O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino suspendeu nesta quarta-feira, 14, as alterações obrigatórias no Orçamento da União. O mecanismo é utilizado por deputados e senadores para destinar recursos aos seus redutos eleitorais. Porém, por decisão de Dino, o repasse fica suspenso até que o Congresso crie novas regras para garantir mais meios de monitoramento e transparência dos recursos.
A decisão de Dino pegou os parlamentares de surpresa e pode resultar em uma “contraofensiva” do Legislativo, com a votação de projetos relacionados ao Judiciário na Câmara e no Senado. A decisão desta quarta-feira, porém, não é a primeira ação de Dino para exigir mais transparência sobre as emendas parlamentares, causando desconforto aos parlamentares. O mais novo membro do Supremo também exigiu a criação de diretrizes para a suspensão do orçamento secreto, reveladas por Estadãoalém de restrições à transferência por meio das chamadas “alterações Pix”.
Regras para acabar com o orçamento secreto
No dia 1º de agosto, Dino marcou audiência de conciliação para discutir o “cumprimento integral” da decisão do STF que derrubou o orçamento secreto. O ministro convocou a audiência porque, mesmo com decisão da Justiça que pôs fim à prática em dezembro de 2022, o orçamento secreto acabou sendo repetido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio da execução do assim- chamou de “restos a pagar” das emendas do relator – por meio da execução do “ativo” de R$ 9,85 bilhões do orçamento secreto ao longo de 2023 – e das emendas da Comissão.
São fundos indicados pelas comissões temáticas da Câmara e do Senado, mas sofrem do mesmo problema das emendas do relator – o “patrocínio” dos fundos é feito de forma informal, sem que se saiba qual parlamentar é responsável por qual indicação.
Presidida por Dino, a reunião contou com a presença de Paulo Gonet, Procurador-Geral da República; Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU); Jorge Messias, procurador-geral da União; os titulares dos Gabinetes de Advocacia da Câmara e do Senado; e o advogado do PSOL, responsável pela ação que culminou no banimento do orçamento secreto.
A audiência terminou com o consenso entre os participantes de que as informações sobre as emendas parlamentares deveriam ser centralizadas em um único canal. Os dados que deverão ser disponibilizados deverão incluir quem indicou o aditivo e a destinação dos recursos.
Houve também a proibição de um parlamentar destinar suas emendas a um Estado para o qual não foi eleito. Dino também solicitou auditoria nas cidades que mais receberam recursos por meio de emendas ao Orçamento, além de exigir prestação de contas das ONGs que recebem recursos por esses meios.
‘Emendas Pix’ com transparênciaNo início de agosto, Dino também restringiu, a pedido da PGR, o compromisso deliberado de “emendas Pix”. Trata-se de um mecanismo que permite transferir mais rapidamente recursos do Orçamento da União para Estados e municípios. A “emenda Pix”, porém, carece de meios de transparência e fiscalização.
É possível saber qual deputado fez o repasse, mas não o local para onde os recursos foram destinados. Além disso, no destino, o dinheiro pode ser utilizado livremente pelo governador ou prefeito, sem estar vinculado a programas federais, o que compromete o planejamento de recursos e prejudica a fiscalização. Desde 2020, o mecanismo somou R$ 20,7 bilhões e bateu recorde em 2024, ano das eleições municipais.
Dino acatou as considerações de Paulo Gonet e determinou a transparência e rastreabilidade das “alterações do Pix” como condições para o pagamento dos recursos. Até que esses critérios sejam atendidos, o pagamento desse tipo de transferência fica suspenso. A decisão monocrática foi submetida ao plenário do Supremo, onde a matéria deverá ser julgada ainda este mês.
Suspensão de alterações fiscais Esta quarta-feira, Dino suspendeu todos os tipos de alterações fiscais até que sejam criados parâmetros que garantam “eficiência, transparência e rastreabilidade” das transferências. A medida inclui emendas “pix”, emendas individuais e emendas de bancada estadual.
As emendas da comissão, que não são obrigatórias – ou seja, não precisam necessariamente ser pagas pelo governo federal – são o único tipo de emenda parlamentar que não é afetada pela decisão de Dino.
“Não é compatível com a Constituição Federal a execução de alterações ao Orçamento que não cumpram critérios técnicos de eficiência, transparência e rastreabilidade, de modo que é vedada qualquer interpretação que dê caráter absoluto à imposição de emendas parlamentares”, afirmou Dino em a ordem, que pegou o Congresso de surpresa.
Em resposta, deputados federais e senadores já preparam um pacote de retaliação ao Judiciário. O primeiro ato da contraofensiva foi a rejeição na noite desta quarta-feira, 14, de uma medida provisória (MP) que previa uma recomposição orçamentária de R$ 1,3 bilhão para o Poder Judiciário e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). .
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