A nova rodada de pesquisas indica alguma mudança ou tendência de mudança significativa no cenário em relação à última pesquisa ou há um quadro consolidado faltando poucos dias para a eleição?
Os resultados deste segundo turno da Pesquisa Folha/IPESPE sobre a eleição no Recife ficam estáveis em relação ao levantamento realizado em agosto, após as convenções que oficializaram as candidaturas. Com oscilações de no máximo 1 ponto percentual no número de intenções de voto estimuladas dos candidatos, incluindo a de João Campos, que variou entre os já elevados 76% e os 77%, podemos dizer que a situação está consolidada neste momento do disputa, sendo quase garantida – a menos que ocorra algum acontecimento absolutamente inesperado – a reeleição do atual prefeito no dia 6 de outubro, com votação significativa.
Podemos dizer que existe um cenário consolidado de vitória de João Campos no primeiro turno ou existe a possibilidade de uma disputa em dois turnos?
A ampla vantagem do candidato a prefeito João Campos, não apenas nos cenários de intenção de voto espontânea e estimulada, mas em todas as variáveis que vêm sendo monitoradas nas pesquisas Folha/IPESPE, já permite afirmar que a eleição será decidida em o 1º turno, com a maioria do eleitorado recifense devolvendo o titular para mais um mandato. Matematicamente e considerando o curto espaço de tempo até a eleição, não há como a soma das intenções de voto dos adversários reduzir suficientemente a diferença em relação ao líder para levar a disputa a um possível segundo turno.
Quais números de pesquisa estão por trás de um cenário tão favorável para João Campos?
Como mencionei, a grande vantagem de João Campos fica evidente na consistência de todos os números da pesquisa. Obviamente, para um candidato à reeleição, a variável mais correlacionada com a intenção de voto é a aprovação de sua gestão, que no caso de João chega a superlativos 87%, o que significa que praticamente 9 em cada 10 eleitores recifenses aprovam o trabalho do prefeito. Outro dado relevante é que, em ambos os turnos, ele é o candidato menos rejeitado (12%), enquanto seus principais adversários, Gilson Machado e Daniel Coelho, tiveram aumento nos índices de rejeição, provavelmente refletindo a reação dos eleitores às críticas. dada na propaganda eleitoral, sem ter conseguido até o momento diminuir a preferência pelo candidato do PSB.
O número de eleitores que se dizem mais propensos a votar no candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro é maior do que o voto no ex-ministro Gilson Machado. O mesmo acontece com Daniel Coelho, que conta com o apoio da governadora Raquel Lyra. Porque é que os candidatos da oposição não conseguem captar o potencial de voto dos seus principais apoiantes? A influência dos líderes políticos acabou ofuscada pelo favoritismo de João Campos ou ainda poderá ter impacto nas eleições?
O potencial de transferência de votos depende de um conjunto de fatores. A influência do apoio político pode ter impacto significativo em situações específicas e para determinados perfis de candidatos, o que não parece ser o caso nesta eleição em Recife. O apoio de figuras políticas ou líderes influentes pode ajudar a aumentar a exposição e a credibilidade de um candidato desconhecido ou com pouca base eleitoral, acrescentando uma espécie de selo de qualidade. Também em disputas acirradas ou polarizadas, os endossos podem ajudar a atrair eleitores indecisos. Outro exemplo são os candidatos que procuram legitimação, devido à falta de experiência ou porque enfrentam desafios de credibilidade, pelo que o apoio de políticos experientes ou de figuras respeitadas pode proporcionar um impulso importante. Ou os candidatos que pretendem suceder a um político popular podem beneficiar diretamente do apoio dessa figura e do conceito de continuidade. Repito, nenhuma destas hipóteses se aplica, de forma decisiva, à disputa atual. Mas, independentemente disso, é de se esperar que, sobretudo, o candidato Gilson Machado ainda consiga crescer, na reta final, no eleitorado bolsonarista com votos mais ligados ao posicionamento ideológico. Já Daniel Coelho parece ter mais dificuldade em encontrar espaços para avançar.
Dani Portela tenta se posicionar como única candidata de esquerda e apoiadora do presidente Lula nas eleições. Porém, sua rejeição é grande e ela não conseguiu atrair os votos dos apoiadores de Lula. O que poderia ter causado o alto índice de rejeição e falta de identificação entre os eleitores de Lula e a parlamentar?
A rejeição de um candidato tem diferentes componentes, desde atributos de imagem, posicionamento político-partidário, até envolvimento em denúncias, entre outras vulnerabilidades, que os estudos qualitativos ajudam especialmente a identificar. No caso de Dani Portela, com base nos dados levantados pela pesquisa Folha/IPESPE, é possível inferir que o desconhecimento sobre ela contribui para a rejeição, o que provavelmente reflete na ideia de inexperiência, levando os eleitores a não aceitarem riscos. Quanto ao apoio do presidente Lula, ele já o declarou publicamente ao candidato João Campos, incluindo demonstrações públicas de simpatia e proximidade, o que minimiza o potencial do candidato do PSOL de se beneficiar deste fator entre o eleitorado de esquerda.
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