandatos, em 2003 e 2007.
Em 2022, participou da cerimônia de posse de López Obrador. Desta vez, ele quer recuperar a influência do Brasil na região, reduzida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Comissão Binacional Brasil-México, instância de diálogo diplomático, por exemplo, foi retomada em 2023 após ficar 5 anos inativa.
RELACIONAMENTO COMERCIAL
Um dos objetivos do PT é ampliar o relacionamento comercial entre os 2 países, especialmente nas áreas industrial e agrícola. O México é o 6º parceiro comercial do Brasil e o 5º principal destino das exportações brasileiras.
“Chegamos a US$ 14 bilhões em 2023, crescimento de 15% em relação a 2022. É um comércio que está mostrando seu vigor e, principalmente, um comércio de alto valor agregado”, disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, aos jornalistas na quarta-feira (25 de setembro de 2024).
O Brasil quer ampliar as exportações de proteína animal, especialmente carne de frango e ovos. A ideia é aproveitar o espaço aberto por López Obrador quando decidiu eliminar os impostos de importação de produtos da cesta básica mexicana. A medida foi adotada no final de 2023 para conter a inflação naquele momento.
Um acordo de livre comércio também está em cima da mesa e deve ser apresentado a Sheinbaum. O governo brasileiro estima que ela será discutida ao longo deste ano, mas não há previsão de quando deverá ser implementada.
São 2 acordos econômicos que o Brasil enfatizará durante a visita:
- ÁS 53complementação econômica entre países;
- ÁS 55comércio de produtos automotivos.
O 1º acordo traz regras para a eliminação ou redução de mais de 800 tarifas de importação, por meio da concessão de margens de preferência recíprocas entre Brasil e México.
“O trabalho que temos pela frente é ampliar esse acordo bilateral, que ainda é limitado, cobre apenas 13% das linhas tarifárias, por isso o Brasil quer ampliar o número de linhas que podem entrar com benefícios comerciais ou tarifas mais baixas” , disse Padovan.
A 2ª estabelece o livre comércio entre os 2 países de veículos comerciais leves, chassis com motor, cabine e carrocerias para esses veículos, caminhões e chassis com motor e cabine, tratores agrícolas, colheitadeiras, máquinas agrícolas autopropelidas, máquinas rodoviárias autopropelidas e autopeças para os produtos automotivos mencionados acima.
AGENDA NO MÉXICO
Na segunda-feira (30 de setembro), Lula terá reuniões bilaterais com López Obrador e Sheinbaum.
Segundo o Itamaraty, o presidente deve abordar questões ligadas ao meio ambiente e desafios na área climática, questões de gênero e relações comerciais.
Padovan afirmou que a formação científica do novo presidente na área de ciências climáticas poderia ajudar a unir os países em torno de temas comuns da chamada “agenda verde”.
“O meio ambiente é um tema que une os dois países, e o fato do presidente (sic) ter essa formação científica é um elemento que o Brasil deve compreender e aproveitar”, disse.
Durante a viagem, Lula convidará o México a aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, sua principal iniciativa antes do G20 em 2024.
À noite, participará de reunião do Conselho Empresarial Brasil-México e do Fórum Empresarial Brasil-México, promovido pela Apex-Brasil. O evento reunirá mais de 400 empresários, sendo 150 brasileiros.
Depois, participará de um jantar oferecido pelo governo mexicano aos chefes de estado. Será realizado no Museu da Cidade do México.
No dia seguinte, estará na cerimônia de posse, que será realizada no Palácio Legislativo de San Lázaro. Segundo o governo mexicano, além de Lula, participarão outros 15 chefes de estado e de governo. Ao final, todos parabenizam o novo presidente. Lula retorna a Brasília no final do dia.
VENEZUELA
A crise político-eleitoral na Venezuela certamente estará na agenda dos encontros de Lula com lideranças mexicanas. Será uma oportunidade para tentar trazê-los de volta ao grupo de negociação estabelecido com a Colômbia, do qual saiu o México, inicialmente membro.
Embora tenha deixado o assunto de fora de seus discursos na ONU (Organização das Nações Unidas) na semana passada, o petista abordou o tema em praticamente todas as reuniões bilaterais que teve em Nova York.
Nas conversas, Lula demonstrou irritação com os sucessivos descumprimentos de promessas do presidente venezuelano, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda), e com a deterioração do ambiente político no país vizinho devido ao endurecimento do regime chavista contra a oposição.
Ouviu do presidente da França, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, relatos de perplexidade com a saída do candidato da oposição, Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita), para a Espanha em 8 de setembro, após um mandado de prisão contra ele havia sido emitido dias antes.
Desde o agravamento da situação política na Venezuela, Lula, López Obrador e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro (Colombia Humana, à esquerda), criaram um grupo para mediar o diálogo com Maduro em torno de uma solução para as eleições venezuelanas. A sua principal exigência era a divulgação de dados desagregados dos boletins de voto, o que nunca aconteceu. O Brasil insiste na estratégia de que é preciso manter o canal aberto com o regime chavista e a oposição, mesmo diante da crescente repressão no país.
Ainda em agosto, López Obrador distanciou-se das conversas com os outros 2 presidentes. Sheinbaum indicou que a saída da Venezuela deveria ser por via interna, com decisões dos tribunais do país. A oposição acusa o sistema judicial venezuelano de ser controlado por Maduro.
Agora, Lula terá a oportunidade de convencer o novo presidente a voltar ao grupo e continuar a tentativa de mediação com Maduro, mesmo sendo cada vez mais difícil negociar qualquer solução com o chavista. Embora se sinta bastante incomodado com a posição do vizinho, o petista ainda quer manter abertos os canais de diálogo.
A Petro estará na Cidade do México para participar da cerimônia de inauguração. Não há previsão de encontro com Lula. Os 2 se encontraram na quarta-feira (25 de setembro), em Nova York.
QUEM É CLAUDIA SHEINBAUM
Nascida em 24 de junho de 1962 na Cidade do México, em uma família de cientistas judeus, Claudia Sheinbaum Pardo, 62 anos, foi eleita com o apoio do presidente Andrés Manuel López Obrador. O país não permite a reeleição.
Sheinbaum faz parte do Morena (Movimento de Regeneração Nacional), mesmo partido de López Obrador. O partido lidera a coalizão Sigamos Haciendo Historia, também formada pelo PT (Partido del Trabajo) e pelo Pvem (Partido Ecologista Verde do México).
Ele construiu uma carreira acadêmica de destaque antes de entrar na política. Formou-se em física e obteve mestrado e doutorado em engenharia de energia pela Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). O seu trabalho académico, focado em questões ambientais, deu-lhe a oportunidade de participar em projetos de sustentabilidade e alterações climáticas.
Sheinbaum entrou na política em 2000. Foi Secretária de Meio Ambiente da Cidade do México, de 2000 a 2006, na administração de López Obrador. Em 2015, foi eleita delegada de Tlalpan, uma das demarcações territoriais da Cidade do México, onde promoveu a segurança e o desenvolvimento urbano sustentável.
Em 2018, foi eleita a primeira mulher chefe de Governo da Cidade do México – cargo equivalente ao de governadora no Brasil – por Morena. Durante o seu mandato, Sheinbaum concentrou-se na mobilidade urbana, sustentabilidade, segurança pública e igualdade de género, enfrentando desafios como a pandemia.
Este ano, Sheinbaum lançou a sua candidatura à presidência do México propondo dar continuidade às políticas de López Obrador. Na segurança, defende o reforço da Guarda Nacional, criada pelo presidente mexicano para conter a violência e a criminalidade no país.
Ele também fala sobre a importância de manter a chamada “austeridade republicana”, política de López Obrador que visa reduzir os gastos públicos, combater a corrupção e promover a eficiência governamental.
A medida inclui cortes nas despesas operacionais do governo, como gastos com veículos oficiais, viagens, telefonia e outros serviços administrativos. Sheinbaum defende também o aumento dos gastos sociais e dos investimentos públicos para erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade no país.
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