As eleições venezuelanas deste ano tornaram-se o principal tema de debate entre os candidatos a prefeito de Boa Vista, capital de Roraima, e Pacaraima, município que faz fronteira com o país vizinho.
Desde que Nicolás Maduro foi considerado eleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o estado do Norte do Brasil registrou aumento no fluxo migratório, e candidatos de ambas as cidades repudiaram a validade da eleição, o que poderia gerar impactos humanitários e econômicos na região.
Nas plataformas, a polarização começou a se expressar por meio de declarações que responsabilizavam o governo brasileiro por suposta omissão no caso.
O presidente Lula não reconheceu a vitória de Maduro, mas ainda tenta manter o diálogo com o regime venezuelano e negociar, por enquanto sem sucesso, a realização de novas eleições.
Segundo a Prefeitura de Pacaraima e a Polícia Federal, a média diária de entrada de venezuelanos no estado em julho atingiu 507 pessoas, 25% a mais que no mês anterior.
Na capital, o prefeito Arthur Henrique (MDB), que busca a reeleição e tem como vice o apoiador de Bolsonaro, Marcelo Zeitoune (PL), criticou a espera do governo Lula pela divulgação da ata da votação venezuelana.
Arthur concorre com Mauro Nakashima (PV), que tem apoio do PT, e Lincoln Freire (PSOL), também alinhado ao campo governista.
— Essa instabilidade terá consequências para Boa Vista. Estes conflitos têm grandes probabilidades de aumentar o número de pessoas que migram para cá, e não podemos impedir isto sozinhos. Milhares de pessoas vão cruzar a fronteira e chegar aqui sem nem ter o que comer — afirma o candidato.
Sem contestar a política externa de Lula, Nakashima tem acenado com a cabeça aos eleitores críticos às eleições da Venezuela, reforçando em sua plataforma a importância do respeito à democracia e do desejo de “melhorar a vida de todos que vivem em Boa Vista, com políticas públicas eficientes”.
Os ataques a Nakashima relacionados ao tema não partem apenas do atual prefeito de Boa Vista.
Candidato pelo União Brasil, Nicoletti explora o tema em suas declarações e nas redes sociais para desgastar os dois adversários, criticando tanto a posição do Planalto quanto as atuais políticas de controle de imigrantes postas em prática na capital Roraima.
— Os partidos comunistas, como os de alguns adversários desta eleição, promovem esta crise — afirma.
Lincoln Freire, por sua vez, defende a implementação de uma “abordagem multidisciplinar” no acolhimento dos imigrantes:
— A direita ataca os imigrantes através de suas políticas de ódio — disse ele.
Tensão na fronteira
Em Boa Vista, o União Brasil vive um impasse que fez com que o partido registrasse duas candidaturas a prefeito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —a de Nicoletti e a da deputada Catarina Guerra. Nicoletti deve recorrer à Justiça para ser candidata.
Mas é a 215km de Boa Vista que a tensão em relação ao fluxo de venezuelanos se intensifica.
Na cidade de Pacaraima, o tema é tratado como a principal política a ser implementada.
O local tem apenas 9.583 habitantes, segundo o TSE, e não terá segundo turno.
A presidente do conselho local, Dila Santos (PDT), se apresenta como alternativa ao atual prefeito, Juliano Torquato. O pedetista defende uma política de acolhimento aos venezuelanos e participou do desenvolvimento de parcerias para gerar empregos para os venezuelanos.
Apoiado pelo grupo do atual prefeito de Pacaraima, Waldery D’Ávila fala em colaboração com a PF nas etapas da Operação Acolhida, que presta assistência voluntária a imigrantes e refugiados vindos da Venezuela.
Hermógenes do Padre Cícero completa a lista de candidatos.
Segundo dados da Acolhida, 950 mil venezuelanos entraram no Brasil desde 2017. Destes, 72% chegaram via Pacaraima.
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