Em publicação que homenageia o símbolo da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que vigorou na África do Sul no século passado, o Instituto Lula, ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comparou as trajetórias do Membro do PT e líder sul-africano.
Segundo a fundação, tanto Lula quanto Mandela “foram perseguidos, condenados e presos sem terem cometido nenhum crime”. A publicação do instituto afirma ainda que ambos foram “vítimas de injustiça”.
A comparação do Instituto Lula não é a primeira a equiparar o petista ao ex-líder contra a segregação racial. Em junho de 2023, o advogado Cristiano Zanin, indicado por Lula para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), foi questionado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Zanin foi advogado de Lula antes de assumir o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Elogiando a indicação, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, argumentou que a situação era semelhante ao que Nelson Mandela havia feito na África do Sul.
“O presidente da República, depois de um longo período preso, nomeou seu advogado para o Tribunal. Mas o presidente não foi Lula, foi Nelson Mandela. Ele teve a honra de ser indicado por Luiz Inácio Lula da Silva, a nomeação qualifica ele”, afirmou Randolfe, referindo-se a Zanin.
Ainda durante a audiência, o paralelo entre o petista e Mandela foi criticado por Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição. “Gostaria que o espírito do presidente Lula fosse o mesmo de Nelson Mandela”, disse o senador.
Antes da comparação durante a audiência, apoiadores de Lula já haviam feito o paralelo nas redes sociais.
Em abril de 2018, quando o petista foi preso, uma montagem com a inscrição “De vez em quando prendem um Lula”, comparando o então ex-presidente brasileiro a nomes como Gandhi, Martin Luther King e Mandela, foi replicada por perfis como das deputadas Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS) e Paulo Pimenta (PT-RS), ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Antes disso, o próprio Lula, no dia da morte de Nelson Mandela, já havia se comparado ao líder sul-africano. Era 5 de dezembro de 2013 quando o petista participou de um evento em Diadema, na Grande São Paulo. Antes de iniciar seu discurso, pediu um minuto de silêncio em homenagem a Mandela, que faleceu horas antes do horário previsto.
“Uma das pessoas mais extraordinárias que já conheci”, disse Lula sobre o sul-africano. Ela afirmou então que havia um paralelo entre sua trajetória como líder sindical e a de Mandela como líder na luta contra o apartheid.
“Não fazia sentido a maioria negra ser governada pela minoria branca. A mesma coisa aconteceu comigo”, disse Lula, afirmando que, no seu caso, a maioria dos trabalhadores, dos quais fazia parte, não era governado por outros trabalhadores.
O que foi o apartheid?
O apartheid foi a regra de segregação racial que governou a África do Sul na segunda metade do século XX, de 1948 a 1993. Mandela estava engajado na luta pelos direitos civis desde o início da década de 1940, quando surgiu uma ordem social racista.
Com o apartheid e o agravamento da situação, foi processado por vários crimes de traição e conspiração contra o Estado sul-africano. Num desses julgamentos, em 1964, foi condenado à prisão perpétua.
O Estado que o acusou de conspiração, porém, foi criador de uma ordem social racista, que discriminou, na lei, entre direitos desiguais para brancos e negros, além de segregar espacialmente as etnias do país.
Durante os anos em que esteve na prisão, tornou-se o símbolo da resistência ao regime racista. Sob pressão internacional, Mandela foi libertado pelo presidente Frederik de Klerk em 1990. Nas eleições presidenciais seguintes, em 1994, foi eleito chefe de Estado e liderou a África do Sul nos primeiros anos após a abolição do apartheid.
Enquanto Mandela foi condenado pelo combate ao racismo por um Estado de instituições racistas – num processo, portanto, viciado em si mesmo -, Lula teve acesso ao devido processo legal no caso em que acabou condenado à prisão por corrupção, envolvendo uma apartamento triplex no Guarujá.
Além das garantias contraditórias a que teve direito durante o processo, quando o caso foi julgado na 13ª Vara Federal de Curitiba, na gestão do então desembargador Sérgio Moro, Lula teve acesso a órgãos recursais, como o Tribunal Regional Federal do 4ª Região (TRF-4) e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em julho de 2017, Moro condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão pelo caso do triplex do Guarujá. No TRF-4, em janeiro de 2018, a pena foi aumentada. O petista também recorreu aos chamados “embargos de esclarecimento”, que são os recursos possíveis após a determinação de uma sentença. Depois de esgotadas todas as garantias legais de Lula, Moro ordenou a prisão do então ex-presidente em abril de 2018.
Em 2019, após meses de prisão, o petista foi beneficiado por uma mudança de entendimento do STF com repercussão geral, segundo a qual a prisão não poderia ser decretada após o julgamento em segunda instância.
Em 2021, por oito votos a três, o STF anulou a condenação de Lula. O entendimento predominante para a anulação foi que a denúncia envolvendo o petista não deveria ter sido julgada em Curitiba, mas sim em Brasília.
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