O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o ex-técnico Pablo Marçal (PRTB) chegam às convenções do partido neste fim de semana em meio a uma disputa pelo patrimônio bolsonarista na capital paulista.
O evento que formalizará a candidatura de Nunes à reeleição está marcado para este sábado, dia 3, no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e os organizadores esperam reunir cerca de 10 mil pessoas.
Como mostra o Estadãoo local foi uma escolha pessoal do prefeito e carrega simbolismo: foi lá que Mário Covas, avô do ex-prefeito Bruno Covas, de quem Nunes foi vice-presidente, lançou sua candidatura vitoriosa ao governo de São Paulo.
O prefeito defenderá em sua convenção a continuidade da gestão que iniciou ao lado de Bruno Covas, falecido em 2021 em decorrência de câncer, numa estratégia para dissipar a narrativa de que um eventual novo governo representará uma guinada à direita e será alinhado ao bolsonarismo, como colocou a campanha contrária do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP). A convenção de Marçal está marcada para domingo, dia 4, na Max Arena.
Tanto Nunes quanto Marçal estão empenhados em conquistar o eleitorado bolsonarista da cidade. No caso do prefeito, que se declara um político centrista, a estratégia para atrair eleitores de direita inclui ter em seu palanque a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os dois já confirmaram presença na convenção e a expectativa é que ambos façam discursos a favor de Nunes no evento. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também integrará o pelotão Bolsonaro, reforçando o apoio do clã ao prefeito.
A última pesquisa Genial/Quaest, publicada nesta terça-feira, ilustra o impacto da candidatura de Marçal em Nunes: o prefeito tem 35% das intenções de voto entre os eleitores de Bolsonaro, enquanto Marçal chega a 27% desse segmento, impedindo o crescimento mais expressivo de Nunes.
No eleitorado geral, o prefeito tem 20% das intenções de voto e está tecnicamente empatado com José Luiz Datena (19%), do PSDB, e Guilherme Boulos (19%), do PSOL. Marçal tem 12%, enquanto Tabata Amaral (PSB) tem 5%. Kim Kataguiri (União) – que desistiu da candidatura na quinta – e Marina Helena (Novo) têm 3% cada. Caso Datena desistisse da eleição, seus votos seriam distribuídos entre todos os candidatos. Porém, a saída de Marçal beneficiaria principalmente o atual prefeito, que chegaria a 33%.
A relação de Nunes com o bolsonarismo evoluiu ao longo da pré-campanha. Inicialmente, o prefeito se manteve distante do ex-presidente, chegando a afirmar que ele não era tão próximo de Bolsonaro quanto de Lula. Com a entrada de Pablo Marçal (PRTB) na disputa, essa situação mudou, e Nunes passou a fazer mais gestos em direção ao bolsonarismo, na tentativa de evitar que Bolsonaro saísse da futura coligação.
O gesto mais significativo foi aceitar a nomeação do ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL) como seu vice, algo que Nunes relutou em fazer. A sugestão de incluir Mello Araújo na chapa foi feita pelo ex-presidente Bolsonaro em janeiro, mas o nome só foi anunciado oficialmente em junho. Durante esses cinco meses, Nunes e seus aliados tentaram explorar outras opções, como o ex-ministro Aldo Rebelo (MDB) e a vereadora Rute Costa (PL), mas nenhuma dessas alternativas agradou a Bolsonaro.
O melhor cabo eleitoral da capital
O governador Tarcísio de Freitas foi o responsável por anunciar a escolha de Mello Araújo como vice-presidente na chapa do prefeito. O coronel é membro do PL, enquanto Tarcísio é membro do Republicanos. Entre os bolsonaristas, Tarcísio tem sido o mais engajado na campanha de Nunes. O governador transferiu seu registro eleitoral de São José dos Campos, no interior de São Paulo, para a capital paulista, com o objetivo de votar para prefeito. Como mostrou a pesquisa Quaest, Tarcísio surge como melhor militante eleitoral que Bolsonaro na capital paulista.
Além de abrir mão do cargo de vice, Nunes adotou um discurso mais alinhado ao de Bolsonaro. Na audiência promovida pelo site UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo, o prefeito negou que o dia 8 de janeiro tenha sido uma tentativa de golpe de Estado e defendeu a presunção de inocência nas investigações envolvendo Bolsonaro.
Embora Bolsonaro tenha declarado apoio a Nunes nas eleições paulistas, sua participação na pré-campanha do prefeito foi discreta, com poucas aparições públicas ao lado do emedebista. Nas redes sociais, principal meio de comunicação de Bolsonaro com seu ativismo, o ex-presidente também não tem compartilhado fotos ao lado do aliado.
A falta de manifestações de apoio no ambiente digital preocupa aliados de Nunes, que temem que os eleitores de Bolsonaro possam ficar confusos sobre quem é o candidato apoiado pelo ex-presidente. Bolsonaro não segue Nunes no Instagram nem no “X”.
Sem o apoio formal de Bolsonaro, Marçal busca se posicionar como o verdadeiro candidato de Bolsonaro na disputa para prefeito de São Paulo. O ex-técnico usa as redes sociais para divulgar a ideia de que é o candidato “coração” de Bolsonaro. No mês passado, após encontro com o ex-presidente, ele publicou no Instagram uma foto segurando a medalha “imbrocável”, “imortal” e “não comestível”.
A estratégia de Marçal incomodou alguns bolsonaristas. Há duas semanas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou publicamente o que chamou de “recorte malicioso” que Marçal fez de entrevista ao jornal Gazeta do Povo.
“Ele só seleciona os trechos onde comento o lado positivo dele, tirando as ressalvas que fiz. No final, digo: “é mais ou menos aí que eu escolheria meu candidato”, e esse trecho sugere que eu votaria para ele, quando na verdade eu estava me referindo a todo o contexto (parte negativa e positiva)”, diz Eduardo. “Em relação ao meu voto em São Paulo, afirmo que votarei no candidato apoiado por Jair Bolsonaro: Ricardo Nunes”.
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