O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), encaminhou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta sexta-feira, 16, duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) que limitam o poder do Supremo Tribunal Federal (STF). ). O movimento ocorreu depois que a Corte formou maioria no plenário para manter a decisão do ministro Flávio Dino de suspender todas as emendas parlamentares obrigatórias. O juiz exigiu que o Congresso criasse regras para a execução desses recursos que atendessem aos requisitos de transparência, rastreabilidade e eficiência.
Uma das PECs, de autoria do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e que já foi aprovada no Senado, limita as decisões monocráticas dos ministros do STF. A outra, apresentada pelo deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), permite que o Legislativo suspenda decisões do Tribunal por votação de dois terços da Câmara e do Senado.
“Nas decisões do Supremo Tribunal Federal, no exercício da jurisdição constitucional de natureza concreta ou abstrata, se o Congresso Nacional considerar que a decisão extrapola o exercício adequado da função jurisdicional e inova o ordenamento jurídico como órgão geral e abstrato norma, poderá suspender seus efeitos pelo voto de dois terços dos membros de cada uma de suas Casas Legislativas, pelo prazo de dois anos, prorrogáveis uma vez por igual período”, diz a PEC de Reinhold.
A proposta define ainda que os relatores dos processos nos tribunais superiores deverão submeter imediatamente à decisão colegiada as medidas cautelares “de natureza civil ou penal necessárias à proteção de direito suscetível de dano grave de reparação incerta, ou destinadas a garantir a efetividade de a decisão subsequente da causa.” A medida cautelar, segundo o texto, teria que ser inserida no plenário subsequente.
A PEC do Senado proíbe decisões monocráticas de ministros que suspendam a eficácia de leis e atos dos presidentes da República, do Senado e da Câmara, exceto durante o recesso do Judiciário em casos de grave urgência ou perigo de danos irreparáveis. Nestes casos, as decisões deverão ser proferidas pelo colegiado no prazo de 30 dias após o término do recesso.
Lira já havia demonstrado publicamente desconforto com a determinação de Dino. “Não se pode mudar isso, com todo o respeito, num ato monocrata, quaisquer que sejam os argumentos e as razões, por mais razoáveis que pareçam”, afirmou na última terça-feira, 13, durante jantar nas Santas Casas, ao defender a autonomia do Congresso para enviar alterações.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, negou nesta sexta-feira o pedido do Congresso e de 11 partidos políticos para que a decisão de Dino sobre as emendas fosse derrubada. Em recurso à Corte, Câmara e Senado afirmaram que a determinação do ministro “viola patentemente” a separação entre os Poderes e causa “dano irreparável ao ordenamento jurídico”.
Deputados e senadores ainda previram nesta semana a votação de mudanças nas chamadas emendas do Pix para dar mais transparência nas transferências. A análise ocorreria na Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas o item foi retirado da pauta após a nova decisão de Dino e, em seu lugar, foi rejeitada uma Medida Provisória que aumenta o financiamento do Judiciário, em retaliação ao STF.
Até então, o ministro havia apenas suspendido a operação das emendas Pix, que fazem parte das emendas individuais. A nova decisão, porém, afeta todas as emendas individuais e também as emendas das bancadas estaduais. Dino já havia pedido mais transparência nas alterações da comissão, que não são vinculativas.
A ideia do Congresso é delimitar o objeto das alterações do Pix, ou seja, esclarecer para que finalidade o dinheiro está sendo utilizado (para qual obra específica ou política pública). Hoje, não está claro como as prefeituras estão utilizando os recursos, embora seja possível identificar o nome do deputado que enviou a emenda.
As emendas parlamentares são recursos do Orçamento da União que podem ser direcionados pelos deputados e senadores aos seus redutos eleitorais. Hoje, são três modalidades: emendas individuais, a que cada deputado e senador tem direito, emendas de bancada estadual e emendas de comissão. Os dois primeiros são obrigatórios, ou seja, o pagamento é obrigatório, embora o governo controle o ritmo de liberação.
As emendas Pix (em homenagem ao sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central) são uma forma de gerenciar emendas individuais e permitem a destinação direta de recursos federais a Estados e municípios sem controle e fiscalização.
Apesar de empenhados em resolver os problemas de transparência das emendas do Pix para atender aos questionamentos do Judiciário, os dirigentes da Câmara estão mais preocupados com o impacto nas emendas da comissão, que também foram incluídas na ação denunciada por Dino no STF.
As emendas do comitê têm sido usadas como moeda de troca política no Congresso desde o fim do orçamento secreto, esquema revelado por Estadão que consistiu em repassar as alterações do relator sem transparência e de forma que dificultasse a fiscalização.
A ofensiva sobre esses recursos, portanto, impacta diretamente o poder da liderança do Legislativo, às vésperas das eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
O pano de fundo do imbróglio é uma disputa de poder entre os poderes Executivo e Legislativo, arbitrada pelo Judiciário. O orçamento secreto foi declarado inconstitucional pelo STF após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas parte dos recursos permaneceu nas mãos do Congresso, após acordo firmado com o Planalto.
Agora, os parlamentares veem uma nova ofensiva do governo federal, em aliança com o Judiciário, para recuperar mais poder sobre o Orçamento. Principalmente porque Dino foi indicado por Lula para a Corte.
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