Mais da metade dos municípios brasileiros não tem candidatos filiados a siglas de esquerda concorrendo à prefeitura em 2024.
Esta é a situação em 2.859 das 5.569 cidades onde há eleições em 2024, mostra uma pesquisa da Poder360 feito com dados do TSE (leia sobre a metodologia no final do texto).
A proporção é muito superior à de cidades que não possuem concorrentes filiados a partidos de direita (21% do total).
Esta é a menor presença de partidos de esquerda em disputas municipais em 20 anos. A retração vem acompanhada de maus resultados dos candidatos de esquerda nas disputas recentes e de um prognóstico de dificuldades do grupo ideológico nestas eleições.
O menor percentual registrado nos últimos 24 anos foi em 2000. Nessas eleições, os partidos de esquerda disputaram a prefeitura em apenas 42% dos municípios.
O cenário mudou depois que Lula assumiu a presidência em 2003. Nas eleições municipais seguintes, a esquerda esteve presente em 56% dos municípios e cresceu até 2012, quando 63% das cidades brasileiras tinham pelo menos um candidato filiado a um partido de esquerda concorrendo. no processo.
Desde 2016, porém, esse número caiu. A queda foi precedida pelas revelações da operação Lava Jato e pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Cenário desfavorável O melhor resultado eleitoral da esquerda nos últimos 24 anos foi registado em 2012.
Naquele ano, os partidos de esquerda tiveram 1.523 prefeitos eleitos. Então foi queda livre. Em 2016 foram eleitos 1.184 prefeitos e, nas últimas eleições, apenas 852.
Os resultados dos anos anteriores podem ser vistos como um guia sobre o que esperar em 2024. Considere estes 2 cenários extremos:
- favorável – caso se repita o índice de sucesso de 2012 (quando foram eleitos 30,9% dos candidatos de esquerda a prefeito), o grupo ideológico surgirá com 1.048 municípios. É mais do que governa atualmente, mas menos do que conseguiu em 2016;
- desfavorável – se a taxa de sucesso de 2020 se repetir (19,8% dos candidatos a prefeito eleitos, a pior em duas décadas), os partidos de esquerda sairão das urnas com 673 cidades, menos do que governam atualmente.
Por outras palavras, a menos que haja um aumento sem precedentes na taxa de sucesso dos partidos de esquerda, estes deverão ganhar menos câmaras municipais do que ganharam em 2016.
Um cenário favorável, porém, parece menos provável, uma vez que a esquerda tem menos candidatos a prefeito nestas eleições e já está fora de mais da metade das disputas do país.
Ao analisar a causa desse declínio da disputa, o cientista político Eduardo Grin, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), elenca alguns fatores:
- cláusula de desempenho – partidos como PC do B, PV e Rede correm o risco de desaparecer com o aumento dos requisitos mínimos de desempenho eleitoral para receber recursos públicos. Priorizam candidaturas competitivas para ter prefeitos que possam ajudar a eleger mais deputados federais, e assim garantir a sobrevivência do partido;
- alterações – o aumento da distribuição de dinheiro federal para cidades já governadas pelo Centrão tornou os atuais mandatários muito competitivos, o que desencoraja desafiantes à esquerda;
- governo federal – ao assumir o cargo em 2003, Lula tentou espalhar a presença das siglas de esquerda para cidades menores. Essa presença recuou após a Lava-Jato. A esquerda recuperou protagonismo nos últimos 2 anos, mas num cenário de desânimo à renovação municipal, com os atuais prefeitos fortalecidos.
A aposta dos partidos de esquerda nas cidades maiores, por enquanto, parece estar dando poucos resultados. Nas 24 capitais com levantamentos recentes da Quaest, apenas João Campos (PSB) leva grande vantagem, podendo vencer em Recife no 1º turno. Nas demais cidades, os candidatos de esquerda estão bem posicionados (lideram ou estão próximos do líder) apenas em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Teresina.
Ausência maior em cidades pequenas
A esquerda está mais ausente nas cidades com até 10 mil habitantes. Apenas 37% desses municípios têm candidato a prefeito filiado a partidos de esquerda concorrendo nas eleições de 2024.
“Historicamente, a esquerda no Brasil se sai melhor nas grandes cidades. É aqui que o discurso da esquerda pode ser melhor compreendido. Há dificuldades de comunicação entre os partidos de esquerda e os eleitores das cidades menores, que têm mais influência das famílias tradicionais e conservadoras, da igreja e da sociedade civil autônoma e pouco organizada”, afirma Eduardo Grin, da FGV.
Por outro lado, os partidos de esquerda estão em disputa em 96% dos municípios com mais de 200 mil habitantes. No grupo das 103 cidades que terão 2º turno (aquelas com mais de 200 mil eleitores), apenas um, Parauapebas (PA), não tem partido de esquerda na disputa.
Ausência no RN, GO e MS
Mais de ⅔ das cidades do Rio Grande do Norte, Goiás e Mato Grosso do Sul não têm partidos de esquerda concorrendo a prefeito. Na outra ponta está o Ceará, com 87% das cidades contestadas por esquerdistas.
Metodologia
A classificação dos partidos foi feita com base em uma adaptação livre do artigo “Uma Nova Classificação Ideológica dos Partidos Políticos Brasileiros”.
O trabalho, de cientistas políticos da UFPR (Universidade Federal do Paraná), foi utilizado como referência, com algumas adaptações do relatório em relação aos recentes movimentos partidários.
Leia abaixo quais classificações foram adotadas:
- partidos de esquerda – PT, PSB, PDT, PCO, Psol, PSTU, PCB, PC do B, UP, Rede e PV.
- partidos de direita PP, PPB, PSDB, União Brasil, PRB, Republicanos, PSL, PL, Prona, Novo, PFL, DEM, PSC, PRTB, Patriota e PRD.
Com base nessas classificações, as cidades que não tinham nenhum candidato de um dos partidos de esquerda ou de direita foram separadas em todas as eleições.
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