O diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, disse que a decisão de reduzir os preços dos combustíveis é “técnica”.
— Hoje enfrentamos um cenário muito volátil. Nossa estratégia leva em consideração nossos ativos, logística e cotações internacionais. E também levamos em conta a nossa participação de mercado, medindo isso. A volatilidade é muito alta. Nosso objetivo é manter essa volatilidade. Não antecipamos novidades quanto a aumentos ou reduções. Acompanhamos tecnicamente, observando o mercado, que tem sazonalidades. A decisão é técnica e é uma decisão da Petrobras. Se necessário, é uma decisão técnica da empresa — afirmou.
Schlosser afirmou que a Petrobras não segue a paridade internacional de preços. Lembrou que, em Fevereiro, o preço do petróleo chegou a 94 dólares e, recentemente, caiu para 70 dólares, mas agora subiu para 75 dólares:
— Não seguimos mais o PPI. Consideramos todos os elementos. Essa volatilidade muda muito e cada agente econômico tem uma formação de preço. Temos uma logística internacional eficiente. Transportamos petróleo, o que nos dá uma vantagem competitiva, permitindo que o diesel seja competitivo com o diesel russo, que tem desconto devido a sanções e restrições. Nossa estrutura permite menores custos de fornecimento. Então ele oscila. Há momentos em que estamos acima e outros em que estamos abaixo. Esta é a estratégia que seguimos desde maio do ano passado.
Segundo ele, o diesel russo tem sido um forte concorrente no Brasil, respondendo por entre 80% e 90% do diesel importado.
— Há sazonalidade no mercado internacional. Neste segundo semestre, a Rússia tem colheita e inverno, e começa a reduzir a oferta de diesel. E as demais frentes têm preços mais elevados. Essas dinâmicas estão acontecendo e alterando os preços. Nossa estratégia é não repassar essa volatilidade. Se necessário, aumentamos ou diminuímos os preços. Ao nível das importações, verifica-se um ligeiro aumento devido à sazonalidade, que ocorre ao longo do segundo semestre.
Schlosser participa do painel “Os desafios do fornecimento futuro de combustíveis e biocombustíveis”, que acontece nesta terça-feira no ROG.e (antiga Rio Oil & Gas), um dos principais eventos de energia do país, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), no Rio de Janeiro.
— A Petrobras é uma empresa integrada de energia. O petróleo produzido no Brasil tem intensidade de carbono abaixo da média mundial. As reservas de petróleo serão monetizadas à medida que você integrar refinarias. É por isso que a integração do refino e da produção é tão importante. E o caminho mais rápido para a busca por biocombustíveis é essa integração.
Segundo ele, a estatal já oferece o R5, diesel com 5% de matéria-prima renovável em sua composição. São 10 milhões de litros por mês, disse o diretor.
— É um preço mais barato porque já está incluso no processo e não gera inflação. No R5 tivemos que fazer adaptações muito pequenas e ele foi integrado com um custo muito baixo. É um processo barato, pois utiliza o que existe. E é uma resposta rápida às necessidades da sociedade.
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Ele lembrou o projeto da refinaria Riograndense, com unidade 100% renovável para produção de plástico verde, além de potencial para gasolina e diesel renováveis. Além disso, mencionou o uso de sebo e óleos vegetais no sul do país. Ele disse ainda que há projetos de produção de SAF (combustível renovável de aviação) em Cubatão, em São Paulo, e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
— Existem grandes oportunidades e nichos a serem aproveitados. O Brasil tem três safras por ano. É um grande diferencial competitivo. Somos capazes de fornecer energia sem afetar o fornecimento de alimentos.
O diretor da Petrobras destacou ainda o bunker (combustível marítimo) com 25% de biocombustíveis em sua composição.
— A combinação de minerais e combustíveis líquidos é a melhor estratégia. Trabalhamos em conjunto com Raízen e Acelen. Estamos fazendo uma transição energética. Hoje somos exportadores de etanol, o que significa que há paridade de exportação. Temos tudo nas nossas mãos, mas temos visto que os blocos económicos impõem restrições. O desafio é quebrar esta situação e aceder aos mercados, que favorecem as opções locais. É preciso trabalhar em parceria e buscar a certificação para ser aceito.
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O diretor lembrou que recentemente firmou parceria com a Embrapa para fornecer certificação em diversas áreas que envolvem o agronegócio.
Ele destacou que os desafios de levar o biocombustível do Brasil para o exterior têm motivação geopolítica.
— A segurança energética é uma questão importante e podemos ser um fornecedor relevante, pois o nível de conflito aqui é muito baixo. Hoje, somos capazes de entregar a matéria-prima mais acessível do mundo. E já temos a tecnologia.
Transição energética
Juliano Tamaso, vice-presidente de cadeia de suprimentos da Raízen, empresa que é a maior produtora de etanol do mundo, também acredita que o país pode aproveitar seu potencial para fazer a transição energética.
— Temos um longo caminho a percorrer. Passamos mais tempo falando do Brasil do que das tecnologias em si. O Brasil tem uma posição única para ser protagonista nessa transição, mas as soluções aqui serão diferentes. Numa distância de 400 quilômetros, o caminhão elétrico não funcionará. Portanto, é necessário buscar soluções intermediárias.
Segundo Marcelo Cordaro, COO da Acelen Renováveis, o Brasil tem capacidade para se tornar um produtor global de biocombustíveis. Para ele, as empresas devem desenvolver novas tecnologias.
Ele citou o projeto da empresa de desenvolver diesel a partir da macaúba, planta nativa do Brasil.
— Acelen quer participar disso. O biocombustível é uma solução de substituição. Hoje, existem muitas soluções dependendo da localização e da disponibilidade, mas ainda não existe um biocombustível que possa substituir completamente o petróleo. Além disso, tem a questão da logística, por conta do custo.
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