Um dos temas centrais da manifestação bolsonarista na Avenida Paulista ocorrida neste sábado, 7, foi a anistia aos golpistas condenados pelos atentados a Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023.
O benefício, que garante indulto aos criminosos que vandalizaram prédios públicos, foi defendido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e por outras figuras que discursaram no evento.
Uma proposta de lei que defende o indulto aos condenados por atos antidemocráticos, conhecida como “PL da Anistia”, já tramita no Congresso. Aliada próxima de Bolsonaro, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC) colocou o tema na pauta da sessão da próxima terça-feira, dia 10. No mesmo dia, outra sessão da CCJ deverá votar um pacote de Propostas de Emenda à Constituição que limitam as competências do Supremo Tribunal Federal (STF) – que também foi alvo prioritário durante a manifestação deste sábado, principalmente com ataques ao ministro Alexandre de Moraes.
Bolsonaro já havia defendido o perdão aos golpistas em outro evento que realizou em Paulista, em fevereiro. Neste sábado, o ex-presidente voltou a tocar no assunto e chamou o dia 8 de janeiro de “quadro”. Disse ainda que a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) “nunca foi um golpe de Estado”.
“Deus queria que eu saísse do país no dia 30 de dezembro. Algo ia acontecer. Tive essa sensação, mas não sabia que seria assim”, disse Bolsonaro, classificando o episódio de depredação como uma “catarse”.
“Aquilo nunca foi um golpe de Estado e ainda vemos pessoas a serem julgadas e condenadas como membros de um grupo armado que pretendia mudar o nosso Estado Democrático de Direito. E lamento que essas pessoas tenham sido presas”, concluiu o ex-presidente, reforçando a necessidade de a Câmara aprovar anistia para presos em 8 de janeiro.
Tarcísio de Freitas, por sua vez, afirmou que a anistia seria um “remédio político” para os condenados por vandalismo em Brasília. “Hoje estamos aqui, de novo na arena, de novo por uma devoção, por uma causa. Estamos aqui para fazer a diferença: e a nossa causa hoje é a liberdade, é a anistia para os condenados de forma desproporcional, cruel. disse o governador de São Paulo.
Outros aliados de Bolsonaro que discursaram no sábado também abordaram o tema, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que citou o empresário baiano Cleriston Pereira da Cunha, falecido após passar mal na prisão, e Débora Rodrigues dos Santos, relatou ao STF por ser flagrado escrevendo a frase “Perdeu, mané” na estátua da Justiça, durante ataques antidemocráticos em Brasília.
O tema também esteve presente nas camisetas de aliados, como os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Magno Malta (PL-ES), que estamparam a frase “Anistia já! Preso dia 8 de janeiro”.
Até o início deste ano, o projeto de lei que tramita na CCJ era denunciado pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que já havia divulgado parecer rejeitando a anistia. Porém, o parlamentar ficou de fora da Comissão neste ano e a relatoria passou para o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), por recomendação de Caroline de Toni.
Como mostra o Estadãoa escolha de Valadares fez parte de uma articulação do líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), como um gesto de aproximação com os bolsonaristas em meio à sua campanha para suceder Arthur Lira (PP-AL) como presidente do a Casa. Valadares é um apoiador de Bolsonaro, mas também um expoente de um partido do Centrão, transitando facilmente até mesmo entre partidos dentro da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O deputado ainda não apresentou parecer.
O que é anistia?
Prevista no Código Penal Brasileiro, a anistia é uma forma de eliminar a punibilidade de um crime. Em outras palavras, é a concessão de indulto a um crime cometido por um brasileiro ou grupo de brasileiros.
A Constituição brasileira prevê que os crimes que não podem ser anistiados são hediondos. Esta lista inclui crimes como homicídio, tráfico de crianças, violação, genocídio, tortura, tráfico de drogas e terrorismo.
Os vândalos já condenados no dia 8 de Janeiro tiveram a pena aplicada com base em associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, danos qualificados e deterioração de bens tombados. Nenhuma delas é considerada hedionda, o que abre espaço para a proposta discutida na Câmara e defendida pelos bolsonaristas no evento de sábado.
Como a anistia é aprovada?
Para ter validade, a anistia aos condenados em 8 de janeiro precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. Primeiro, a questão deve passar pela Câmara e depois pelo Senado. Depois de aprovado pelas duas casas, ainda será necessário ser sancionado pelo Presidente da República.
A anistia não é incomum na história política brasileira. Em 1979, o ex-presidente João Figueiredo, o último da ditadura militar (1964-1985), assinou um indulto que afetou 4.650 pessoas. Os beneficiários foram aqueles que cometeram crimes de motivação política, política ou eleitoral, além de crimes comuns relacionados a crimes políticos, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. O privilégio foi estendido aos militares que cometeram crimes de tortura e assassinato durante o regime.
Segundo o professor de direito constitucional Felippe Mendonça, o processo político necessário para a aprovação de uma anistia, que envolve a aprovação do Congresso e a sanção do presidente, torna improvável a possibilidade de o benefício ser concedido.
“Mesmo que tivéssemos um presidente de direita, ele provavelmente só concederia anistia neste caso no último dia de seu mandato, para evitar desgaste político”, disse.
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