Mesmo após o bloqueio da rede social X (antigo Twitter) no Brasil, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), os parlamentares continuam utilizando a plataforma e publicando postagens em seus perfis. É o caso de pelo menos 10 deputados e senadores, que postaram, sobretudo, mensagens contra Alexandre de Moraes, questionando a decisão e, alguns, até pedindo o impeachment do ministro.
Desde a última sexta-feira, 30, dia em que Moraes determinou a suspensão da rede, pelo menos 12 parlamentares publicaram em seus perfis:
Eduardo Girão (Novo-CE), Evair de Melo (PP-ES), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Gustavo Gayer (PL-GO), Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Jorge Seif (PL-SC), Júlia Zanatta (PL-SC), Marcel Van Hattem (PP-RS), Marcos do Val (Podemos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Rogério Marinho (PL-RN) e Sergio Moro (União-PR).
Todos os parlamentares foram abordados pelo Estadão para comentar a atividade na rede social suspensa. As respostas e notas enviadas estão no final deste texto.
O ex-juiz da Lava Jato, senador Sérgio Moro, por exemplo, escreveu em seu perfil na rede bloqueada que continuará postando conteúdos na rede por entender que tem “imunidade material por meio de opiniões, palavras e votos”, mas que pediu um amigo nos Estados Unidos para publicar para ele. “Até que a decisão judicial seja revista por sua ilegalidade e desproporcionalidade, pedi a um amigo nos EUA que postasse de lá na minha rede. Se a imprensa puder usar correspondentes, posso usar meus amigos no exterior”, escreveu o senador na noite de domingo, 1º de setembro. Desde então, o senador publicou três postagens.
A deputada federal catarinense Júlia Zanatta também afirmou estar postando online de um “correspondente internacional”.
Em inglês, o senador Flávio Bolsonaro pediu assinaturas para uma petição a favor do impeachment de Moraes, que será uma das principais pautas defendidas pelos apoiadores de Bolsonaro na manifestação organizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o próximo sábado, 7 de setembro. Dia da Independência. O filho do ex-presidente também afirmou, em outra publicação, que Moraes “é o grande câncer da democracia brasileira”.
O próprio bilionário dono da rede social tem feito postagens instando os bolsonaristas a aderirem ao protesto, que acontecerá na Avenida Paulista, e acusa Moraes, sem provas, de ter interferido nas eleições presidenciais brasileiras de 2022.
Repetindo Musk, o senador Rogério Marinho também pediu o ato bolsonarista, afirmando que “o que acontece na Venezuela poderia acontecer no Brasil”.
Outro parlamentar da linha de frente do bolsonarismo, Nikolas Ferreira publicou, em inglês, sobre estar ciente do risco de ser multado, mas disse que “não vai recuar”, afirmando que se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pudesse continuar postando no a rede, ele também tinha direito. O mesmo argumento foi usado por Gustavo Gayer, que postou uma captura de tela de uma postagem da Justiça Eleitoral, e em outra publicação afirma que a rede estava “bombando” após a decisão de Moraes.
O TSE fez postagens tanto no sábado quanto no domingo. Questionado por Estadãoa entidade afirmou que as postagens foram agendadas e, portanto, publicadas após determinação de Moraes.
O deputado Marcel Van Hattem afirmou em publicação do dia 31 que estava utilizando redes privadas virtuais, conhecidas como VPN, para driblar a suspensão. O deputado afirmou saber que a publicação pode custar US$ 10 mil, referindo-se à determinação de Moraes em multar quem usasse a ferramenta e afirmou que ali se iniciava uma “ditadura”.
Hamilton Mourão também criticou a decisão do ministro, afirmando que a determinação é “a mais desajeitada, abusiva e inconstitucional” já feita no país. “Os demais ministros e o Congresso Federal não podem ficar calados, porque se o fizerem serão cúmplices deste lamentável episódio da pseudodemocracia brasileira”, escreveu no final da tarde desta sexta-feira, 30. O senador e militar voltou a publicar nesta terça-feira, 3, comentando a decisão do governo Lula de incluir o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no desfile do 7 de Setembro, em Brasília – decisão que foi revista em resposta ao recuo do governo.
O senador Jorge Seif publicou frases de pensadores e ex-presidentes americanos sobre liberdade e tirania, além de acusar o Partido dos Trabalhadores (PT) de continuar usando a rede, assim como vinha fazendo.
Suspensão ‘imediata, completa e integral’
A determinação de Moraes ocorreu depois que X fechou seu escritório no Brasil e desobedeceu à ordem para nomear um representante legal para responder pelas atividades da empresa em território nacional. O dono da plataforma descumpriu uma série de ordens do ministro para bloquear perfis e conteúdos que disseminassem discursos de ódio.
Pela decisão, a plataforma permanece suspensa até que a empresa indique um responsável – pessoa física ou jurídica – pelas operações em território brasileiro e também pague os mais de R$ 18 milhões em multas aplicadas pelo STF por descumprir bloqueios de perfis na rede social.
O ministro estabeleceu multa diária de R$ 50 mil para quem tentar burlar o bloco X por meio de VPN – ferramenta que permite ocultar a localização do acesso à internet. Esses usuários também poderão enfrentar acusações criminais, de acordo com a decisão. O ministro voltou atrás horas após a decisão sobre a determinação de que provedores de internet e empresas como Apple (NASDAQ:) e Google (NASDAQ:) criem “obstáculos tecnológicos” ao aplicativo e às aplicações VPN, revogando o trecho.
Outro lado
Flávio Bolsonaro, em nota: “Não sou parte no processo conduzido e manipulado ilegalmente por Alexandre de Moraes. Não fui citado para apresentar minha possível defesa e não tive conhecimento de nenhuma decisão que me obrigasse a não fazer algo. Pelo que sei, a imprensa ainda não virou Diário Oficial e tenho imunidade parlamentar para minhas opiniões, palavras e votos, inclusive nas minhas redes sociais, por serem uma extensão do meu mandato. Alexandre de Moraes é obrigado a fazê-lo. seguir as leis brasileiras para tomar suas decisões e nenhum brasileiro é obrigado a segui-las com base nas leis alexandrinas, pois o Congresso Nacional não as aprovou e não foram sancionadas pelo Presidente da República.”
O senador Eduardo Girão disse à reportagem que houve um almoço entre senadores independentes da oposição que “tomaram a decisão” de continuar a utilizar a rede, por entenderem que faz parte da prerrogativa parlamentar. “Todos os senadores que estiveram no almoço e outros continuam tuitando porque é uma extensão da nossa prerrogativa, do mandato de falar com as pessoas, mostrar o que estamos fazendo e isso, num país livre como o nosso, é uma questão essencial” , disse ao Estadão.
O senador Hamilton Mourão disse à reportagem que, como parlamentar, possui imunidade material e que o X é “fundamental para a comunicação” do seu mandato.
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