Na noite desta quarta-feira, 10, a Câmara dos Deputados aprovou o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária. O texto, que altera a tributação de bens de uso diário, segue agora para análise no Senado. O projeto aprovado incluiu o bloqueio da alíquota do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que não deverá ultrapassar 26,5%, e incluiu a carne na cesta básica com imposto zero, após pressão do setor alimentício, da bancada do agronegócio e do setor defesa do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto também inclui o carvão no chamado “imposto do pecado”, que incidirá sobre produtos considerados nocivos à saúde e ao meio ambiente, amplia o “cashback” e reduz a alíquota de uma série de medicamentos.
Veja abaixo as alterações feitas pelos deputados:
1. Cesta básica
A inclusão da carne na cesta básica vinha sendo o principal debate regulatório no Congresso nos últimos dias. O texto base da proposta foi aprovado sem proteínas animais na lista de produtos isentos. Porém, durante a votação das sugestões de mudanças (os chamados destaques), o relator Reginaldo Lopes (PT-MG) informou que decidiu atender às demandas e passou a defender a aprovação do destaque apresentado pela oposição. A proposta previa a inclusão de carne, queijo e sal na cesta básica com taxa zero. Anteriormente, Lopes já havia ampliado a cesta básica com isenção total zero para incluir óleo, aveia e farinha.
2. Taxa reduzida
No texto base, o relator já tinha retirado o salmão e o atum da taxa “integral” de IVA. Esses itens migraram para o grupo com desconto de 60% em relação à tarifa padrão. Pão fatiado e extrato de tomate também foram contemplados pela alíquota reduzida – antes, eram cobrados integralmente. Outra solicitação dos ruralistas atendida foi a inclusão de nove itens na categoria de insumos agrícolas e aquícolas, que também contam com redução de 60% do IVA.
3. Bloqueio para IVA
Perante o receio de um aumento da taxa normal, os deputados incluíram um bloqueio no texto para evitar que a carga do IVA suba acima dos 26,5%, como inicialmente projetado pela equipa económica. O bloqueio entraria em vigor a partir de 2033, após o período de transição da reforma tributária, que começa em 2026. Caso a alíquota ultrapasse o limite, o governo será obrigado a formular, em conjunto com o Comitê Gestor do IBS, um projeto de lei complementar com medidas para reduzir a carga tributária.
4. ‘Imposto sobre o Pecado’
O texto aprovado pela Câmara incluiu o carvão mineral na lista de produtos sujeitos ao Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”, que incidirá sobre itens considerados nocivos à saúde e ao meio ambiente. Por outro lado, o texto cria um bloqueio de 0,25% na alíquota Seletiva que incidirá sobre os bens minerais extraídos, como , e . Também foram incluídos os jogos de azar físicos e digitais (como apostas desportivas, “apostas”), bem como os veículos elétricos. O “imposto sobre o pecado” também se aplicará a carros a combustão e híbridos, aeronaves, barcos, cigarros, bebidas alcoólicas e açucaradas. Nas negociações de última hora, os fabricantes de cerveja conseguiram aumentar a progressividade da Seletiva de acordo com o teor alcoólico. Esta é uma vitória das cervejarias sobre os produtores de bebidas espirituosas. O texto aprovado pela Câmara prevê que a alíquota percentual também poderá ser diferenciada por categoria de produto e ser progressiva em função do teor alcoólico – como já estava previsto para a alíquota fixa.
5. Medicamentos
Para os medicamentos, foi concedida redução de 60% nas alíquotas para todos os registrados na Anvisa ou produzidos em farmácias de manipulação. Anteriormente, esses medicamentos eram divididos entre desconto de 60% e valor integral. Outra parte dos medicamentos ficará totalmente isenta – isso não foi alterado. A relatora também considerou a demanda da bancada feminina e incluiu o DIU (Dispositivo Intrauterino, método anticoncepcional) e a camisinha na lista de dispositivos médicos com redução de 60% do IVA. Além disso, os deputados zeraram a alíquota de produtos relacionados à saúde menstrual, como absorventes higiênicos – o projeto enviado pelo governo previa apenas redução de 60% no imposto. O Viagra (citrato de sildenafila), usado no tratamento de disfunção erétil e hipertensão pulmonar, foi retirado da lista de isentos e passou para a tarifa reduzida, com desconto de 60%.
6. ‘Reembolso’
O texto ampliou o “cashback” – sistema de devolução de parte do imposto pago a pessoas de baixa renda. A proposta aumenta a rentabilidade do CBS (o IVA sob jurisdição da União) de 50% para 100% nas operações que envolvam fornecimento de energia elétrica, água, esgoto e gás natural canalizado.
7. Plano de saúde e animais de estimação
O texto autoriza empresas a se habilitarem aos planos coletivos de saúde previstos na convenção, o que antes era proibido pela proposta do Tesouro. Os deputados também incluíram planos de saúde para animais domésticos, animais de estimação, com alíquota reduzida em 30%.
8. Montadoras
O benefício extra concedido às montadoras localizadas na Região Nordeste foi mitigado na versão aprovada pela Câmara. Pelo acordo, o crédito presumido (a ser descontado do Imposto Automóvel) às montadoras localizadas no Nordeste será de 11,60%, e não superior a 14,5%, conforme previsto no parecer inicial dos deputados.
9. ‘Nanoempreendedor’
O projeto aprovado pelos deputados cria a figura do “nanoempreendedor”, que terá tratamento diferenciado em relação ao Microempreendedor Individual (MEI). O texto estabelece que nanoempreendedor é aquele que fatura menos de R$ 40,5 mil por ano. Quem atender a esse critério não será contribuinte do IBS e do CBS, a menos que faça essa opção, e não haverá contribuição previdenciária.
10. Bares e restaurantes
A Câmara atendeu às solicitações do setor de bares e restaurantes e alterou as regras deste regime específico. A nova versão do texto prevê que os estabelecimentos poderão apropriar-se de créditos de IVA sobre suas compras, que serão utilizados para dedução de impostos futuros.
11. Devolução de créditos
O texto da Câmara reduziu de 60 para 30 dias o prazo para reembolso de créditos às empresas que não conseguem deduzir todos os impostos acumulados ao longo da cadeia produtiva. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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