O Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou nesta terça-feira, 20, que chegou a um acordo com o Congresso e o governo Lula sobre as emendas parlamentares. Em nota, após almoço que reuniu todos os ministros da Corte, dois ministros do Executivo e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o tribunal informou que as Autoridades chegaram a um consenso para garantir “critérios de transparência, rastreabilidade e correção” dos dinheiros públicos no Orçamento que deputados e senadores direcionam para seus redutos eleitorais por meio de emendas.
A expectativa agora é que o ministro Flávio Dino, relator do processo das alterações, reconsidere a decisão – confirmada por unanimidade pelo plenário do STF – que suspendeu todos os repasses. Um novo pedido deverá incluir os pontos acordados na reunião. A liminar continua em vigor aguardando revisão.
‘Transferências gratuitas’
As emendas do Pix, que estão no centro da crise entre os Poderes, foram mantidas e continuam obrigatórias, ou seja, precisam ser pagas pelo governo federal, mas o Congresso terá que identificar previamente a destinação dos recursos e informar ao Tribunal de Contas da União (TCU). Atualmente, esse tipo de emenda não indica claramente quem é o deputado que a patrocina e autoriza repasses a Estados e prefeituras sem a necessidade de indicação de projeto específico para o gasto do dinheiro. Outra novidade é que deputados e senadores deverão priorizar a destinação de recursos para obras inacabadas.
Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, as autoridades decidiram manter as alterações do Pix, mas acabaram com o que chamou de “transferências gratuitas”. Barroso disse que a questão mais problemática era justamente esse tipo de alteração.
“Envolveram uma transferência gratuita de recursos ao destinatário, livre da apresentação de um plano de trabalho, ou de um objeto específico, ou de um cronograma, e decidimos que isso não pode permanecer”.
Barroso afirmou ainda que, com as alterações, todas as alterações individuais serão identificadas. “Rastreabilidade significa saber quem encaminhou e para onde vai.” O presidente do Senado e do Congresso concordou que é preciso identificar a origem, o destino e o objeto das emendas parlamentares.
Projetos
No caso das emendas da comissão, foi definido que elas deverão financiar “projetos de interesse nacional ou regional”, definidos em comum acordo entre os Poderes Legislativo e Executivo – o que na prática tende a atender o Palácio do Planalto.
Os ministros do STF vinham manifestando preocupação com a captura do Orçamento pelo Congresso. Ao suspender as emendas, Dino disse que as despesas discricionárias criadas pelos parlamentares são uma “anomalia”.
Em discurso após o almoço, Barroso afirmou que este era o “consenso possível” para preservar a governabilidade e, ao mesmo tempo, garantir a participação do Congresso no Orçamento. “Conseguimos enfrentar dois debates, a rastreabilidade e a fragmentação (orçamentária). A questão do volume de recursos ainda é essencialmente política e não esteve em discussão aqui no Supremo”.
Pelo acordo, as emendas de bancada, por sua vez, precisam ser destinadas a projetos “estruturantes” nos Estados e no Distrito Federal. São proibidas as nomeações individuais, ou seja, a simples divisão de recursos, a pedido dos parlamentares, para os seus redutos eleitorais. “A emenda de bancada cumpre esse papel e finalidade ao ter como objeto algo estruturante de amplo interesse”, disse Pacheco, citando como exemplo a construção de hospitais, barragens ou obras rodoviárias.
PEC
Também foi acertado que o valor global destinado às emendas parlamentares no Orçamento terá um novo critério para limitar a expansão de acordo com o crescimento das despesas discricionárias, ou seja, aquelas que não são obrigatórias como os investimentos. Segundo Pacheco, o assunto deveria ser objeto de uma nova proposta de emenda à Constituição (PEC). (GIORDANNA NEVES, IANDER PORCELLA e GABRIEL HIRABAHASI COLABORARAM) A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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