O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou assessores do MRE (Ministério das Relações Exteriores) para falar sobre a escalada das tensões na Venezuela depois que o presidente do país, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela) desautorizou a custódia do Brasil sobre a embaixada argentina em Caracas.
Lula esteve com a secretária-geral do Itamaraty, a embaixadora Maria Laura da Rocha, e o assessor Audo Faleiro, número 2 do assessor especial para assuntos internacionais do petista, Celso Amorim – ele está na agenda internacional da Rússia, em reunião da alta cúpula representantes responsáveis pela segurança dos países do Brics.
O Planalto informou que o Brasil mantém a nota divulgada pelo Itamaraty, na qual afirma que o governo recebeu “com surpresa” a declaração da Venezuela revogando o consentimento do Brasil para projetar os interesses da Argentina.
O Brasil assumiu a representação da sede diplomática argentina no dia 1º de agosto, depois que o governo venezuelano ordenou a expulsão do corpo diplomático do país liderado por Javier Milei (La Libertad Avanza, à direita) e de outras 6 nações latino-americanas.
A medida ocorreu porque os governos desafiaram a legitimidade da reeleição de Maduro nas eleições de 28 de julho. O corpo diplomático e militar argentino deixou a Venezuela em resposta à notificação enviada.
O papel do Brasil na embaixada argentina é principalmente o de guardar as instalações e os arquivos. O país também se tornou responsável por garantir a proteção de 6 membros da oposição ao regime chavista, que estão abrigados na embaixada em Caracas.
O EXÍLIO DE GONZÁLEZ
O principal adversário venezuelano, Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita), trocou a Venezuela pela Espanha no domingo (8 de setembro). O assunto também esteve entre os temas discutidos por Lula com o Itamaraty.
A justiça venezuelana, controlada pelo presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, à esquerda), ordenou a prisão de González no dia 2 de setembro. O advogado não cumpriu três intimações do Ministério Público do país para esclarecer a libertação do ata eleitoral das eleições de 28 de julho de 2024. Em 5 de agosto, González declarou-se vencedor da eleição.
Em mais de uma ocasião, Lula disse não reconhecer o resultado das eleições presidenciais realizadas em 28 de julho no país, porque nem o governo nem a oposição conseguiram provar quem ganhou as eleições. O petista defende novas eleições, como uma espécie de 2º turno.
Leia a nota completa do Itamaraty:
“O governo brasileiro recebeu com surpresa a comunicação do governo venezuelano de que pretende revogar seu consentimento para o Brasil proteger os interesses da Argentina na Venezuela.
“De acordo com o disposto nas Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e Relações Consulares, o Brasil permanecerá sob custódia e defesa dos interesses argentinos até que o governo argentino indique outro Estado aceitável ao governo venezuelano para exercer as funções acima mencionadas.
“O governo brasileiro enfatiza neste contexto, nos termos das Convenções de Viena, a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina, que atualmente abriga seis requerentes de asilo venezuelanos, além de bens e arquivos.
ASSEMBLÉIA GERAL DA ONU
Segundo o Planalto, além de discutir a situação na Venezuela, o presidente Lula e assessores do Itamaraty falaram sobre a agenda internacional do chefe do Executivo na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que está marcada para 22 de setembro. , em Nova York.
VENEZUELA SOB MADURO
A Venezuela vive sob uma autocracia liderada por Nicolas Maduro61 anos. Não há liberdade de imprensa. As pessoas podem ser presas por “crimes políticos”. A OEA (Organização dos Estados Americanos) publicou nota em maio de 2021 (PDF – 179 kB) a respeito do “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciou abusos em outubro de 2022 (PDF – 150 kB), novembro de 2022 (PDF – 161 kB) e março de 2023 (PDF – 151 kB). Relatório da Human Rights Watch divulgado em 2023 (PDF – 5 MB) afirma que 7,1 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014.
Maduro nega que o país viva sob uma ditadura. Ele diz que há eleições regulares e que a oposição simplesmente não pode vencer.
As eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024 são contestadas pela comunidade internacional. O principal líder da oposição, Maria Corinafoi impedido em junho de 2023 de exercer cargos públicos por 15 anos. O Supremo Tribunal venezuelano confirmou a decisão em janeiro de 2024. Ele alegou “Irregularidades administrativas” supostamente cometidos quando ela era deputada, de 2011 a 2014, e por “conspiração de corrupção” por apoiar Juan Guaidó.
Corina indicou o aliado Corina Yoris para competir. No entanto, Yoris não conseguiu formalizar a sua candidatura devido a uma suposta falha no sistema eleitoral. O diplomata Edmundo González assumiu o papel de principal candidato da oposição.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, anunciou a vitória de Maduro em 28 de julho de 2024. O órgão confirmou o resultado em 2 de agosto de 2024, mas não divulgou as cédulas. O Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, controlado pelo atual regime, afirmou em 22 de agosto de 2024 que os boletins não serão divulgados.
O Carter Center, respeitada organização criada pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, considerou que as eleições na Venezuela “eles não eram democráticos”.
Os resultados foram posteriormente contestados pela União Europeia e por vários países, como os Estados Unidos, México, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. O Brasil ainda não reconheceu a eleição de Maduro em 2024, mas também não faz exigências mais duras como outros países que apontam para fraude no processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a dizer que não viu nada de anormal nas eleições do país.
A Human Rights Watch criticou os presidentes Lula, Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México) em agosto de 2024. Afirmou em carta enviada aos 3 que era necessário que reconsiderassem suas posições sobre a Venezuela. Ele também discordou das propostas dos líderes para resolver o impasse, como a realização de novas eleições e a concessão de anistia geral.
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