O presidente Luiz Inácio Lula da Silva endureceu a reação pública à revelação de casos de assédio sexual do ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, ao perceber a repercussão das denúncias feitas pela ONG Me Too Brasil e ao convencer a primeira-dama Janja da Silva.
A princípio, Lula, ao tomar conhecimento do caso, entendeu que deveria inicialmente adotar a tese da presunção de inocência do agora ex-ministro em relação à suspeita de assédio à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Antes de tomar qualquer medida, o presidente quis aguardar explicações. Já julgado e preso, o petista tem o hábito de adotar essa postura quando um de seus auxiliares é acusado de alguma coisa.
Por isso, a primeira medida que Lula tomou foi pedir aos ministros Jorge Messias, da Procuradoria-Geral da República, e Vinicius Carvalho, da Controladoria-Geral da União (CGU), que ouvissem a versão de Almeida na quinta-feira. Naquele momento, Lula queria uma opinião da versão do ex-ministro enquanto ele estava fora de Brasília. Ao retornar ao Planalto, na sexta-feira, Lula já teria um parecer prévio de seus auxiliares sobre a situação.
Lula foi informado da revelação do caso quando estava de plantão em Uberlância (MG) no final da tarde desta quinta-feira. Após compromisso em Minas Gerais, voou para São Paulo para abrir a Bienal do Livro. Em poucas horas, a repercussão do caso junto à ONG Me Too e os alertas de Janja fizeram o presidente reconsiderar sua postura inicial.
A primeira-dama é a principal referência de Lula para questões relacionadas aos direitos das mulheres. Internamente, alas do governo também passaram a defender a rápida resposta de Lula ao caso para conter os danos à imagem do governo.
Janja é amiga pessoal de Anielle Franco e já estava ciente dos episódios. Segundo interlocutores, a primeira-dama teve que agir.
Na noite de quinta-feira, Janja postou uma foto ao lado de Anielle (foto acima), gesto que foi visto pelos ministros como uma sinalização da decisão que o governo tomaria sobre o caso.
Segundo o site Metrópoles, Almeida teria tocado a perna de Anielle Franco e lhe dado beijos inapropriados ao cumprimentá-la, além de usar palavras sexuais e palavrões.
A Me Too Brasil afirmou que “as vítimas enfrentaram dificuldades para obter apoio institucional para validar suas denúncias”. “Diante disso, autorizaram a confirmação do caso à imprensa”, diz a nota da entidade.
Lula chegou a Goiânia (GO), para entrevista à rádio Difosora, com um tom bem acima do que havia dado inicialmente às pessoas próximas. O presidente iniciou a entrevista tratando do caso e foi categórico ao afirmar que não era possível permitir a permanência de integrantes suspeitos de assédio no governo:
— Não posso permitir assédio. Teremos que descobrir corretamente. Não creio que a continuidade no governo seja possível, porque o governo não estará à altura do seu discurso de defesa das mulheres e de defesa dos direitos humanos, com alguém que está a ser acusado de assédio.
Lula afirmou ainda que “um erro pessoal” não pode prejudicar o governo.
— Não permitirei que o erro ou erro pessoal de alguém prejudique o governo. O assédio não pode coexistir com a democracia, o respeito aos direitos humanos e o respeito aos subordinados — afirmou.
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