A última rodada da pesquisa Datafolha revela que o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), ampliou sua vantagem entre os eleitores de baixa renda, alcançando 31% das intenções de voto – 11 pontos a mais que Guilherme Boulos ( PSOL), que não viu o apoio do presidente Lula (PT) surtir efeito na periferia.
Na pesquisa de 12 de setembro, Ricardo Nunes registrava 27% de intenções de voto entre eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos. Em uma semana, o prefeito oscilou positivamente quatro pontos. Já Boulos tinha 21% e subiu para 20%, mantendo cenário estável. A margem de erro deste grupo é de cinco pontos percentuais, para mais ou para menos. Na última posição estão Pablo Marçal (PRTB), com 13%; José Luiz Datena (PSDB), com 9%; a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 7%; e Marina Helena (Novo), com 4%.
O cenário se inverte entre os eleitores de maior renda, com rendimentos acima de cinco salários mínimos. Nesse grupo, Boulos lidera com 34% da preferência dos paulistanos, enquanto o atual prefeito, Ricardo Nunes, registra 22%. A margem neste estrato é maior: sete pontos percentuais.
Até certo ponto, a situação de Boulos lembra a de Lula nas eleições presidenciais de 1989. Naquele ano, Lula concorreu ao Palácio do Planalto com Fernando Collor de Mello (na época PRN). Pesquisa Ibope feita às vésperas do segundo turno mostrava Collor com 51% das intenções de voto entre os eleitores que ganhavam até dois salários mínimos, enquanto Lula tinha 41%. Entre aqueles com renda de cinco a dez salários mínimos, Lula lidera com 51%, contra 40% de Collor. O petista acabou perdendo a disputa. Naquele momento, Lula avaliou que o PT havia conseguido conquistar parte da classe média, mas enfrentava dificuldades de conexão com os eleitores de menor renda.
Entrada de Lula tem efeito limitado para Boulos
Pesquisa Datafolha indica que a participação do presidente Lula nas eleições para prefeito de São Paulo teve, até o momento, efeito limitado na candidatura do deputado federal. Desde o início da campanha, em 16 de agosto, o líder dos moradores de rua oscilou na margem de erro e não conseguiu se consolidar como o candidato da periferia, segmento em que o atual prefeito tem ganhado espaço.
Os estrategistas de Boulos apostavam que a entrada de Lula na disputa atrairia o apoio dos eleitores de baixa renda ao psolista, tirando votos do atual prefeito. Mas esta expectativa, até o momento, não se confirmou. Segundo integrantes da campanha de Guilherme Boulos, o presidente Lula deveria intensificar a presença em São Paulo na reta final das eleições, participando de reuniões de rua ao lado do deputado federal, numa estratégia para fortalecer o apoio ao candidato do PSOL na periferia.
Os membros da campanha também avaliam que os eleitores de baixos rendimentos tendem a demorar mais tempo a decidir o seu voto, em comparação com os eleitores de rendimentos mais elevados. Isso porque, em tese, essa camada do eleitorado está mais preocupada com questões práticas do dia a dia, como estudos e trabalho. No entanto, os analistas políticos esperavam que Boulos começasse a ganhar apoio entre os eleitores de baixos rendimentos após 15 dias de campanha na rádio e na televisão. Essa expectativa foi reforçada pelo Datafolha no dia 12, quando o psolista subiu dois pontos percentuais. Porém, a pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 19, frustrou essas expectativas, pois o crescimento esperado não ocorreu.
O presidente marcava quase um encontro por mês com o líder dos sem-teto em São Paulo. A primeira vez que Lula subiu ao palanque do psolista foi em dezembro de 2023, durante a assinatura do contrato das obras do conjunto habitacional Copa do Povo, em Itaquera, Zona Leste da capital. Desde então, os dois dividiram o palco em diversos momentos, como no evento de adesão ao PT de Marta Suplicy e no evento da central sindical, quando Lula pediu voto ao candidato do PSOL e depois foi multado por propaganda eleitoral antecipada. A reunião mais recente ocorreu no mês passado, quando o presidente participou de comícios de Boulos e Marta em Campo Limpo e São Miguel Paulista.
Agendas de Lula com Boulos:
– Dezembro de 2023: presidente usou evento Minha Casa, Minha Vida para impulsionar candidatura de Boulos;
– Fevereiro: Lula participou, ao lado de Boulos, do ato de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT;
– Maio: Presidente esteve presente no evento da central sindical no Dia do Trabalho, onde fez pedido de voto para Guilherme Boulos;
– Junho: Lula e Boulos participaram de dois eventos no mesmo dia: em Itaquera, onde lançaram a pedra fundamental do campus Cidade Tiradentes do Instituto Federal, e no Jardim Ângela, para anunciar a criação de um novo campus do Instituto Federal ;
– Julho: Petista compareceu à convenção do PSOL que oficializou a candidatura de Boulos a prefeito de São Paulo;
– Agosto: Presidente participou de dois comícios de Boulos no mesmo dia, um em Campo Limpo e outro em São Miguel Paulista.
– Pessoas próximas a Boulos avaliam que sua atuação na periferia é a esperada, mas reconhecem a dificuldade de superação do prefeito, que segundo elas tem a máquina pública a seu favor. A expectativa é que a presença de Lula em pelo menos mais três agendas de Boulos ajude o psolista a ganhar mais força neste eleitorado.
Tanto Boulos quanto Nunes tentam reforçar a ideia de que estão ligados à periferia. O psolista, embora seja filho de médicos infectologistas, tem histórico de militância no movimento de moradores de rua e mora há anos em Campo Limpo, na Zona Sul da capital, com a esposa, nascida e criada no vizinhança. O prefeito, por sua vez, tem destacado em sua propaganda nos horários eleitorais livres que é “uma criança da periferia” e nasceu no Parque Santo Antônio, também na Zona Sul da cidade.
Márcia Cavallari, diretora-presidente do instituto de pesquisa Ipec, afirma que o apoio de um presidente ou governador não necessariamente ajudará um candidato a prefeito. “A lógica da eleição municipal é diferente. É o dia a dia da cidade, o que funciona e o que não funciona”, explica.
Segundo Cavallari, o senso comum de que a periferia é de esquerda caiu por terra nas eleições de 2016, quando o então tucano João Doria foi eleito no primeiro turno, vencendo também na periferia da cidade. “Se a atuação da prefeitura for percebida como positiva pela população que mora na periferia da cidade, certamente o prefeito será reconhecido por isso”, afirma.
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