Na decisão que suspendeu X, na última sexta-feira (30), Moraes estabeleceu multa diária de R$ 50 mil para pessoas físicas e jurídicas que tentarem acessar a rede social por meio de VPN.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) apresentou, nesta terça-feira (3), um novo pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra decisão de Alexandre de Moraes que impõe multa a quem usar X (ex-Twitter) por meio de VPN ( rede privada virtual). Desta vez, o despacho apresentou um tipo de ação que é analisada pelo plenário do tribunal – e não apenas por Moraes.
Na peça, a entidade solicita a suspensão da medida e a revisão do trecho referente à multa pelo uso de VPN na decisão da Primeira Turma do STF que, na segunda (2), validou o despacho de Moraes.
Na decisão que suspendeu as sanções civis e criminais.
Para a OAB, a determinação estabelece uma sanção genérica e abstrata e, assim, cria um delito com potencial de atingir muitos cidadãos que não são investigados e não estão no processo.
Para dar peso à ação, a peça é assinada pelo presidente do Conselho Federal da OAB, Beto Simonetti, pelos diretores nacionais e por todos os presidentes das 27 seções.
A previsão de multa pela utilização de VPN “viola de forma clara e expressa a legalidade e a separação de Poderes, podendo atingir um número indeterminado de pessoas que não são arguidas desta exigência e não podem ser diretamente responsabilizadas por quaisquer atos investigado no bojo da Pet 12.404, sob pena de violação direta do devido processo legal e do contraditório, além de se revelar medida descabida e desproporcional à luz da conduta descrita como proibida”.
O despacho defende que a definição da conduta como ato ilícito e a multa resultante devem ser previstas em lei. “Uma decisão judicial não pode criar um ato ilícito nem prever a punição correspondente”, diz a petição.
A entidade afirma que a punição dos indivíduos “deve ocorrer num processo justo e legítimo, que garanta a todos os arguidos o respeito pelos seus direitos fundamentais, especialmente os relacionados com o contraditório e a ampla defesa”.
Na última sexta-feira, quando Moraes suspendeu a rede social X, a OAB já havia questionado a multa. Nessa data, a entidade solicitou ao relator a revisão ou esclarecimento do trecho da decisão. A demanda foi feita dentro do processo em que o ministro deu a decisão e, até o momento, não houve resposta específica.
Agora, a OAB apresentou uma ação independente, uma ADPF (argumentação de descumprimento de preceito fundamental), que, se considerada válida para análise, necessariamente precisa ser julgada pelo plenário do tribunal.
Neste caso, a ação será distribuída a um relator, que conduzirá o processo e, quando liberado para julgamento, deverá ser orientado pelo presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso. A OAB pede que a ação fique sob o comando de Kassio Nunes Marques, pela semelhança com o pedido feito pelo partido Novo.
A Primeira Turma do tribunal declarou-se nesta segunda-feira por unanimidade pela manutenção da suspensão de X no Brasil. Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux votaram com Moraes. Mas Fux fez ressalvas, justamente na hora de definir a multa.
Sugeriu que a decisão não pode afetar “indiscriminadamente pessoas físicas e jurídicas e que não tenham participado do processo, em obediência aos cânones do devido processo legal e do contraditório”.
Apesar de mantida por unanimidade, a decisão de Moraes foi vista com ressalvas pelo STF. Ao enviar o processo à Primeira Turma, Moraes buscou um ambiente no qual tivesse confiança em garantir o apoio unânime de seus pares ao seu despacho. Sob reserva, os ministros que demonstraram insatisfação com a atitude e defendem que uma decisão da magnitude da suspensão de uma rede social deve ser analisada por todo o tribunal.
Integram o outro colegiado os ministros indicados para o STF pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Ambos discordaram, total ou parcialmente, de outras decisões de Moraes que tratam de questões relacionadas a apoiadores do ex-presidente, como as ações judiciais sobre os atentados de 8 de janeiro de 2023.
*Informações da Folhapress
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