O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou pesar pela morte do economista e ex-ministro Antônio Delfim Netto, nesta segunda-feira (12), aos 96 anos, em São Paulo. Em nota, Lula lembrou ainda a morte da economista Maria da Conceição Tavares, em junho, e afirmou que o Brasil perdeu “duas referências no debate econômico no país”.
“O legado do trabalho e do pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, continua a ser debatido pelas futuras gerações de economistas e figuras públicas”, escreveu.
Nascido em São Paulo, em maio de 1928, Delfim Netto foi economista, professor e ocupou cargos durante os governos do regime militar no Brasil, incluindo Ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Foi um dos signatários do Ato Institucional número 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968, considerado o decreto mais duro após o golpe militar de 1964, para suspender direitos e garantias individuais.
“Durante 30 anos critiquei Delfim Netto. Na minha campanha de 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos nas políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito na elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, ele nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes”, disse o presidente Lula.
Delfim Netto foi deputado federal na Constituinte de 1987 a 1991 pelo Partido Social Democrata, sucessor de Arena. Posteriormente, foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo cinco vezes e permaneceu como deputado na Câmara até 2007.
O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Rodrigo Pacheco, também prestou condolências aos familiares e amigos do ex-deputado federal. “Profundo conhecedor das ciências econômicas, tem papel de orgulho na história do Brasil desde 1967, quando se tornou, aos 38 anos, o ministro mais jovem do país”, escreveu.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, lembrou que ele e Delfim Netto foram deputados no mesmo período e estiveram juntos na Comissão de Economia, “onde houve um debate qualificado sobre as políticas nacionais de desenvolvimento”. .
“Embora tenhamos tido divergências políticas e no debate econômico ao longo de sua vida, Delfim Netto sempre esteve comprometido com a produção e o crescimento econômico e, mesmo tendo sido um destacado ministro do regime militar – tendo liderado o chamado ‘milagre brasileiro’ – , apoiou o governo Lula em momentos importantes e desafiadores”, destacou, lembrando também do “profundo compromisso” do ex-professor com a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Fea-USP), onde Mercadante se formou .
Delfim Netto foi Ministro da Fazenda de 1967 a 1974, quando o Brasil viveu forte expansão econômica, período conhecido como o “milagre econômico”. Foi também Ministro do Planeamento entre 1979 e 1985.
Em comunicado, o Ministério das Finanças afirmou que o economista foi uma referência em diferentes fases da história do país. “Durante décadas, ele incentivou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira. Neste momento de luto, os funcionários do Ministério da Fazenda manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Delfim Netto.”
Entre outras autoridades que se manifestaram sobre a morte do economista, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli afirmou que Delfim Netto foi uma personalidade muito importante na história brasileira nos últimos 60 anos e que foi seu “brilho intelectual” que levou ele para altos cargos na esfera pública.
“Sua tese de pós-graduação foi sobre economia cafeeira e, por isso, foi um dos mentores da Embrapa, instituição com papel inegável na revolução agrícola brasileira. Foi, portanto, um visionário na revalorização de um dos pilares da economia nacional no século XXI”, escreveu em nota. “Conselheiro de vários presidentes da República após a redemocratização, soube valorizar as políticas de distribuição de renda e de inclusão social. Sua atuação no período mais duro do regime militar deve ser lembrada, mas é inegável que o Brasil hoje perdeu um de seus maiores intelectuais e pensadores da nação brasileira”, acrescentou o jurista.
Desde o dia 5 de agosto, Delfim Netto estava internado por complicações de saúde no Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista.
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