Antes da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT divulgou um comunicado no qual elogiava a eleição na Venezuela e desconsiderava as suspeitas em torno do resultado anunciado ao tratar Nicolás Maduro como um presidente “reeleito”. A nota assinada pela Executiva Nacional do partido foi partilhada e endossada pelos dirigentes partidários, mas suscitou duras críticas por parte da oposição do país.
Na publicação, feita no site do partido, o PT chamou o ditador de “presidente Nicolás Maduro, agora reeleito” e defendeu que ele “continue o diálogo com a oposição”. A ditadura chavista tem um histórico de prisão de opositores políticos e alguns dos principais opositores de Maduro foram proibidos de concorrer.
A publicação dos resultados eleitorais, feita pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo governo de Maduro, ocorreu sem a publicação da ata de votação e com a barragem dos observadores eleitorais. A postura gerou forte repercussão internacional, protestos e violência nas ruas de Caracas e em diversas regiões do país, especialmente depois que as pesquisas indicavam uma ampla vitória da oposição.
Apesar disso, o PT classificou o processo como “uma jornada pacífica, democrática e soberana”. O partido também culpou as sanções internacionais, impostas devido às ações autoritárias de Maduro, como responsáveis pelos “graves problemas” da Venezuela.
O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) publicou críticas ao partido do presidente no X (antigo Twitter). Na postagem com foto de Lula com microfone nas mãos e dedo levantado, Moro classificou a nota como “vergonhosa”, referiu-se a Maduro como “tirano de Caracas” e disse que o apoio “confirma os piores temores que o partido de Lula representa riscos à democracia.”
No núcleo duro de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deputados e senadores também usaram as redes sociais para criticar o PT. O senador Rogério Marinho (PL-RN) disse que o apoio do partido às “ditaduras sanguinárias e repressivas” é “uma surpresa para zero gente (sic)”. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, usou seu perfil no X para dizer que “não é possível” que as pessoas ainda acreditem que Lula e o PT defendem a democracia.
Líder
Embora apoiada por dirigentes e quadros de destaque, a afirmação do PT não foi unânime dentro do partido. O senador Randolfe Rodrigues (AP), recentemente filiado ao PT e líder do governo Lula no Congresso, divergiu da posição oficial do partido e declarou que a eleição presidencial na Venezuela foi “sem idoneidade”. “Uma eleição em que os resultados não podem ser certificados e onde os observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem integridade”, disse o senador à CNN Brasil.
Ao divergir da posição oficial do PT, Randolfe discordou de colegas de partido, como a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do partido, que replicou a nota oficial do partido em seu perfil X.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também criticou o processo eleitoral da Venezuela, pouco antes da publicação da nota oficial do PT, dizendo que a reeleição de Maduro, a quem se referiu como ditador, suscita dúvidas por “contradizer a vontade popular demonstrada nas urnas”.
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