Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está estudando meios legais para confiscar terras pertencentes aos autores de incêndios florestais criminosos no país, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, nesta quarta-feira.
Segundo o ministro, os estudos são inspirados na lei que permite o confisco aos proprietários que exploram trabalho análogo ao escravo em suas terras.
Marina não deu prazo para a conclusão desses estudos, nem disse quando uma proposta nesse sentido poderá ficar pronta, mas defendeu a necessidade de endurecer as leis que prevêem punições para os autores de incêndios criminosos. Atualmente, disse o ministro, a pena máxima é de cinco anos de prisão.
“Quem fez a queima criminosa terá que pagar. Estamos estudando medidas para aumentar a pena, há até discussão de que poderia ser aplicado o mesmo estatuto que se aplica a situações análogas à escravidão, em que aquela terra é confiscada, volta ao domínio do Estado para quem comete incêndio criminoso que é claramente criminoso”, disse ela aos jornalistas num evento do G20 sobre bioeconomia.
“Isso está dentro da nossa sala de situação. É um debate que está sendo feito. Numa democracia não se faz pirotecnia, temos que ver toda a base legal e o que sustenta uma ação dentro do Estado Democrático de Direito”.
O ministro afirmou ainda que foram abertos pelo menos 32 inquéritos para apurar incêndios de origem criminosa no país. Ela disse que os incêndios que se espalharam pelo Brasil este ano, principalmente na Amazônia e no Pantanal, mas também em outras regiões, como o interior de São Paulo e outras áreas do Centro-Oeste, como Brasília, são uma aliança entre a seca, causada pelas alterações climáticas, e a criminalidade.
“Este ano e o ano passado houve uma queda de 60% no desmatamento entre os dois anos, mas o crime, sabendo que a floresta está perdendo umidade, fazendo aliança com as mudanças climáticas, ateia fogo na floresta, para destruir a floresta sem ter que desmatar”, afirmou.
“Os sucessivos incêndios fazem a floresta perder o vigor, o capim é derrubado, os animais são criados e há pressão para regularização fundiária. Esse sangramento de área ocupada ilegalmente é algo que tem que ser estancado definitivamente para não gerar ganho ou vantagem com esta forma criminosa de degradar a floresta.”
Marina admitiu que até ao final do período de seca, entre Outubro e Novembro deste ano, a situação dos incêndios continuará “difícil” e que haverá muito trabalho pela frente.
Em agosto deste ano, o número de incêndios na área brasileira da floresta amazônica bateu recorde ao atingir o maior nível desde 2010, mostraram dados do governo federal.
Satélites detectaram 38.266 incêndios na Amazônia em agosto, mais que o dobro do ano anterior e o maior número para o mês desde 2010, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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