O governo Luiz Inácio Lula da Silva impôs 100 anos de sigilo e negou acesso a documento fornecido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para avaliar possível conflito de interesses no exercício do cargo. Desde a campanha eleitoral de 2022, Lula critica decisões do governo Jair Bolsonaro, que manteve informações consideradas segredo público pelo mesmo período.
O documento, uma Declaração de Conflito de Interesses (DCI), é obrigatoriamente entregue no Palácio do Planalto para informar se parentes até o terceiro grau exercem atividades que possam resultar em incompatibilidade com a função de ministro. A informação foi revelada pelo UOL, que interpôs pelo menos três recursos até a última instância.
A palavra final veio da Comissão Conjunta de Reavaliação de Informações (CMRI). O colegiado afirmou que o documento está “integralmente protegido pelo sigilo fiscal”. Procurados, o Palácio do Planalto e Silvera não responderam.
Em maio do ano passado, Lula assinou decretos que atualizaram a Lei de Acesso à Informação (LAI), durante evento em homenagem aos 11 anos da lei. Uma das mudanças tratou justamente dos documentos mantidos em sigilo há 100 anos, por conterem informações pessoais e íntimas.
Nestes casos, a agência deve ocultar os dados pessoais, e o restante do conteúdo poderá ser divulgado. Durante o processo, o UOL chegou a argumentar sobre a possibilidade de “redigir” parte do documento, mas não obteve a liberação de nenhuma parte do documento.
O painel que tomou a decisão final salienta ainda que a Presidência substituiu as antigas Declarações de Informações Confidenciais (DCI) pela Declaração de Conflito de Interesses. Com isso, determinou que os ministros apresentassem à Comissão de Ética da Presidência da República informações mais extensas e detalhadas do que as legalmente protegidas pelo sigilo fiscal, como uma situação patrimonial específica que suscite ou possa eventualmente dar origem a um conflito de interesses.
“(Bolsonaro) não exigiu a investigação de (Fabrício) Queiroz (suspeito de mediar um esquema de crack no gabinete de Flávio Bolsonaro), de seus filhos ou das denúncias da CPI contra Pazuello (ex-ministro da Saúde. Ele não só coloca sujeira debaixo do tapete , pois se transforma em sigilo centenário”, disse Lula durante sua campanha.
O GLOBO mostrou no ano passado que o governo Lula registra índice próximo ao de Bolsonaro, segundo dados do Painel da Lei de Acesso à Informação (LAI), que compila estatísticas sobre respostas dadas pelo Executivo.
Em ambos os governos, a principal justificativa para negar a divulgação de informações é a alegação de que se trata de “dados pessoais”.
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