O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que a Venezuela está sob um regime autoritário, mas negou que se trate de uma ditadura. Lula afirmou ainda que Nicolás Maduro tentou impedir que o assessor especial Celso Amorim fosse acompanhar o processo eleitoral, mas foi convencido depois que Lula ameaçou divulgar o assunto.
— E acho que a Venezuela tem um regime muito desagradável. Não acho que seja uma ditadura, é diferente de uma ditadura, é um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a conhecemos em vários países do mundo — disse Lula.
O presidente acrescentou, em outro momento: — Quando Ceso Amorim ia viajar para a Venezuela, fui informado que haviam pedido a Celso Amorim que não fosse à Venezuela. Eu disse a eles que se Celso Amorim não pudesse ir, eu diria à imprensa que a Venezuela estava impedindo Celso Amorim. Aí soltaram Celso Amorim.
Nesta quinta-feira, Lula afirmou que não reconhece a vitória de Maduro e que o venezuelano “sabe que deve” uma explicação ao mundo. O presidente afirmou ainda que não reconhece a vitória de Edmundo González Urrutia, principal candidato da oposição, indicando que qualquer reconhecimento tem de ser feito com base em resultados credíveis.
Para Lula, se Maduro tiver “bom senso”, poderá convocar novas eleições no país —proposta que lhe foi sugerida pelo assessor de assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim. Segundo o brasileiro, uma das sugestões é criar um “governo de coalizão” com a oposição venezuelana.
Lula afirmou ainda que não acredita na possibilidade de uma guerra civil no país, medo já destacado por Amorim, seu principal assessor em assuntos internacionais.
— Não acredito em guerra civil, não acredito nela. Porque acho que há muitos países dispostos a nos ajudar a viver em paz na América do Sul. A guerra não leva a nada, a guerra só leva à destruição. A paz leva ao crescimento económico e à distribuição da riqueza. É isso que espero para a Venezuela.
O governante de esquerda foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, com 52% dos votos. A oposição liderada por María Corina Machado, que considera a declaração fraudulenta, criou um portal no qual afirma ter apresentado mais de 80% dos registos eleitorais, recolhidos por testemunhas no dia da votação, o que comprovaria a vitória de González com quase 70%. María Corina, que foi impedida de disputar a eleição, se ofereceu para entregar os documentos para verificação do Brasil, mas o governo rejeita uma investigação paralela, reforçando a necessidade de o governo venezuelano apresentar os registros eleitorais.
Esta quinta-feira, em audiência pública no Senado, Amorim afirmou que o Brasil não reconhecerá um terceiro mandato para Maduro, a partir de janeiro do próximo ano, caso não apareçam os registos eleitorais. Na semana passada, o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral na Venezuela, disse que os registos eleitorais recolhidos pela oposição eram “consistentes”, afirmando que González venceu claramente e “por uma margem intransponível”.
Pela primeira vez falando em público sobre a proposta de Amorim para novas eleições, Lula também destacou que uma possível nova votação poderia ocorrer com observadores internacionais — Amorim havia defendido que a União Europeia suspendesse as sanções em vigor e enviasse observadores caso houvesse uma nova voto. Na terça-feira, porém, o líder da Assembleia Nacional venezuelana, Jorge Rodríguez, propôs uma reforma eleitoral para suspender a observação internacional das eleições.
Desde que ouviu a sugestão de uma nova eleição, Lula considerou o assunto e até discutiu o assunto na última reunião ministerial, realizada na semana passada. Na altura, afirmou que o próprio Maduro deveria ter tomado a iniciativa de convocar novas eleições, segundo pessoas presentes na reunião.
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