O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a cerimônia de devolução do manto Tupinambá ao Brasil, realizada nesta quinta-feira no Rio, para criticar o Congresso por derrubar seu veto ao Marco Temporal.
No final do ano passado, numa derrota para o governo, os parlamentares devolveram validade a um trecho do projeto de lei que define que apenas poderão ser demarcadas Terras Indígenas já ocupadas no momento da promulgação da Constituição de 1988.
Ao falar durante evento na Quinta da Boa Vista, Zona Norte da capital fluminense, Lula ressaltou que “fez questão de vetar esse ataque aos povos indígenas”. O petista afirmou ainda que “imaginava que o Congresso não teria coragem de derrubar” sua decisão.
—Assim como você, também sou contra a tese do Marco Temporal. Fiz questão de vetar esse ataque aos povos indígenas. Mas o Congresso Nacional derrubou meu veto. Às vezes as coisas são mais fáceis de falar do que fazer. Vejam a dificuldade de eleger um deputado indígena. Quando vetei o Marco Temporal, imaginei que o Congresso não teria coragem de derrubar meu veto, e ele teve. A maioria dos parlamentares não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com as grandes fazendas — destacou Lula.
Mais adiante, porém, o presidente defendeu que é preciso “cumprir a Constituição e as regras do jogo”, mas negou que haja “subserviência para se manter no poder”. Ele lembrou que o governo não tem maioria no Congresso e que, por isso, é preciso “conversar com quem não gosta de mim”.
— Não há subserviência aqui para permanecer no poder. O que temos é inteligência política. Tenho um partido com 70 deputados entre 513. Tenho nove senadores entre 81. Para aprovar as coisas sou obrigado a conversar com quem não gosta de mim. Se há uma coisa de que tenho muito orgulho (é disso). O presidente não pode simplesmente fazer um discurso. Ele tem que cumprir a Constituição e as regras do jogo. Ele tem que respeitar as decisões do Congresso e dos Tribunais, e ao mesmo tempo preservar e lutar — afirmou.
Lula também buscou criar um contraponto entre sua gestão e a de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL):
— Não se pode esquecer que há pouco tempo substituímos um ministro do Meio Ambiente que dizia que era preciso abrir as portas para o agronegócio invadir a Amazônia. Colocamos uma companheira da qualidade da Marina (Silva).
Objeto sagrado do povo Tupinambá, o manto retornou do Museu Nacional da Dinamarca no dia 11 de julho e está instalado em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional, localizada na Quinta da Boa Vista. Presentes na cerimônia, os indígenas cantaram uma música pedindo a demarcação das terras pouco antes do início do evento. “Senhor Presidente, devolva a nossa terra”, pediram.
Paes não comparece
O candidato de Lula na disputa pela prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PSD) era esperado na cerimônia, mas não compareceu.
No palco, porém, estavam nomes próximos ao candidato à reeleição, como o deputado federal Pedro Paulo (PSD) e o secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero.
Principal representante da esquerda na disputa carioca, Tarcísio Motta (PSOL) esteve presente no evento. Ele tenta atrair dissidentes petistas do Rio para sua campanha —o que aconteceu, por exemplo, com o deputado federal Lindbergh Farias.
Diferentemente de outros psolistas, como o deputado federal Chico Alencar, Tarcísio não apareceu próximo do presidente durante toda a cerimônia.
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