Às vésperas do início da campanha eleitoral, marcada para 16 de agosto, os candidatos a prefeito de São Paulo correm com os preparativos finais dos programas de governo para a cidade. Mais do que apenas cumprir a exigência prevista na Lei Eleitoral desde 2009, que estabelece o prazo de 15 para entrega de documentos à Justiça Eleitoral, o plano norteará todo o debate sobre as propostas de campanha. Para isso, os principais nomes da corrida da capital contam com figuras experientes e reconhecidas em suas áreas. A lista de coordenadores e integrantes das equipes que elaboram os documentos inclui um ex-governador, deputados, ex-secretários, profissionais renomados e técnicos acostumados a trabalhar nos bastidores.
Tabata tem a maior equipe, coordenada pelo ex-secretário de Covas
Em tamanho, a deputada Tabata Amaral (PSB) não tem concorrente. Com ele, entre voluntários e especialistas, trabalham 750 pessoas. São 36 grupos com um coordenador e mais duas pessoas. Conforme exigência do pré-candidato, todo mundo tem uma mulher e um afrodescendente.
“Essa era uma premissa do Tabata, que os grupos fossem inclusivos e diversificados”, explica a coordenadora dos trabalhos, Vivian Satiro, que foi secretária de Planejamento e Entregas Prioritárias na gestão do prefeito Bruno Covas (1980-2021). O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB) ajudou a atrair apoiadores.
Ter grandes nomes foi considerado fundamental por Tabata. A deputada considera que a parceria com tantos nomes experientes funciona como uma vacina contra o ataque dos adversários que ela é muito jovem (30 anos) e inexperiente para administrar uma cidade com a grandiosidade de São Paulo. Os grupos temáticos formados por Tabata vão desde um item específico para “cracolândia e cenas de uso aberto de drogas”, coordenado por Floriano Pesaro, diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), até o grupo de Proteção Animal, liderado pelo veterinário Édson do Paiol .
Também estão na lista Desenvolvimento Urbano e Urbanismo Social, liderado pela professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Marta Grostein, mãe do apresentador Luciano Huck; Saúde, coordenado por uma das médicas mais renomadas do país, Ludhmila Hajjar. Ainda no grupo estão Luciana Temer, filha do ex-presidente Michel Temer, no item “família”, Andrea Calabi, que foi secretária de Fazenda de São Paulo, presidente do BNDES, presidente do Banco do Brasil (BVMF:), secretária de São Paulo Planejamento, presidente do Ipea e secretária do Tesouro Nacional, e no grupo de Educação, Cláudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial. “É quase um ministério”, brinca Tabata, acrescentando que a linha que norteou o trabalho é a que ela sempre defendeu: “Queremos mudar o rumo das coisas e realizar o sonho de que o filho do rico e do filho dos pobres tenham as mesmas oportunidades”.
Boulos conta com deputado, ex-secretários e dirigente do MTST na produção do programa
O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, já apresentou suas propostas. O programa foi anunciado no dia 1º de agosto. Boulos montou uma equipe com ex-ministros, como o advogado José Carlos Dias e Paulo Vannuchi. Participaram também Cida Perez, ex-secretária de Educação na gestão de Marta Suplicy, responsável pela implantação do CEUS; um dos mais renomados médicos sanitaristas do país, Gonzalo Vecina, que foi um dos idealizadores do SUS na Constituinte, e a professora de arquitetura e urbanismo da USP, Raquel Rolnik.
O trabalho foi coordenado pelo deputado Antonio Donato (PT) e pela economista e ex-dirigente do MTST, Camila Decaso (PSOL). Foram mais de 30 grupos temáticos que consolidaram as diretrizes. A sociedade civil participou através de plenárias públicas que, segundo a campanha, reuniram mais de 12 mil pessoas. O programa é desenvolvido em cinco eixos (saúde, educação, meio ambiente, segurança urbana e empregabilidade).
Na saúde, a promessa é eliminar a fila de espera para exames e procedimentos. Boulos quer criar um programa semelhante ao Mais Médicos, com especialistas. Na educação, o candidato promete implementar a educação integral em todas as escolas municipais da cidade que atendem crianças da educação infantil I e II e também contratar psicólogos para atuar em cada uma delas.
Em termos de oportunidades, a proposta é preparar os jovens para o mercado de trabalho. A ideia é criar centros de oportunidades nas regiões mais carentes da cidade, com cursos profissionalizantes nas áreas de tecnologia e serviços. “Fizemos um diagnóstico abrangente e sabemos quais são os principais problemas da cidade de São Paulo. Não falta dinheiro para a Prefeitura fazer mais e melhor do que vem fazendo. Quero fazer de São Paulo uma cidade com menos desigualdades, que cuide das pessoas, pense no futuro de forma sustentável e dê oportunidades para a população”, disse Boulos ao Estadão.
Plano de Marina Helena é coordenado pela ex-secretária de Guedes
A pré-candidata Marina Helena (Novo), que chefiou a Secretaria Especial de Desestatização do então ministro Paulo Guedes, acredita que sua candidatura cresce entre os paulistanos que valorizam ideias de direita como meritocracia, eficiência da gestão pública e participação da O setor privado. nos serviços públicos. O programa é coordenado pelo economista Carlos da Costa, que também trabalhou com Guedes como secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade e foi um dos formuladores do plano de governo do então candidato Jair Bolsonaro. O documento baseia-se em quatro eixos.
A primeira delas é fazer de São Paulo uma cidade segura e acolhedora; fazer com que a cidade volte a crescer como capital econômica da América Latina; estruturar serviços públicos de qualidade em parceria com o setor privado e, em última instância, melhorar as condições de vida da população paulista. O programa tinha mais de 200 páginas. “Queremos renovar o sonho de vida dos paulistanos. Queremos que acabe essa situação em que expulsamos talentos porque não temos condições de produzir, trabalhar e investir”, afirma Costa.
Ele defende que a Prefeitura mantenha um ambiente de trabalho favorável à iniciativa privada, com segurança, um zelador que deixa a cidade cuidada, que chamam de “bairros do capricho”. Segundo Costa, São Paulo se tornou uma cidade hostil, insegura, onde a educação e a saúde não atendem às necessidades da população. “Não é possível um cidadão ter de esperar mais de 60 dias por uma endoscopia”, queixa-se.
Nunes pede que ex-governador coordene trabalhos
A janela para os demais candidatos, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição, que passou os últimos meses inaugurando obras, pavimentação e outras benfeitorias pela cidade, ainda não tem seu programa de governo pronto. Desde junho, ele realiza reuniões plenárias nas subprefeituras de todas as regiões da capital que, segundo assessores do partido, reuniram entre 150 e 200 pessoas.
O programa, coordenado pelo ex-governador Rodrigo Garcia, também criou o aplicativo “Fala, SP”, por meio do qual os cidadãos podem contribuir online com propostas para a cidade. Garcia acredita que Nunes conseguiu conversar com 12 mil pessoas nas subprefeituras e que o aplicativo teve 40 mil acessos. Com esse material, o plano entra em uma segunda fase em que as demandas da população e as contribuições recebidas serão analisadas e consolidadas e depois repassadas aos grupos de trabalho. Até o momento, um dos consensos – que tem sido recorrente nas propostas da população – é a implantação de uma escola de tempo integral para o ensino fundamental – crianças de 4 e 5 anos. Segundo dados da Prefeitura, hoje a capital atende 100% da população. crianças de 0 a 3 anos em creches e não há fila para conseguir vagas.
“A construção do plano de governo do Ricardo Nunes tem a sua forma de governar, que é ouvir as pessoas de toda a cidade. Na primeira fase, fizemos uma rodada importante com o objetivo de saber o que está indo bem na gestão, o que poderia ser melhorado e o que deve ser feito no futuro. Depois, ouvir os especialistas e discutir novas ideias”, afirma Garcia ao Estadão. Segundo ele, a gestão Ricardo Nunes é bem avaliada com mais de 60% de aprovação. “Mas a população quer mais e o nosso plano terá como diretrizes construir uma cidade mais inclusiva, acolhedora, com mais oportunidades de emprego e prosperidade e preparada para os desafios da inovação e das alterações climáticas, presentes nas maiores cidades do mundo”, disse. explicou.
Datena tem ex-senador e vice-presidente como comandante do plano
Embora sempre preocupados com a possibilidade de José Luiz Datena desistir de tudo e voltar ao seu programa de TV, os tucanos já começaram a trabalhar no programa de governo do apresentador. Coordenada pelo ex-senador José Aníbal, presidente municipal do PSDB, segundo ele, a obra estará pronta na próxima semana.
Segundo Aníbal, o partido quer apresentar o plano como foi feito por Bruno Covas, em que o então candidato citou um setor com problemas ou descaso e, logo em seguida, explicou qual seria sua proposta para melhorar ou resolver esse obstáculo que estava prejudicando a vida . dos cidadãos. “O nosso foco é ter propostas que realmente melhorem a vida das pessoas e não ter conversas e ideias malucas que não levam ninguém a lado nenhum”, disse Aníbal.
As propostas de Marçal são delineadas pelo ex-secretário do partido de Tarcísio. O programa do candidato Pablo Marçal (PRTB) também utilizou eixos para traçar seus objetivos, embora sejam bastante genéricos, por exemplo, no item “Saúde”. Marçal promete “tecnologia para salvar vidas, foco na prevenção e cuidados focados em soluções”. No eixo “Desenvolvimento Social e Econômico”, prevê “proteção e garantia de direitos básicos, jornada de prosperidade: acolhimento, formação, geração de renda e emancipação”.
Em entrevistas dos últimos dias, Marçal também avançou outros projetos, como, durante a audiência UOL/Folha, em que anunciou a ideia de construir um cinturão de teleférico, “rasgando o centro de São Paulo”, e “o maior edifício do mundo”. A equipe que trabalhou no programa foi coordenada pelo empresário Filipe Sabará (Republicanos). Sabará foi secretário executivo de Desenvolvimento Social e presidente do conselho do Fundo Social no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Trabalhou na Prefeitura de São Paulo entre 2017 e 2018, na gestão Doria, na secretaria de assistência e desenvolvimento social. Em 2020, ele próprio tentou concorrer a prefeito, mas foi expulso do partido Novo.
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