O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (10) que criará uma Autoridade Nacional do Clima para atuar diante de eventos naturais extremos. A afirmação foi feita em Manaus, durante reunião com dezenas de prefeitos amazonenses. O estado vive mais uma vez o drama da seca, que atinge 61 dos 62 municípios, que tiveram reconhecimento federal da situação de emergência por conta da seca. Segundo Lula, também deverá ser observado um novo plano nacional de enfrentamento aos desastres ambientais causados pelas mudanças climáticas.
“Nosso objetivo é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas, com base no Plano Nacional de Combate aos Riscos Climáticos Extremos. Nosso foco precisa estar na adaptação e na preparação para o enfrentamento desses fenômenos. e um Comitê Técnico-Científico que apoia e articula a implementação desse plano pelo governo federal”, afirmou Lula durante o evento.
Além de prefeitos, o encontro contou com a presença do governador Wilson Lima, parlamentares e diversos ministros do governo.
A Autoridade do Clima, que funcionaria como órgão federal, com recursos e funcionários próprios, é um projeto mencionado desde a eleição de Lula, ainda em 2022, e chegou a ser debatido durante a transição governamental. Até o momento, porém, a ideia não saiu do papel. Os desastres ambientais no Rio Grande do Sul e, agora, na Amazônia, fizeram com que a medida voltasse à agenda do governo.
“Neste momento, vivemos uma combinação perversa de alguns fatores que, combinados, estão criando esta situação. O primeiro deles é o problema das mudanças climáticas, que está mudando o regime de chuvas, que está mudando o período de seca e cheia, como vocês estão observando. Uma vez chove demais, outra vez chove pouco. Junto a isso temos o problema do desmatamento, das queimadas, que acaba piorando ainda mais a situação”, destacou o Ministro do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. , Marina Silva.
Segundo o ministro, os incêndios já afectaram 1,1 milhões de hectares de floresta primária, provando que a floresta húmida já não está imune ao fogo. “Isso é uma prova de que a floresta está perdendo umidade, e esse é um fenômeno que ainda nem sabemos como lidar”, disse ela.
Fundo Global
Além de reafirmar a adoção de medidas como regularização ambiental, regularização fundiária e plano de desenvolvimento sustentável, Marina Silva falou na criação de um Fundo Global para a proteção das florestas tropicais, que deverá disponibilizar 300 milhões de dólares para a preservação ambiental. Segundo ela, deverá estar operacional a partir do próximo ano, quando o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém.
“Vou ver, se Deus quiser, muitos governadores e prefeitos calculando na ponta do lápis: ‘quantos hectares eu tenho de floresta preservada para fazer jus aos recursos que virão desse fundo’. [O fundo] É uma iniciativa do presidente Lula, porque ele disse que quer desmatamento zero, emprego, renda e combate à pobreza também”, observou.
Comunidades em seca
Ao longo do dia, Lula e sua comitiva de ministros visitaram as comunidades de São Sebastião do Curumitá e Campo Novo, no município de Tefé, e Manaquiri, em Manaus, para conversar com moradores e anunciar medidas de combate à seca na região. Durante suas visitas, o presidente fez questão de sentar para conversar com a população, ouvir reclamações e demandas de quem vive uma seca histórica e extrema, que inviabilizou a navegação fluvial e afetou o acesso a produtos essenciais. Cerca de 310 mil pessoas na Amazônia foram diretamente afetadas pela seca deste ano.
Entre os anúncios do governo federal está a distribuição de 150 purificadores de água portáteis, doados por empresas privadas e produzidos pela startup paulista PWTech. Transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB), os purificadores foram entregues ao governo do estado e à Associação de Municípios do Amazonas. Cada equipamento tem capacidade para purificar até 5 mil litros de água por dia.
Outro anúncio foi o início de quatro obras de dragagem de manutenção nos rios Amazonas e Solimões. Dentro de cinco anos, serão investidos R$ 500 milhões para garantir a navegabilidade segura e o escoamento de insumos, para reduzir os efeitos da forte seca que atinge a região. As obras fazem parte de ações em resposta à pior seca enfrentada pela Amazônia em 45 anos.
Ao longo do dia, Lula também se comprometeu a acelerar as negociações e discussões em torno da reconstrução da rodovia federal BR-319, que liga Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, em Rondônia. A pavimentação da rodovia é motivo de polêmica há décadas, pois atravessa uma região ambientalmente sensível da floresta amazônica.
Ainda na reunião com os prefeitos, o presidente assinou um decreto que prevê a criação do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Federal, vinculado ao Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo, que deverá monitorar as ações de controle e combate aos incêndios florestais. O governo federal, em conjunto com os governos dos estados da Amazônia Legal, montará frentes de atuação nas regiões que vivenciam o maior número de queimadas e incêndios florestais no bioma neste momento.
Os focos de incêndio na Amazônia Legal, só neste ano, ultrapassaram os 63 mil casos até o início deste mês, no pior ano da série histórica já medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Bolsa Família
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, anunciou a antecipação do pagamento do Bolsa Família para 17 de setembro, primeiro dia do calendário, para beneficiários do Amazonas. “A Caixa Econômica Federal já disponibilizará R$ 494 milhões para serem pagos a 656 mil famílias em todo o estado do Amazonas”, afirmou.
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