O chefe do centro de inteligência da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Pedro Luís de Souza Lopes, afirmou nesta quinta-feira, 15, que o papel do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas eleições é “muito maior do que eu imaginava”.
“Não é possível dizer que são 100, 200 municípios, mas há vários com indícios palpáveis de alguma atividade importante do tráfico participando como financiador de campanha eleitoral”, disse Lopes.
A fala foi feita durante um dos painéis do 18º encontro anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que acontece este ano em Recife (PE).
“A operação eleitoral já está acontecendo hoje, em todo o estado”, disse. “Precisamos ser informados sobre qualquer tipo de interferência que possa indicar limitação do processo eleitoral por prática criminosa”.
Segundo Lopes, o alto comando policial já se reuniu com representantes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para discutir o assunto.
“Houve uma reunião com todos os gestores regionais”, disse ele. “Há preocupação não apenas no dia das eleições”.
O coronel afirmou que, devido a esta abordagem, as forças de segurança têm recebido “muito material”. Questionado pela reportagem do Estadão após o painel, ele não disse se existe alguma região específica que chame a atenção neste momento.
Características
Uma das hipóteses do coronel é que a organização criminosa vem buscando mais alternativas para a lavagem de dinheiro. Como o Estadão já mostrou, hoje em dia as estratégias vão do bitcoin às fintechs.
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, a facção movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano. O carro-chefe da organização criminosa, há alguns anos, é o tráfico internacional de cocaína, adquirida de países vizinhos e enviada principalmente para a Europa.
“Não é nem a estratégia mais inteligente, eles estão se expondo. Há uma série de contratos públicos expondo membros da liderança do PCC”.
Ele citou, como exemplo, a investigação relacionada a uma possível infiltração do Primeiro Comando da Capital em empresas que operam linhas de ônibus públicos na capital. O coronel destacou que se tratou de uma operação em que atuou diretamente a área de inteligência da PM, em parceria com o MP-SP. “Talvez seja excesso de confiança, não sei dizer, mas o fato é que eles estão expostos”, disse.
Operação da Polícia Civil identifica candidatos ligados ao crime organizado
No dia 6 deste mês, a Polícia Civil de São Paulo, por meio da Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, deflagrou a Operação Decurio, que investiga suposta atuação criminosa do PCC para infiltração de candidatos na disputa eleitoral deste ano.
A investigação policial aponta que João Gabriel de Mello Yamawaki, um dos responsáveis por um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro da facção, seria o responsável pelo chamado “núcleo político”. Ele foi preso.
Na mesma operação, dois então candidatos a vereador – em Mogi das Cruzes e Santo André – foram alvo da polícia. O tribunal ordenou medidas restritivas contra eles. Dentre as disposições, não podem exercer cargo, emprego ou função pública ou cargo eletivo.
Os candidatos eram, respectivamente, do União Brasil e do PSD. Contactado, o PSD não respondeu. O União Brasil informou ter aberto processo para apurar as denúncias com possibilidade de expulsão e substituído a candidatura.
Segundo a decisão, Thiago Rocha de Paula (então candidato no ABC) é acusado de receber “valores da empresa 4TPAG, utilizados por João Gabriel de Melo Yamawaki para movimentar valores ilícitos”. Em 2020, tornou-se terceiro suplente do partido e assumiu o cargo de vereador andrenense por 20 dias.
Os investigadores também identificaram Marie Sassaki Obam como possível candidata a vereadora em Mogi das Cruzes “que seria apoiada pela facção”. Marie aparece na ata da convenção União Brasil da cidade como candidata a vereadora. Com a operação, o União Brasil retirou seu nome da disputa eleitoral.
“Ao longo da investigação foi confirmado que eles têm relacionamento estável com João Gabriel e moram com ele e seus filhos em condomínio de luxo em Mogi das Cruzes”, escreveram os investigadores.
Defesa
Teixeira & Marques Advogados Associados defende Marie Obam. Em nota enviada ao Estadão, afirmaram que as acusações são infundadas e carecem de provas concretas.
“O 4TBank é uma fintech que sempre atuou em conformidade com as leis e regulamentos vigentes no Brasil, possuindo respaldo financeiro totalmente comprovado. Todas as nossas operações passam por rigorosos processos de compliance e auditoria, garantindo que todas as nossas atividades financeiras sejam conduzidas de acordo com de forma ética, legal e transparente”, diz trecho da nota.
Em outro trecho do posicionamento, a defesa afirma repudiar as acusações contra os citados.
“Não há fundamento nas alegações que tentam vincular nossa instituição a ações criminosas, e lamentamos profundamente a divulgação de informações tão danosas e não comprovadas, decorrentes de uma investigação que tramita sob sigilo judicial. legalidade de suas operações durante todo o processo.”
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