A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara adiou para esta terça-feira a votação do projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
O adiamento foi considerado uma vitória dos apoiadores do governo, que apresentaram três pedidos extra-agenda para adiar a análise do texto. Os apoiadores do governo também aproveitaram acordos que permitiram que uma ala de parlamentares do União Brasil fosse afastada da CCJ durante a sessão.
Marcada por discussões e trocas de acusações entre deputados, a sessão terminou com o início da Ordem do Dia no plenário da Câmara.
Como não foi necessário solicitar a revisão do projeto para adiar a análise do texto, a expectativa é que governantes façam uso desse recurso na sessão desta quarta-feira, o que obrigaria a votação do tema a ocorrer somente após as eleições municipais.
A oposição levou à sessão da CCJ familiares de Cleriston Pereira da Cunha, réu no dia 8 de janeiro falecido no Complexo da Papuda.
Com cartazes, parentes dele e de outros presos pediam liberdade. Em um dos momentos de debate, a presidente da CCJ, apoiadora de Bolsonaro Caroline de Toni (PL-SC), afirmou que “a população quer anistia”. A postura gerou indignação por parte dos governantes, que contestaram a isenção de De Toni de presidir a sessão.
— É lamentável ser presidido por alguém sem um mínimo de imparcialidade. Lamento muito que um tema como esse seja tratado dessa forma — disse Chico Alencar (PSOL-RJ).
Em mais de uma ocasião, De Toni negou ter respondido aos parlamentares. Nikolas Ferreira (PL-MG) ainda mostrou uma foto de Guilherme Boulos (PSOL-SP) e disse que ele era, sim, um terrorista. O fato gerou reações de apoiadores do governo, que pediram que a palavra não lhe fosse novamente concedida.
Do lado da oposição também houve manobras para que o tema fosse analisado, o que não aconteceu. O PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), trocou três deputados que integram a CCJ. O PL, partido de Jair Bolsonaro, reconduziu quatro deputados, substituindo parlamentares que não estavam em Brasília.
O projeto
O projeto que anistia os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, em análise pela CCJ, registra que os invasores das sedes dos três Poderes “atuaram sob ‘efeito manada’, pois não souberam expressar eles mesmos”.
Em relatório apresentado pelo deputado Rodrigo Valadares (União-SE) nesta terça-feira, o parlamentar afirma que a aprovação da nova legislação é importante para “garantir o alívio institucional” e a “pacificação política”.
Se a proposta for aprovada pelo Congresso, serão anistiados “todos aqueles que participaram nas manifestações” a partir de 8 de janeiro “com motivação política e/ou eleitoral”, bem como os financiadores e apoiantes dos atos.
Também serão nulas as “medidas de restrição de direitos”, como o uso de tornozeleiras e a comunicação entre arguidos, bem como a suspensão de perfis e contas nas redes sociais.
Segundo o relator, os acontecimentos de 8 de janeiro “foram inflamados principalmente pelo sentimento de injustiça que muitos brasileiros sentiram após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2022”.
“Grande parte dessa indignação se deveu ao fato de muitos terem vivenciado a derrota pela primeira vez em uma disputa eleitoral (entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva), devido ao aumento do interesse da nossa população pela política”, afirma Valadares no relatório.
Ainda segundo o relator, os manifestantes “não souberam manifestar o seu desejo de liberdade e de defesa de uma democracia verdadeiramente representativa, catalisando a sua indignação de forma exacerbada e causando danos ao património público e ao património histórico e cultural através de uma ‘ efeito rebanho’”.
Para defender a atuação dos manifestantes, a oposição cita mesmo o alegado crime de “multidões”, tese que o relator reconhece como “embrionária”, mas “defendida por alguns juristas”.
“Ficam garantidos os direitos políticos, bem como a extinção de todos os efeitos decorrentes das condutas que lhes são atribuídas, sejam elas civis ou criminais, para as pessoas beneficiadas por esta lei”, diz trecho do projeto de lei.
Segundo o texto, após a aprovação da lei, “a autoridade judiciária responsável pelo processo deverá declarar extintas a pena e todos os seus efeitos”.
Para justificar a relevância da anistia, o relator cita ainda uma declaração do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que afirmou que os ataques aos Poderes foram “uma espécie de ‘arrastão na Praça dos Três Poderes’”.
Segundo o relator, o dia 8 de janeiro “foi tratado com rigor excessivo e não com o critério legalista e garantidor que tem sido adotado como jurisprudência pelo Supremo, mas com o critério ideologicamente punitivo”.
Para justificar a anistia, o relatório cita ainda pessoas que “entram nos prédios para sua própria segurança e proteção”, além da condenação de moradores de rua e idosos.
Em outro trecho, o projeto também pode significar que parte dos processos relacionados ao tema deixem de tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nos casos em que pessoas com e sem foro privilegiado são julgadas pelo mesmo tribunal, os processos devem ser julgados com a mesma celeridade.
Esta foi uma exigência da oposição, que apelou à criação de regras que estabelecessem que as pessoas sem jurisdição só poderiam ser julgadas simultaneamente ou depois das pessoas com jurisdição.
Em evento realizado na Avenida Paulista neste sábado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu anistia aos condenados pelos atentados de 8 de janeiro e chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos em que é investigado, de ditador.
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