O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse a representantes do governo Lula e do Congresso Nacional na manhã desta quinta-feira, 1º, que é proibida a prática de orçamento secreto em todas as suas formas, e não apenas em as clássicas alterações do relator, identificadas no Orçamento pelo código RP-9.
Criado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o orçamento secreto consistia na utilização de emendas de relator para que parlamentares enviassem recursos às cidades onde têm votos, mas sem transparência sobre qual parlamentar patrocinou qual valor. O esquema foi revelado por Estadão.
“O Supremo Tribunal Federal não declarou inconstitucional a falta de transparência do RP-9. O que o Supremo Tribunal Federal… a ratio decidendi, o motivo do Supremo Tribunal Federal para decidir, é que qualquer tipo de orçamento secreto é proibido. na jurisprudência do STF, da chamada continuidade normativa, ou seja, dito de outra forma: não basta mudar o número (do marcador no Orçamento) para mudar a essência se uma execução privada de bens públicos recursos com opacidade na modalidade PR não é possível, da mesma forma que isso é proibido em qualquer outra classificação, caso contrário não haveria mais controle de constitucionalidade no país”, disse.
A audiência de conciliação foi convocada pelo ministro Flávio Dino em meados de junho deste ano. Na avaliação do ministro, não há indícios de que o Executivo e o Congresso tenham interrompido a prática do Orçamento Secreto. “Até o momento, não houve comprovação cabal nos autos do integral cumprimento desta ordem judicial”, escreveu Dino, referindo-se à decisão do STF de dezembro de 2022, que julgou inconstitucional a prática do orçamento secreto.
Participam do encontro representantes da Câmara dos Deputados, do Senado, do Ministério Público e do Poder Executivo, além de organizações como Transparência Internacional, Transparência Brasil e partidos políticos.
Ao iniciar a reunião, Dino explicou que há três pontos a discutir: a transparência dos “padrinhos” e “madrinhas” das indicações do orçamento secreto original; a falta de transparência na execução dos restos a pagar pelas alterações do relator; e a contínua distribuição de emendas sem transparência, principalmente por meio de emendas de comissão (RP-8).
“A primeira questão é: essa determinação do Supremo foi cumprida, no que diz respeito aos anos de 2020 a 2022? A segunda: os saldos a pagar das alterações do relator, de 2023 e 2024, estão atendendo a esse comando? terceiro ponto: foi identificado nos autos que uma parte, uma parcela ou a totalidade dos fundos anteriormente classificados como RP-9 podem ter migrado para as alterações da comissão, o RP-8, no atual exercício social de 2024?, disse Dino.
A audiência desta quinta é resultado de pressões de entidades da sociedade civil, como Contas Abertas, Transparência Brasil e Transparência Internacional. Eles atuam como “amigos do Tribunal” na Ação de Descumprimento de Preceitos Fundamentais (ADPF) 854, apresentada em junho de 2021 pelo PSOL. Em recentes manifestações ao STF, as entidades demonstraram a continuidade da prática do Orçamento Secreto, inclusive mencionando relatórios do Estadão.
Como mostrou o jornal, a destinação de recursos sem transparência continuou durante o governo Lula, de diferentes formas. Uma delas é a execução do “ativo” de R$ 9,85 bilhões do orçamento secreto ao longo de 2023, com pagamentos de sobras a serem pagos neste ano. Há também execução de restos a pagar do orçamento secreto original de Bolsonaro, já no governo Lula. Por fim, as alterações da comissão apresentam problemas semelhantes aos do orçamento secreto original, uma vez que não é possível conhecer os “padrinhos” das nomeações – as negociações para envio destas alterações são feitas de forma informal.
“A polêmica gira em torno da publicidade, da transparência da execução do RP-9. Na decisão foi estabelecido um prazo para que haja plena publicidade de tudo o que for destinado ou executado sob esta classificação do RP-9. que ainda não houve cumprimento integral desta decisão, em alguns casos, talvez, inclusive por indisponibilidade de dados nos diversos departamentos que executam o orçamento da União”, disse Dino.
“E há outra questão: a decisão refere-se obviamente ao passado, mas também tem uma dimensão prospectiva, uma vez que o RP-9 continua a ser executado sob a forma de valores pendentes a pagar. estes dois temas temos a questão do passado e temos os temas da execução dos restantes pagamentos”, acrescentou.
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