Dino interrompeu a transferência de alterações obrigatórias, com poucas exceções; O tema aumentou a tensão entre o STF e o Congresso. O julgamento continua até a noite de sexta-feira.
O STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta sexta-feira (16) para manter a decisão do ministro Flávio Dino que suspendeu as emendas obrigatórias apresentadas por deputados e senadores.
A diretoria vota o tema por meio de sessão virtual, aberta a partir da meia-noite. No início da manhã, o ministro André Mendonça votou ao lado do relator. Na sequência, Edson Fachin, Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Luiz Fux também votaram no mesmo sentido.
O placar atual é de 7 a 0 devido à manutenção da decisão de Dino. Ainda restam 4 ministros para votar. Eles têm até às 23h59 da próxima sexta-feira (23) para incluir os votos.
As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores podem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, aumentar seu capital político. A prioridade do Congresso, porém, é atender aos seus redutos eleitorais, e não às áreas de maior demanda no país.
Ainda pela manhã, paralelamente, o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, rejeitou recurso contra a liminar de Dino, apresentado pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco ( PSD-MG) e 10 partidos.
Barroso afirmou, pela negativa, que as intervenções da presidência do STF devem ser “muito excepcionais”. Segundo ele, não se justifica a ação monocrática da Presidência de suspender os efeitos de decisões de um ministro quando o assunto já está sendo analisado pelo plenário.
“Por fim, destaco que o voto apresentado pelo ministro Flávio Dino por ocasião do julgamento do referendo sobre as decisões contestadas neste incidente sinaliza a possibilidade de construção de uma solução consensual para a questão, em reunião institucional com representantes dos três Poderes” , disse Barroso.
No plenário virtual, foi inserido nesta manhã o voto de Dino, relator do caso. Agora, os demais magistrados avaliam se avalizam a decisão liminar por ele tomada (proferida com urgência) em até 24 horas. Existe a possibilidade de solicitar revisão (mais tempo para análise) ou destaque (levar o caso ao plenário físico).
“Ressalto que estão ocorrendo reuniões técnicas entre os órgãos interessados”, afirmou o integrante do tribunal em seu depoimento.
“Além da reunião institucional prevista com a Presidência e demais ministros do Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, bem como do Procurador-Geral da República e de um representante do Poder Executivo, em busca de uma solução e consenso constitucional, que respeite o princípio da harmonia entre os Poderes.”
Segundo ele, após esse possível acordo, a decisão poderá ser reavaliada.
O julgamento acontece desta forma depois que o presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, acatou pedido do relator e incluiu o referendo sobre a decisão em sessão virtual extraordinária, dado o caráter excepcional do caso.
Os julgamentos no plenário virtual são assíncronos, ou seja, não se trata de uma reunião online com todos os ministros presentes ao mesmo tempo
Dino votou pela suspensão das emendas até que o Congresso Nacional edite novas regras para liberação de recursos de forma transparente e rastreável. A decisão reserva apenas recursos destinados a obras já iniciadas e em andamento, ou ações de resposta a calamidades públicas.
As alterações obrigatórias são as alterações de bancada, as alterações individuais com finalidade definida e as alterações especiais de transferência, conhecidas como “alterações Pix”.
Em sua decisão liminar, Dino chamou de “grave anomalia” termos, segundo ele, um sistema presidencialista, decorrente do voto popular, “convivendo com a figura de parlamentares que ordenam despesas discricionárias como se fossem autoridades administrativas”.
Argumentou que “o desenho prático equivocado das emendas obrigatórias gerou a ‘parlamentarização’ dos gastos públicos sem que houvesse um sistema de responsabilidade política e administrativa inerente ao parlamentarismo”.
“Não é compatível com a Constituição Federal a execução de alterações ao Orçamento que não cumpram critérios técnicos de eficiência, transparência e rastreabilidade, pelo que é vedada qualquer interpretação que dê carácter absoluto à imposição de emendas parlamentares”, afirmou.
A decisão foi tomada em ação proposta pelo PSOL. Após a determinação, o advogado Rafael Valim, que representa o partido, disse que “a decisão do ministro Flávio Dino restaura a governabilidade originalmente prevista na Constituição Federal e põe fim a um profundo e inaceitável desarranjo institucional em nosso país”.
No início de agosto, Dino determinou que o governo só gaste com emendas de comissão que tenham rastreabilidade prévia e total. A regra vale também para os restos a pagar das alterações do relator, ou seja, despesas que ainda não foram executadas desde o final de 2022.
Nesta quinta-feira, os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentaram recurso solicitando a suspensão da liminar no STF. O recurso também solicitou a suspensão de outras decisões de Dino que tratavam do tema.
Segundo a assessoria de Lira, o pedido do Congresso foi apresentado ao presidente do Supremo com assinaturas de presidentes de 10 partidos políticos; PL, União Brasil, PP, PSD, PSB, Republicanos, PSDB, PDT, Solidariedade e MDB.
No início de agosto, o magistrado determinou que o governo só gaste com emendas de comissão que tenham rastreabilidade prévia e plena. A regra vale também para os restos a pagar das alterações do relator, ou seja, despesas que ainda não foram executadas desde o final de 2022.
Esta decisão também foi levada esta sexta-feira a referendo pelos restantes membros do Supremo Tribunal Federal, e há maioria.
No início deste mês, o governo Lula (PT) suspendeu o pagamento de todas as emendas da comissão e do restante das emendas do relator para cumprir a decisão do ministro.
Na semana seguinte, Dino cobrou informações do governo e do Congresso sobre as indicações de emendas da comissão. A medida ocorreu após o Legislativo informar ao Supremo Tribunal Federal, no dia 6, que não conseguiu identificar os deputados e senadores autores dos pedidos originais dessas emendas.
Na ocasião, o ministro determinou que o Executivo, por meio de consulta à AGU (Advocacia Geral da União) aos ministros de Estado, encaminhasse todos os ofícios relativos a indicações ou “priorização por autores” da RP8 (alterações da comissão).
Ele também solicitou informações à Câmara e ao Senado sobre as destinações ou alterações na destinação de recursos das emendas deste ano.
No dia 8 de agosto, Dino autorizou a continuidade da execução das chamadas alterações Pix para obras em andamento e para casos de calamidade pública, desde que adotado um sistema de transparência.
Essa decisão também foi levada ao plenário virtual. Tal como acontece com os outros, já existe uma maioria a favor.
As decisões têm sido vistas pelo Congresso como uma interferência direta de representantes do governo no Judiciário, abrindo uma nova frente de erosão do Legislativo com ambos os Poderes. Os congressistas discutem, em resposta à decisão de Dino, um pacote de medidas visando o Supremo e o Executivo.
Uma dessas medidas seria a apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para restringir quem pode apresentar ADIs (ações diretas de inconstitucionalidade) e outra para limitar as decisões individuais dos ministros do STF.
Discute-se também a determinação de que cada ministro do governo federal seja obrigado a prestar contas da execução orçamentária de cada departamento, cobrando também transparência do Executivo.
*Informações da Folhapress
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