Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin não disputam a disputa eleitoral pelo comando da Câmara Municipal de São Paulo em 2024, mas serão destaque do calendário eleitoral gratuito que começa nesta sexta-feira, 30. Diante do avanço do influenciador Pablo Marçal (PRTB) junto ao eleitorado da capital, os candidatos Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) decidiram trazer seus padrinhos políticos para os primeiros programas que serão veiculados no rádio e na TV, na esperança de ampliar o leque de apoiadores entre ouvintes e telespectadores.
José Luiz Datena (PSDB) terá uma estratégia diferente: sem um apoiador renomado, mas conhecido, o apresentador quer que sua imagem apareça o máximo possível para que a população entenda que, desta vez, ele é mesmo um candidato no cidade.
Boulos será apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Nunes aparecerá ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Tabata quer destacar a ligação com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e com o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), fiadores de sua candidatura.
Pablo Marçal (PRTB) e Marina Helena (Novo) não têm direito à propaganda eleitoral gratuita porque seus partidos não cumpriram a chamada cláusula de barreira. O mesmo ocorre com os candidatos Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), João Pimenta (PCO) e Ricardo Senese (UP).
Criada em 2017, a cláusula determina que, para ter direito ao horário eleitoral gratuito, os partidos devem ter elegido pelo menos 11 deputados federais em 2022, distribuídos por nove estados, ou obter pelo menos 2% dos votos válidos na eleição para a Câmara dos Deputados. Deputados do mesmo ano, com votação em pelo menos 9 Estados e mínimo de 1% dos votos válidos em cada um deles.
São 90 minutos diários de publicidade no rádio e na televisão, divididos igualmente em dois blocos, veiculados de segunda a sábado: das 7h00 às 7h10 e das 12h00 às 12h10 na rádio, das 13h00 às 13h10 e das 20h30 às 20h40 na televisão. Há também 84 inserções de 30 segundos para candidatos a prefeito distribuídas ao longo do dia – há possibilidade de os partidos adicionarem duas e fazerem uma única peça de 60 segundos – e outros 28 minutos para inserções para candidatos a vereadores. As inserções são transmitidas todos os dias da semana.
Nunes mira em Marçal e diz que ela é “uma criança da periferia”
O prefeito dominará a propaganda eleitoral gratuita, com mais de 60% do tempo total. Com uma coalizão formada por 12 siglas, Nunes terá 6 minutos e 30 segundos, além de 54 inserções por dia. Suas primeiras aparições já contarão com a presença de Tarcísio e Bolsonaro.
O ex-presidente deverá fazer uma gravação na próxima semana ao lado do prefeito para tratar do acordo firmado por eles em 2021 que reduziu a dívida de R$ 25 bilhões da Prefeitura com a União, em troca da transferência do Campo de Marte para a Aeronáutica. O governador destacará a importância da reeleição de Nunes para manter a parceria entre Estado e município nas obras de infraestrutura, combate às enchentes e mobilidade, como a ampliação do Metrô. Tarcísio também mencionará os valores morais e as características pessoais do prefeito.
Os primeiros programas buscarão apresentar Nunes como um candidato que veio da periferia. Os encartes de estreia destacarão sua passagem pela Prefeitura de São Paulo e sua trajetória de vida, retratando o prefeito como um “filho da periferia”, que morava nas “quebradas” da cidade e sempre utilizou os serviços públicos.
Os primeiros programas também deverão mostrar o prefeito ao lado de sua família, incluindo sua esposa, Regina Nunes, que se tornou uma das vitrines da emedebista devido a um boletim de ocorrência que ela registrou em 2011 por ameaças e violência. O caso foi levantado por opositores em debates; Hoje, Regina nega que tenha havido agressão.
A estratégia de associar o prefeito à periferia tem como pano de fundo o risco de que o apoio de Lula ajude Boulos a ter acesso aos eleitores mais pobres da cidade, ameaçando deixar o prefeito de fora do segundo turno.
A aposta na periferia, onde os estrategistas de Nunes afirmam que as ações da prefeitura são mais sentidas, já era uma estratégia central da campanha e foi reforçada depois que Pablo Marçal conseguiu atrair parte do eleitorado bolsonarista da cidade. Pesquisa interna da campanha de Nunes realizada nos últimos dias indica que, mesmo após Bolsonaro declarar guerra a Marçal, o ex-técnico não perdeu forças. Como resultado, é agora menos provável que Nunes consiga atrair de volta todo este eleitorado mais direitista.
Os aliados do prefeito esperam que o extenso tempo de TV dê novo impulso à campanha de Nunes, que foi impactada pelo avanço de Marçal na disputa. A participação de Bolsonaro e Tarcísio faz parte do esforço do prefeito para reconquistar parte do eleitorado simpático ao bolsonarismo que migrou para o ex-técnico.
Nunes deveria aproveitar o seu extenso tempo de televisão para atacar Marçal. Uma das peças produzidas pela campanha lembra uma declaração polêmica do influenciador em que afirma que as mulheres não devem permitir que seus maridos tenham amigos, porque “homem de verdade não tem amigos”. Outro episódio que terá destaque é o relato de que Marçal tentou, sem sucesso, fazer uma mulher cadeirante voltar a andar.
Boulos quer um tom proposicional
Interlocutores de Guilherme Boulos afirmam que o programa eleitoral do candidato manterá um tom proativo, com foco na apresentação de soluções para a cidade. O candidato do PSOL terá 2 minutos e 22 segundos por dia, além de 20 inserções diárias.
Pesquisa qualitativa a que a campanha teve acesso mostra que a imagem “radical” é o principal motivo para os eleitores não votarem em Boulos. Portanto, as peças de TV evitarão um tom agressivo contra os adversários. Porém, os aliados reconhecem que, se necessário, Boulos entrará em confronto.
Também é esperada a presença de Lula e da primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, na propaganda eleitoral. Ambos gravaram cenas com o candidato no sábado, 24, na casa de Boulos, no Campo Limpo, zona sul da capital, antes do primeiro comício com Lula. No entanto, aliados próximos evitam confirmar se o presidente aparecerá no primeiro anúncio eleitoral. “Um pouco de mistério faz bem”, disse um coordenador de campanha quando questionado sobre o assunto.
Tabata e Datena estarão a menos de um minuto
Sem partidos aliados, Tabata Amaral e José Luiz Datena terão, respectivamente, 30 e 35 segundos no tempo eleitoral. Cada um também terá cerca de 5 inserções por dia. Apesar de viverem situações semelhantes, os ex-aliados – Tabata queria Datena como vice para garantir o apoio do PSDB e duplicar o seu tempo de propaganda – têm estratégias diferentes.
O deputado do PSB focará em duas frentes: conteúdos propositivos focados nos planos para a cidade e a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e de Márcio França, marido de Lúcia França, sua vice-presidente, em peças de campanha.
A campanha pretende veicular peças que apresentem os planos de governo de Tabata, adotando um tom diferente do conteúdo publicado nas redes sociais, em que o candidato tem seguido uma estratégia mais crítica e combativa, principalmente contra Marçal – tática que será mantida ao longo da disputa. eleitoral.
Quanto à presença de Alckmin e França em peças de campanha, a expectativa é que a história deles junto ao eleitorado paulista ajude a impulsionar o nome de Tabata nas pesquisas eleitorais. Segundo o coordenador de campanha, Orlando Faria, ambos são bem avaliados pelos eleitores e, por isso, estarão presentes durante toda a campanha eleitoral na TV. “Vamos aproveitar esse capital político”, diz Faria.
Datena aposta em ‘presença televisiva’
A campanha de Datena centrará a estreia do período eleitoral naquele que considera ser o maior trunfo do candidato: a sua presença televisiva. A estratégia é explorar sua presença na tela para mostrar à população que a Datena que ela conhece há anos agora é candidata a prefeita.
A avaliação é que o maior desafio será fazer com que as pessoas saibam que o apresentador concorre ao cargo de prefeito. Os temas prioritários que irá explorar estão alinhados com aqueles de maior preocupação para o eleitorado: segurança e saúde.
Nas agendas que Datena faz, segundo a campanha, as pessoas se aproximam para tirar selfies com o “astro” televisivo, que há décadas comanda um programa policial, e só descobrem o lado político quando alguém, ou ele mesmo, se apresenta como tal. “Ele tem muita facilidade na televisão, sabe falar de uma forma que a população entende e não lhe falta credibilidade. Vai fazer toda a diferença”, afirma um dos coordenadores da campanha.
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