O deputado federal Chiquinho Brazão (Sem Partido-RJ) deveria ter o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar ao ser acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco, argumentou o relator do caso no Conselho de Ética nesta quarta-feira (28). da Câmara, o deputado federal Jack Rocha (PT-ES).
Utilizando o argumento da preservação da “honra coletiva” do Parlamento, a deputada apresentou seu parecer alegando que as acusações contra o deputado Brazão mancham a imagem do Legislativo.
“A percepção pública de que a Câmara dos Deputados abriga e protege indivíduos envolvidos em actos ilícitos compromete a legitimidade do parlamento e enfraquece a confiança dos cidadãos na capacidade da Câmara de legislar com integridade”, acrescentando que esta situação causa “danos irreparáveis à imagem do Câmara”, diz a deputada em seu relatório.
Para perder o mandato, o parecer da deputada deverá ser aprovado pelo Conselho de Ética e depois pelo plenário da Câmara.
O relator destacou a suposta relação do parlamentar com a milícia carioca e citou empresas utilizadas para supostas atividades criminosas. “As evidências apresentadas no relatório da Polícia Federal (PF) traçam um quadro preocupante de corrupção e crime organizado”, disse ela, acrescentando que “essa rede facilitou a expansão das atividades criminosas no Rio de Janeiro”.
Ainda segundo a deputada Rocha, a oposição de Marielle às atividades ilegais das milícias é a motivação para o assassinato. “A imputação de que a pessoa representada é um dos autores da morte de Marille Franco é credível e apoiada por provas significativas”, destacou.
Sobre o projeto de lei que tramita na Câmara Municipal do Rio que teria levado ao assassinato de Marielle, o relator argumentou que a proposta trouxe benefícios ao grupo ligado à família Brazão.
“A legislação não só facilitou a legalização de propriedades em áreas controladas por esses grupos, mas também indicou uma estratégia para fortalecer sua presença e controle sobre o território”, afirmou.
Defesa
Antes de ler o parecer, o parlamentar Chiquinho Brazão, atualmente preso, conversou por videoconferência com o Conselho de Ética. Chiquinho mais uma vez defendeu sua inocência, destacando que tinha um bom relacionamento com Marielle e que não tem nenhuma relação com a milícia carioca.
“A vereadora Mariele foi minha amiga, claro, durante as filmagens. Não haveria razão [para o crime] porque sempre fomos sócios e 90% dos meus votos e os dela coincidem”, disse, acrescentando que “se fizer a filmagem, como são vários, ela falando de mim, falando bem. Na verdade, Marielle levantava da cadeira e às vezes pedia um doce, um chiclete [para mim]”.
Brazão reforçou que, contra ele, existe apenas a delação premiada do policial Ronnie Lessa, preso por ter executado o vereador e motorista Anderson Gomes. Segundo Brazão, ele caminhava sozinho por áreas controladas por milícias e pelo tráfico de drogas. “Sou acusado de participar numa milícia porque faço obras para as comunidades”, disse.
O advogado do parlamentar, Cleber Lopes, também falou na sessão desta quarta. Ele pediu a suspensão do processo no Conselho por seis meses, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa a denúncia apresentada contra seu cliente.
O advogado reclamou que algumas testemunhas se recusaram a participar do Conselho, o que teria prejudicado o trabalho da defesa. Além disso, argumentou que a investigação contra Brazão não comprovou ligações do parlamentar nem com a milícia nem com outros envolvidos no crime.
“A Polícia Federal se viu na contingência de ter que entregar ao Brasil o mandante desse homicídio. E então ele se conforma com a versão fraudulenta, a versão irresponsável de Ronnie Lessa, usando a lei do menor esforço. A polícia não se dedicou, não investigou, não comprovou a ligação de Chiquinho com Macalé [acusado de ser miliciano]não comprova a ligação de Chiquinho com o delegado Rivaldo, não comprova a viabilidade ou qualquer projeto de loteamento naquela área, não comprova a relação de Chiquinho Brazão com a milícia”, destacou.
Caso Marielle
Em março de 2018, a vereadora do PSOL Marielle Franco foi morta a tiros no centro do Rio de Janeiro, junto com seu motorista Anderson Gomes. Depois de várias reviravoltas na investigação deste homicídio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou queixa contra os alegados autores.
Além do deputado Chiquinho Brazão, seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, também foi denunciado como mandante; e o ex-chefe da Polícia Civil do estado, Rivaldo Barbosa.
Em depoimento ao STF, o delegado do caso, Guilhermo de Paula Machado Catramby, da PF, afirmou que as ações de Marielle contra um projeto de lei de regularização fundiária na zona oeste iam contra os interesses políticos e econômicos do Brazão na região, razão pela qual eles decidiu matá-la. Marielle queria reservar essas áreas para moradias populares.
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