O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta segunda-feira, 15, que não considera a invasão da sede dos Três Poderes em Brasília uma tentativa de golpe.
Em audiência promovida pelo site UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo, Nunes, que se autodenomina um “extremista defensor da democracia”, também comparou o dia 8 de janeiro à invasão do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em prédios do Ministério do Tesouro em Brasília e São Paulo, em 2015, episódio em que participou seu adversário, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).
“Essas pessoas que vimos lá, a grande maioria (são) pessoas humildes, vendedores ambulantes, reformados”, sustentou Nunes, que continuou.
“Eles cometeram um erro gravíssimo, têm que pagar por isso, mas acho que está muito longe de podermos dizer que aquelas pessoas tinham a intenção de dar um golpe de Estado”, afirmou o chefe da Assembleia de São Paulo. Paulo Executivo, que classificou o 8 de janeiro como um “ataque ao patrimônio público” e, assim como outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), rejeitou as sentenças dadas aos envolvidos.
O episódio de 8 de janeiro não é, porém, um caso isolado. A Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal em 8 de fevereiro deste ano, investiga uma organização criminosa suspeita de tentar dar um golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito após as eleições de 2022.
Segundo as investigações, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro estiveram envolvidos na execução desse plano, que tinha três objetivos: desacreditar o processo eleitoral, planejar e executar o golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito, garantindo o mesmo grupo permanência no poder.
Bolsonaro é apontado como organizador do plano, tendo supostamente redigido e ajustado o anteprojeto do golpe, que incluía a convocação de novas eleições e a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Nunes comparou, mais de uma vez, o dia 8 de janeiro a 23 de setembro de 2015, quando integrantes do MTST invadiram os prédios do Ministério da Fazenda para protestar contra a proposta de ajuste fiscal e a política econômica do governo da então presidente Dilma Rousseff. Na época, Boulos era coordenador do MTST.
“Se formos no Google e colocarmos ‘Boulos invade ministério’, a capa vai ver uma foto do Boulos na mesa de uma invasão de prédio público do Ministério da Fazenda. Não há diferença em relação à questão das invasões de edifícios públicos (de 8 de janeiro)”, disse Nunes, que se afirmou um “defensor extremista da democracia”.
“Se há algo de extremo em mim, são duas coisas: vim da periferia da cidade, da periferia, e sou um extremista a favor da democracia”.
Nunes volta a rejeitar o rótulo bolsonarista
Assim como fez em outras entrevistas, o prefeito rejeitou ser rotulado de “bolsonarista”, declarando-se um “ricardista” e um “apaixonado pela cidade”. Na tentativa de se distanciar de Bolsonaro, Nunes enfatizou sua abertura ao diálogo com vereadores de todos os partidos e seu respeito por posições opostas.
Ao abordar o apoio de Bolsonaro à sua pré-candidatura, Nunes destacou o acordo entre a prefeitura e o governo federal que resultou na extinção da dívida de São Paulo com a União, em troca da transferência do Campo de Marte para a Aeronáutica. Ele também mencionou que Pablo Marçal (PRTB), pré-candidato a prefeito de São Paulo que busca o apoio de apoiadores de Bolsonaro, já criticou Bolsonaro no passado.
“Sou ricardiano e trabalhei muito para ter o apoio do presidente Bolsonaro. Sou grato e feliz por ter o apoio do presidente Bolsonaro. você, que eu critiquei o presidente Bolsonaro Pelo contrário, muitas vezes expressei gratidão pelo que o presidente Bolsonaro fez pela cidade, que fomos nós, em uma negociação, acabando com a dívida de R$ 25 bilhões da cidade Pablo (Marçal), vemos uma série. de vídeos dele criticando (Bolsonaro) no passado.”
Em entrevista ao Roda Viva, em julho de 2021, porém, Nunes classificou tanto Lula quanto Bolsonaro como “extremistas” e criticou a defesa de Bolsonaro, então presidente da República, pelo voto impresso, considerando-a “totalmente inadequada” e “sem sentido”. .
Na mesma ocasião, o autarca destacou ainda que é “totalmente fora de contexto e de momento” pôr em causa o processo eleitoral, como fez Bolsonaro, e defendeu uma candidatura centrista nas eleições presidenciais de 2022.
Questionado sobre as investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo um suposto esquema de espionagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Nunes voltou a citar a presunção de inocência e enfatizou a importância de aguardar a conclusão das investigações.
Ele comparou ao episódio da Escola Base, em que os donos de uma escola infantil em São Paulo foram acusados injustamente de abuso sexual.
Nunes evitou comentar a relação entre o ex-prefeito Bruno Covas, de quem foi vice, e Bolsonaro. Durante seu mandato como presidente, Bolsonaro referiu-se a Covas como “o outro, que morreu”, declaração que criticou na época.
O prefeito enfatizou que não é obrigado a concordar com tudo o que Bolsonaro diz e vice-versa. Ainda falando sobre a aliança, defendeu que, no atual momento político, é de “fundamental importância” derrotar a “extrema esquerda”.
Nunes procurou associar Guilherme Boulos, com quem está tecnicamente vinculado na última pesquisa Datafolha, à suposta prática de cisão do deputado federal André Janones (Avante-MG).
Durante a sabatina, ele disse que Boulos “fez a cortina” sobre Janones por ter votado pelo arquivamento da representação contra o parlamentar no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Segundo o prefeito, Boulos “legalizou o crack”.
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