Aos 92 anos, o jornalista e escritor Sebastião Nery morreu na madrugada desta segunda-feira (23), no Rio de Janeiro. Ele estava com a saúde debilitada há quatro meses e sua morte ocorreu por causas naturais. O velório acontecerá das 8h às 10h, no Cerimonial do Carmo, bairro do Caju, zona portuária, onde o corpo será cremado.
Nascido na cidade de Jaguaquara (BA), Nery foi um dos jornalistas políticos mais influentes da ditadura. Nasceu em 8 de março de 1932 no interior da Bahia, mas deixou sua cidade natal para frequentar um seminário em Amargosa (BA). Na década de 1950 mudou-se para Minas Gerais, onde iniciou sua carreira como jornalista.
Em 1963, Nery foi eleito deputado estadual pela Bahia, mas seu mandato foi cassado em 1964 pelo regime militar e ele passou um período preso. O político retomou o mandato, mas foi novamente cassado e perdeu os direitos políticos.
Com mais de 15 obras publicadas, Sebastião Nery escreveu pela primeira vez, em 1975, a coluna Contra Ponto, no jornal Folha de São Paulo, onde permaneceu até 1983. De 1978 a 1980, manteve um programa diário de comentários políticos sobre Rede Bandeirantes. Em 1979, levou sua coluna para a Última Hora.
Em junho de 1979, participou do Encontro de Lisboa, que tratou da reorganização do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sob a liderança de Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul. A iniciativa não teve unanimidade entre os trabalhadores. Em oposição a Brizola, um grupo liderado pela ex-deputada Ivete Vargas, também articulou a retomada do partido no Brasil.
Com a anistia decretada e o retorno de Brizola ao país, a disputa se intensificou. Em novembro de 1979, às vésperas do fim do bipartidarismo, ambos solicitaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o registro provisório do partido. Em maio de 1980, o pedido de Ivete prevaleceu e os brizolistas decidiram criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Fundador da nova associação, Nery foi eleito segundo vice-presidente da secção carioca do partido e secretário da executiva nacional. No mesmo ano, participou, junto com Jô Soares, da produção da peça Brasil – da censura à abertura, baseada na anedota do Folclore Político, nome comum a uma série de livros do jornalista Sebastião Nery, que traz histórias humorísticas relativas aos principais personagens da política nacional, a partir das quais foi escrito o roteiro da peça Brasil – da censura à abertura.
Em novembro de 1982, quando Leonel Brizola conquistou o governo do Rio de Janeiro, Nery foi eleito deputado federal com 111.460 votos, sendo o segundo mais votado do partido. Empossado em Brasília em fevereiro de 1983, foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a dívida externa brasileira e um dos organizadores da proposta de prorrogação do mandato do então presidente João Figueiredo e da volta das eleições diretas em 1986, juntamente com a convocação de uma assembleia constituinte nacional.
Fracassada a iniciativa, em 25 de abril de 1984 votou a favor da emenda Dante de Oliveira, que previa o restabelecimento das eleições diretas para Presidente da República em novembro. Após a derrota da proposta – faltavam 22 votos para que ela pudesse ser apreciada pelo Senado – no Colégio Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, Sebastião Nery apoiou o candidato da oposição Tancredo Neves, eleito pela Aliança Democrática, sindicato do Partido Democrata Brasileiro. Partido do Movimento Democrático (PMDB) com a dissidência do Partido Social Democrata (PDS) sediado na Frente Liberal. Doente,
Tancredo nunca foi empossado, falecendo em 21 de abril de 1985. Seu substituto foi o vice José Sarney, que já ocupava o cargo interinamente. Ainda em março de 1985, Nery foi expulso do PDT sob a acusação de assumir postura indigna da convivência partidária. O diretório nacional tomou a decisão por insistir em comprovar a existência de corrupção no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Rio de Janeiro.
Retornando à Tribuna de Imprensa após o encerramento do Última Hora, Nery fez de Brizola o principal alvo de suas matérias. Filiado ao PMDB, vice-líder do partido na Câmara, em novembro de 1985 foi candidato a vice-prefeito do Rio pelo recém-organizado Partido Socialista (PS) na chapa encabeçada por Rubem Medina, do Partido da Frente Liberal ( PFL), ambos derrotados por Saturnino Braga e Jó Resende, do PDT.
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