Paschoal Carmello Leandro se aposentou no dia 4 de julho; Agora, o Tribunal de Justiça terá de nomear outro juiz
Após 42 anos de carreira no Judiciário, na tarde do dia 4 de julho, o desembargador Paschoal Carmello Leandro participou de sua última sessão de julgamento na 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), em decorrência de que irá a delação premiada feita pelo ex-servidor municipal de Sidrolândia Tiago Basso da Silva contra a prefeita Vanda Camilo (PP), que também esteve envolvida no suposto esquema de corrupção de seu genro, o vereador licenciado Claudinho Serra (PSDB), na prefeitura.
Segundo informações prestadas ao Correio do Estado pelo advogado Wellison Muchiutti, responsável pela defesa de Tiago Basso e que acompanhou toda a delação premiada até os procuradores do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) e do Grupo de Ação Especial de Repressão às Organizações Crime (Gaeco), Paschoal Carmello Leandro teria sido o juiz responsável por receber e homologar a denúncia feita pelo ex-servidor municipal contra Vanda Camilo.
“Com a aposentadoria do juiz Paschoal Carmello Leandro, que foi responsável por receber e aprovar a delação do meu cliente, um novo magistrado terá que substituí-lo, e, enquanto isso, a denúncia feita por Tiago Basso contra o prefeito de Sidrolândia não será pode continuar”, revelou Wellison Muchiutti, explicando que não poderia dar mais detalhes sobre o que o cliente revelou aos promotores sobre o envolvimento de Vanda Camila no esquema de corrupção por se tratar de segredo judicial.
Sem a autorização da 1ª Câmara Criminal do TJMS, os procuradores do Gecoc e do Gaeco não podem iniciar a quarta fase da Operação Tromper, pois a prefeita Vanda Camilo tem foro privilegiado e, portanto, apenas o Tribunal tem competência para julgar gestores municipais. Porém, segundo a advogada, ela estava envolvida na organização criminosa focada em fraudes em licitações e contratos administrativos com a prefeitura de Sidrolândia, além de pagar propina a agentes públicos municipais.
Devido à retirada do sigilo da primeira parte do depoimento de Tiago Basso, os vídeos gravados durante os depoimentos ao Gecoc e ao Gaeco foram amplamente divulgados, porém, a parte que envolveria o prefeito de Sidrolândia ainda não foi divulgada , aguardando autorização do TJMS para que o Ministério Público coloque nas ruas o que seria a quarta fase da Operação Tromper.
A 1ª Câmara Criminal do TJMS foi composta pelos desembargadores Paschoal Carmello Leandro (presidente), Jonas Hass Silva Júnior, Emerson Cafure e Elizabete Anache. Porém, com a aposentadoria de Paschoal Carmello Leandro, a presidência passou automaticamente para Elizabete Anache, porém, outro magistrado deverá ser nomeado para ocupar o lugar do juiz aposentado para que a 1ª Câmara Criminal volte a ser completada.
PARTE DA DELAÇÃO
A parte do depoimento de Tiago Basso que cita apenas a suposta participação da prefeita Vanda Camilo foi nomeada pelos procuradores Adriano Lobo Viana de Resende e Bianka Machado Arruda Mendes como Anexo 4 e não foi incluída na parte que teve a quebra de sigilo autorizada pelo juiz Fernando Moreira Freitas da Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia.
Porém, o trecho que veio a público revelou a aquisição fraudulenta de um smartphone da Apple para o chefe do Executivo municipal. Tiago Basso apenas mencionou que o prefeito de Sidrolândia “havia adquirido fraudulentamente um celular, marca Apple, modelo iPhone 14, ordenando a construção de um moderno ponto de mototáxi naquela cidade, bem como ordenando a manutenção dos aparelhos de ar condicionado da residência”. disso, todos esses atos praticados, em tese, com desvio de recursos públicos”.
No entanto, os promotores lembraram ao juiz Paschoal Carmello Leandro que não há ligação com os episódios investigados pela terceira fase da Operação Tromper. “Caso houvesse ligação entre todos os episódios declinados nas declarações prestadas pelo colaborador nos Anexos I, II, III e IV, o foro originário para processar e julgar seria este Tribunal, nos termos do art. 129-A, inciso I, alínea ‘a’, do Regimento Interno do TJMS, tendo em vista que o prefeito do município de Sidrolândia é a autoridade competente por prerrogativa de função”, trouxe trecho do despacho.
O nome do autarca também apareceu quando Tiago Basso falou do possível envolvimento do Instituto de Consultoria Multidisciplinar (Imdico) no esquema fraudulento. A empresa aparece no depoimento quando o promotor Adriano Lobo Viana de Resende questiona o informante sobre quem seria a pessoa chamada simplesmente de “Rafael” – não confundir com Rafael Soares Rodrigues, que estava à frente da Secretaria Municipal de Educação de Sidrolândia e foi exonerado após ser preso por envolvimento no esquema – mencionado em alguns momentos do depoimento.
“Esse Rafael é sobrinho do prefeito [Vanda Camilo, do PP]. Ele estava sempre lá, conosco [sic]lá na secretaria [Sefate], estava sempre no meu quarto. Até o pessoal brincou que meu quarto já era muito pequeno e que não cabia ninguém lá, mas o Carlos entrou [ex-secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Alves da Silva, o Pitó] e o Rafael lá e ficaram o dia todo sentados”, explicou Tiago Basso ao procurador.
Continuando o depoimento, o denunciante disse que estranhou Rafael, pois na primeira vez que se encontraram em seu escritório na Sefate ele já trazia uma fatura da Imdico. “Na primeira vez ele me trouxe um bilhete da empresa chamada Imdico. Imdico com eme, certo? Imdico com eme. E ele deixou lá comigo”, revelou.
Nesse momento, o procurador interrompeu Tiago Basso, dizendo que, em relação a este caso, o assunto seria tratado em outro anexo – Anexo 4 acima mencionado – pois não faria parte da investigação principal. “Vamos tratar isso como um anexo, se for diferente de outra situação, vamos nos limitar aqui. Esse Rafael não teve nada a ver com o que está descrito na denúncia?”, questionou Adriano Lobo.
Em resposta, o denunciante disse que não. “Não, o Rafael não tem nada a ver com essa parte da denúncia. Ele é sobrinho do prefeito que morava lá”, lembrou, reforçando novamente que o menino seria sobrinho do prefeito.
Mais uma vez o procurador explica que esta questão será tratada noutro anexo – mais uma vez refere-se ao Anexo 4. “Há outro anexo que será específico sobre outros assuntos. Há mais alguma coisa sobre a reclamação que você lembra? Ele perguntou novamente, recebendo resposta negativa do denunciante. “Não, o que eu lembro é isso”, concluiu.
MUDANÇA DE CIDADE
Preocupado com a sua segurança e a de sua família, Tiago Basso teve que deixar a cidade após denunciar o suposto esquema de corrupção liderado pelo vereador licenciado Claudinho Serra na prefeitura de Sidrolândia. A gestora municipal Vanda Camilo, pré-candidata à reeleição, é sogra de Serra.
Segundo Wellison Muchiutti, Tiago Basso deixou Sidrolândia em outubro do ano passado por temer possíveis retaliações dos acusados. “Não posso revelar para onde foi o meu cliente para não dar pistas do seu paradeiro, só posso dizer que ele saiu da cidade. Não sei dizer se ele ainda está no Mato Grosso do Sul ou em outro estado brasileiro, mas só fez isso por questão de segurança, não residindo mais em Sidrolândia”, revelou.
Na delação premiada que fez no ano passado, o ex-funcionário municipal de Sidrolândia apontou o envolvimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no esquema de corrupção na prefeitura.
Em um de seus depoimentos ao Ministério Público, Tiago Basso disse que, ao ser preso com Ueverton da Silva Macedo, Frescura e Roberto Valenzuela na Penitenciária de Trânsito de Campo Grande, em julho de 2023, percebeu que o PCC estaria envolvido no esquema .
“Nós três estávamos com problemas [gíria para o local onde os presos recém-chegados ficam] na sexta, sábado e domingo. Na segunda-feira fomos transferidos para a mesma cela, a cela 8 do presídio. Então, estávamos juntos na mesma cela, e todo mundo na hora ficou surpreso lá, porque geralmente as pessoas não saem do corro há menos de 10 dias”, disse ele, citando que havia presos no corro há mais de 14 dias e eles estavam sozinhos. 3 dias.
Na cela 8, o ex-servo disse que conversaram muito sobre a Operação Tromper, mas Frescura disse para ele ficar calmo, que partiriam em no máximo 15 dias. “Mas quando vi que não era isso mesmo, que a coisa era muito mais grave do que me contaram, perguntei a Frescura sobre a possibilidade de eu fazer, de nós fazermos, um acordo de delação premiada. Ele ficou chateado e naquele dia não quis mais falar comigo”, revelou.
Tiago Basso explicou que Frescura só falou com ele dois dias depois. “No domingo, ele me ligou para conversar. Aí andamos pelo tribunal, só nós dois conversando, e ele disse: ‘Ah, vou ser muito honesto com você, se você tomar a decisão de fazer um acordo judicial, pode ter certeza de que antes do meu mãe chora, a mãe que vai chorar primeiro será a sua”, lembrou, revelando que ficou longe de Frescura até sair da prisão.
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