O candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) precisava de um novo fato político para ganhar impulso na disputa eleitoral, apontam especialistas ouvidos pelo Transmissão Política (Sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). A cadeira que Marçal assumiu de José Luiz Datena (PSDB) foi o ápice de uma escalada de insultos entre os dois candidatos no debate da TV Cultura, incluindo a menção a uma acusação de assédio sexual sofrida pelo apresentador em 2019.
Segundo Eduardo Grin, especialista em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marçal parece ter buscado criar um episódio que chamasse a atenção da mídia e o posicionasse como um estranho atacado pelo sistema. “A intenção era gerar um fato político que o colocasse como vítima, principalmente porque estava perdendo espaço nas pesquisas”, disse.
Para Grin, a repercussão desse acontecimento pode dar ao influenciador algum fôlego no curto prazo, permitindo que ele se posicione como o único candidato que “fala a verdade”, e não é conivente com o sistema partidário. Além disso, pode haver queda na rejeição de candidatos, que já chegou a 44% no Datafolha na semana passada.
Flavia Biroli, professora de Ciência Política da Universidade de Brasília, acredita que Marçal sempre se beneficia com a visibilidade, mesmo que o público a perceba como negativa. “O espetáculo de ontem beneficia uma extrema direita que opera com essa imagem. Aposta nas redes, busca se fazer notar independente de sua capacidade política e de suas propostas”, explica.
Até o momento, mais de 20 conteúdos diferentes sobre o episódio foram publicados no Instagram do candidato. É mais que o dobro da soma de todos os outros candidatos. Além disso, o vídeo que mostra Marçal a ser levado de ambulância para o hospital após o ataque já ultrapassou os 11 milhões de visualizações.
Contudo, a professora faz uma ressalva. “Ao mesmo tempo, há um risco. Qual é a linha tênue do pastiche que os eleitores podem não cruzar com isso?” ela pergunta.
Trata-se de uma tentativa de posicionamento discursivo semelhante ao que aconteceu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018, quando o esfaqueamento lhe deu enorme exposição na mídia, apesar do espaço limitado no horário eleitoral livre.
Nesse sentido, o influenciador comparou as agressões sofridas no debate da TV Cultura aos ataques sofridos por Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump em sua conta no Instagram. O ex-presidente dos EUA e atual candidato às eleições deste ano pelo Partido Republicano foi alvo de um ataque a tiros durante um comício na Pensilvânia este ano.
Segundo o professor de Teoria Política da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (FESPSP) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Paulo Niccoli Ramirez, essas comparações são infundadas. “Vimos em outros debates o uso de acusações bizarras que afetam não só a figura política, mas a vida pessoal desses políticos. Trump nunca atacou diretamente a masculinidade de Joe Biden. Nem Bolsonaro atacou Lula num contexto tão íntimo”, afirma. . Portanto, a repercussão da agressão sofrida pelo ex-técnico deverá encontrar um caminho próprio e difícil de prever.
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