Com mais de 400 páginas, o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o estojo de joias contém uma série de elementos que indicam a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no desvio e venda de presentes de luxo recebidos durante seu mandato. na Presidência da República. Mensagens, fotografias e documentos analisados pela investigação mostram que Bolsonaro sabia do esquema que, segundo a PF, desviou R$ 6,8 milhões em joias da União.
A defesa de Bolsonaro nega irregularidades e diz que os presentes recebidos pelo ex-presidente seguiram rígido protocolo de tratamento e catalogação pela Delegacia de Documentação Histórica (GADH), sem influência do chefe do Executivo. No X (antigo Twitter), Bolsonaro disse que aguardava que a PF fizesse “correções” na investigação. “O último será aquele dizendo que todas as joias ‘desviadas’ estão na CEF [Caixa Econômica Federal]cobrança ou PF, inclusive armas de fogo”, escreveu.
Bolsonaro foi indiciado na semana passada pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Abaixo, veja as provas colhidas pela PF contra o ex-presidente ao longo da investigação:
‘Selva’
A Polícia Federal indica no relatório que Bolsonaro tinha conhecimento de que as joias roubadas seriam vendidas em leilões. Isso porque, no dia 4 de fevereiro de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid enviou o link do leilão do “kit rosé” para o contato do ex-presidente. O evento aconteceria quatro dias depois. Bolsonaro respondeu: “Selva”, um jargão militar. A PF confirmou, por meio de exame do celular apreendido do ex-presidente, que Bolsonaro acessou o site da empresa Leilão Fortuna, responsável pelo leilão.
Subtração de ativos
Segundo o relatório da PF, o ex-presidente “subtraiu diretamente” esculturas douradas de um barco e uma árvore e um relógio Patek Philippe. Esses bens, segundo a Polícia Federal, foram desviados do acervo público brasileiro, sem registro na Delegacia de Documentação Histórica (GADH) da Presidência da República, e posteriormente vendidos nos Estados Unidos.
Foto de Patek Philippe
Metadados de fotografias armazenadas no computador de Mauro Cid indicam que Bolsonaro tinha conhecimento de que um relógio Patek Philippe também foi desviado e vendido. O item foi recebido pelo ex-presidente em novembro de 2021, no Bahrein. O ex-ajudante de campo enviou a Bolsonaro uma foto do certificado do relógio e um print de uma pesquisa na internet mostrando o valor do Patek Philippe. A defesa de Bolsonaro havia relatado inicialmente que o ex-presidente nem sabia da existência do relógio da marca suíça.
Avião presidencial
A Polícia Federal revela que as mercadorias de alto valor foram levadas do Brasil para os Estados Unidos através do avião presidencial. “Inicialmente, com o objetivo de distanciar e ocultar os atos ilícitos de venda de bens de autoridades brasileiras e posteriormente reintegra-los ao seu patrimônio, por meio de recursos em espécie, o então presidente Jair Bolsonaro, com o auxílio de seu ajudante de campo, Mauro Cid, utilizou o avião presidencial, a coberto de viagem oficial do então chefe de Estado brasileiro, para enviar secretamente as joias aos Estados Unidos.”
Gastando nos EUA
A Polícia Federal indicou que Bolsonaro utilizou dinheiro obtido com a venda de joias desviadas da Presidência da República para cobrir despesas pessoais e familiares durante sua estadia de três meses nos Estados Unidos, no início de 2023. A investigação mostrou que o ex-presidente não o fez. utilizou recursos de suas contas bancárias no Brasil e nos EUA para cobrir suas despesas nesse período, sugerindo que os recursos provenientes da venda ilícita das joias foram utilizados para cobrir despesas suas e de sua família em solo norte-americano.
Dinheiro vivo
Em áudio obtido pela Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid afirma que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, estava em posse de US$ 25 mil, que deveriam ser entregues em dinheiro a Bolsonaro. “Acho que quanto menos movimentação na conta melhor, né? Tenho 25 mil dólares com meu pai. Estava vendo o que era melhor fazer com aquele dinheiro, pegar em dinheiro vivo. Meu pai estava até querendo ir lá e conversar com o presidente”, afirmou Mauro Cid, no dia 18 de janeiro de 2023, em conversa com o coronel Marcelo Câmara, assessor do ex-presidente. Na ocasião, Bolsonaro estava em Orlando, nos Estados Unidos.
Declaração do general
Em depoimento à Polícia Federal, o General Mauro Cesar Lourena Cid afirmou ter recebido de seu filho, Mauro Cid, um pedido para receber em sua conta bancária nos Estados Unidos aproximadamente US$ 68 mil, resultantes de uma venda de relógios pela Presidência da República. a República. O general afirmou ainda que os “valores foram repassados em frações de acordo com a disponibilidade de reuniões” com Bolsonaro.
Ligue para Wassef
A PF afirmou ainda que Bolsonaro nomeou o advogado Frederick Wassef para recuperar um relógio Rolex, que fazia parte do “kit ouro branco”, após reportagem do Estadão revelar o desvio de joias. No dia 2 de abril de 2023, Wassef fez uma videochamada com o ex-presidente. Foi nessa data que a PF suspeita que o item tenha sido entregue por Wassef a Cid na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo.
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