O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, defendeu nesta sexta-feira, 9, “mudanças institucionais” e uma mudança nos três poderes da República para enfrentar o descrédito da população. O ministro pregou a reforma política. Destacou que o Fundo Partidário tornou os partidos “mais rentáveis que 99% das empresas nacionais”.
Moraes participou da 22ª Semana Jurídica do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Ele apontou para o Judiciário. “Isso também se deve à sociedade, principalmente na velocidade.”
O ministro disse que, para fortalecer a democracia, é preciso identificar quais pontos, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, “levaram ao descrédito e que poderiam ser explorados de forma ilícita, de forma maliciosa e fraudulenta, por este novo populismo digital extremista”.
Numa espécie de ‘mea culpa’, observou que, se as instituições não respondem às “ansiedades” da sociedade, “caem obviamente em descrédito”. “O descrédito leva ao desgosto, o que leva a um ataque à democracia”, disse ele.
No meio da sua mensagem crítica, o ministro reservou espaço para uma provocação humorística de carácter desportivo que divide os amantes do futebol. “O fracasso, seja de comunicação ou de reestruturação, em atacar os problemas estruturais que ainda existem na democracia é um fracasso de quem acredita na democracia. Precisamos parar de fazer as mesmas coisas e querer resultados diferentes. Não contratamos ninguém, não existe um padrão de jogo e acreditamos que seremos campeões. Mas temos um campeonato mundial.
Moraes falou da perda de confiança nas instituições. “Todas as instituições estão em descrédito, em parte porque não evoluímos todos, em parte devido ao bombardeamento de notícias fraudulentas. Mas é preciso reflectir, no âmbito dos três poderes, para mudar”, sugeriu.
A primeira mudança proposta por Moraes foi quanto ao sistema representativo. Uma reforma política, disse o ministro. Ele destacou como o sistema político eleitoral brasileiro é um dos mais caros do mundo, ressaltando que mesmo que haja muito dinheiro envolvido – R$ 6 bilhões do Fundo Eleitoral -, não é suficiente para irrigar as campanhas. “Nosso sistema não está correto”, disse ele.
“O Fundo Partidário tornou os partidos políticos mais rentáveis do que 99% das empresas nacionais. Hoje um presidente de partido tem mais dinheiro para investir do que um CEO e acaba por permanecer no poder. as campanhas mais caras do mundo”, afirmou.
Segundo Moraes, é necessária uma mudança nesse quadro para proporcionar maior representatividade. Ele citou o sistema distrital misto, para “poder cobrar o parlamentar”. “O nosso sistema foi desenhado para não acompanhar os parlamentares e isso fragiliza a política, o que permite que parlamentares com vidas e gostos aconteçam sem propostas. Isto é a negação da política e da democracia.
O ministro também defendeu avanços na relação Executivo e Legislativo. Classificou de “loucura” o facto de o Presidente da República “ter de conviver com 16 partidos”.
Na sua avaliação, se houvesse uma reforma política com o sistema distrital, o país poderia ter cinco ou seis partidos, como acontece na Alemanha, resultando numa “possibilidade de maior estabilidade”.
Moraes considerou ainda que o “Judiciário também está em dívida com a sociedade”, especialmente no que diz respeito à celeridade processual. Na avaliação do ministro, com o uso de tecnologias é possível “revolucionar” o Judiciário, “mas não adianta usar novos instrumentos” se não houver uma reestruturação institucional.
“Não é possível que o Judiciário não se reestruture. Institucionalmente, a segurança pública é função do Judiciário. teremos ainda mais problemas. O sistema de Justiça tem uma importância gigantesca na segurança”, avalia.
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