Mike Benz, ex-subsecretário adjunto para Comunicações Internacionais e Política de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, interpretou as reportagens fora do contexto
Errôneo
Miguel Mercedesex-secretário de Trunfopublicou capturas de tela em seu perfil no X sugerindo interferência do Departamento de Estado dos EUA nas eleições de 2022 no Brasil e alegando que o governo americano havia construído as urnas utilizadas no país. Embora as imagens não tenham sido manipuladas, foram retiradas do contexto para sugerir apoio pró-Lula, comparando-o ao golpe de 1964. O TSE informou que os equipamentos utilizados em 2022 foram inteiramente fabricados no Brasil.
Conteúdo investigado: Publicação – retuitado por Elon Musk – em que Michael Benz, ex-secretário de Donald Trump e influenciador de direita, sugere que o governo dos Estados Unidos teria interferido diretamente no resultado das eleições federais brasileiras de 2022 para favorecer o candidato eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Onde foi publicado:X.
Conclusão do Comprova: Publicação do ex-secretário e influenciador de direita de Donald Trump, Michael Benz, usa capturas de tela de reportagens do Financial Times e da Reuters, destaca trechos das matérias e os tira do contexto para dizer que as urnas eletrônicas usadas no Brasil durante as eleições de 2022 teria sido construído pelos Estados Unidos “para autoridades brasileiras pró-Lula”.
Os temas abordados nas matérias, porém, não dizem respeito à construção de urnas. Os relatórios em questão, aliás, falam de “a campanha discreta dos Estados Unidos em defesa das eleições brasileiras” e a Agência Central de Inteligência (CIA) disse ao governo Bolsonaro “não mexer com as eleições no Brasil”.
Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), urnas eletrônicas Modelo UE2020utilizados nas eleições gerais de 2022 – bem como os modelos utilizados em todas as eleições brasileiras desde a adoção do modelo digital – foram de fabricação inteiramente brasileirafeito por Tecnologia Positiva.
O Comprova não entrou em contato com o responsável pela publicação porque X não está disponível no Brasil.
Errôneopara o Comprova, é um conteúdo retirado do contexto original e utilizado em outro para que seu significado mude; que utilize dados imprecisos ou que leve a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunda, com ou sem intenção deliberada de causar danos.
Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Entre 30 de agosto (data da publicação) e 6 de setembro, a postagem teve 10 milhões de visualizações, 18 mil curtidas, 9,1 mil compartilhamentos e 687 comentários.
Fontes que consultamos: O Comprova consultou as duas reportagens citadas pelo autor da postagem, que foram publicadas pela agência internacional de notícias Reuters e o jornal americano Tempos Financeiros. Além disso, pesquisou a montagem de urnas eletrônicas por Site do TSE. Informações sobre Mike Benz foram encontradas no site da Foundation For Freedom Online.
Urnas eletrônicas e seus chips
A montagem das urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras é feita no Brasil – em Manaus (AM) e Ilhéus (BA) –, mas alguns dos componentes utilizados são adquiridos de outros países, como chips, feitos com materiais semicondutores, por exemplo.
Para as urnas modelo UE2020, os semicondutores foram adquiridos da empresa taiwanesa Nuvoton e da americana Texas Instruments, segundo duas fontes ouvidas pelo relatório do Financial Times utilizado por Benz nas postagens investigadas.
O relatório destaca ainda que a única participação dos Estados Unidos, no que diz respeito às pesquisas, foi o pedido às autoridades taiwanesas e figuras da Texas Instruments para que dessem prioridade à demanda brasileira por essas peças.
As justificativas para as solicitações às empresas em questão foram as “impacto nas eleições democráticas” e o crise de escassez de materiais devido à pandemia. Um dos trechos publicados por Benz descreve justamente essa ação, mas o autor do post não a destacou, utilizando ferramentas gráficas para chamar a atenção do leitor apenas para outros trechos do material. Benz também não contextualiza os relatos citados.
A ação dos EUA foi tomada antes das eleições
Conforme descrito pelas fontes ouvidas pelo Relatório do Financial Timesque tinha um tradução publicada pela Folha de S. Paulotoda a ação norte-americana ocorreu antes das eleições, com o objetivo de contribuir para a lisura do processo eleitoral e evitar que os resultados fossem questionados, como ocorreu nos EUA após a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump em 2020.
“O objetivo era reforçar duas mensagens consistentes para os inquietos generais brasileiros e aliados próximos de Bolsonaro: Washington teve uma posição neutra sobre o resultado da eleição, mas não toleraria qualquer tentativa de questionar o processo de votação ou o resultado”, diz o relatório. Este trecho foi omitido por Benz em suas postagens.
Os últimos esforços dos americanos foram manter comunicação com aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que o fizessem desistir de qualquer manifestação que visasse contestar o resultado eleitoral – enquanto depois da eleição, a única posição adotada pelos Estados Unidos Unidos deveria propor uma declaração conjunta com o Canadá e o México, tendo em vista os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Quem é Mike Benz
Michael Benz foi vice-secretário adjunto para comunicações internacionais e política de informação no Departamento de Estado dos Estados Unidos durante a administração Donald Trump e é Diretor Executivo da Fundação para a Liberdade Online (FFO), uma organização não governamental que afirma ter como objetivo “defender a liberdade digital”.
O trabalho de Mike Benz ganhou destaque após ser citado em audiências no Congresso dos EUA e promovido por Elon Musk, atual proprietário da X, como explica NBC News.
Pela sua visibilidade, Mike Benz tornou-se uma personalidade de referência nas críticas republicanas à administração Biden e ao que chamam de “censura nas redes sociais”.
Por que o Comprova investigou esta publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Ao detectar algum tema nesse monitoramento que está sendo retirado de contexto, o Comprova contextualiza o assunto. Você também pode sugerir verificações por WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras verificações sobre o tema: O Comprova já realizou uma verificação relacionada à matéria do Financial Times, devido a uma postagem que era enganosa ao afirmar que o Estados Unidos interferiram em nome de Lula nas eleições. O projeto também verificou diversas publicações relacionadas às urnas eletrônicas, como informações falsas que uma dispositivo mudou o voto e sobre o TSE já grampeou mais de 30 mil máquinas.
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