Os sete deputados que compõem o grupo de trabalho de regulamentação da reforma tributária finalizaram o primeiro parecer preliminar após reunião de oito horas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O conteúdo será divulgado nesta quinta-feira, 4, com a expectativa de que haja mais modificações e ajustes.
Isso porque o relatório não entrará nos assuntos mais polêmicos da reforma, como a composição da cesta básica com imposto zero, com possível inclusão de carnes, nem mudanças no Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”. ” – que afetará itens nocivos à saúde e ao meio ambiente. Diversos segmentos, como a indústria de refrigerantes, tentam fugir da tributação extra e pressionam os parlamentares por mudanças.
“Hoje conseguimos finalizar o texto. Logicamente estamos colocando tudo que é consenso entre os deputados, mas tem muita coisa que não depende só de nós, nem do presidente (da Câmara, Arthur Lira); depende das bancadas, dos dirigentes e dos presidentes de partidos”, afirmou o deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), que integra o grupo de trabalho responsável por regulamentar a espinha dorsal da reforma.
Segundo ele, todas as questões que possam influenciar a taxa normal do novo Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA, que unificará cinco impostos) serão da responsabilidade das bancadas partidárias. A discussão sobre a possível tributação dos fundos de investimento do agronegócio (Fiagro) e imobiliário (FII) nem sequer foi concluída.
“Os partidos vão conversar com Lira para construirmos esse texto para a próxima semana”, disse Passarinho, durante reunião da bancada do PL com a presença do Estadão teve acesso nos minutos iniciais.
A mensagem foi reforçada pelo deputado Cláudio Cajado (PP-BA), outro integrante do grupo: “Tivemos uma longa reunião com o presidente da Câmara, para ajustar o texto. , vamos procurar cada um dos seus respectivos partidos e conversar com os dirigentes”.
Os parlamentares ouvidos pela reportagem afirmam que a estratégia é dividir o bônus e o ônus das mudanças mais polêmicas, especialmente aquelas que poderiam aumentar a cobrança geral do IVA.
A alíquota média do novo imposto, segundo cálculos do Tesouro, é de 26,5%, mas pode chegar a 27,1% apenas com a inclusão da carne na cesta básica zero – reivindicação defendida pelo setor supermercadista e pela bancada ruralista no Congresso. Atualmente, esses itens estão com tarifa reduzida, com desconto de 60% na cobrança.
Na tarde desta quarta-feira, após reunião com integrantes do grupo de trabalho, Lira disse que a inclusão de carnes não é um assunto trivial, contrariando as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defendeu a inclusão de proteínas consumidas pelos os mais pobres, como o frango, por exemplo.
“Não há polêmica em relação à carne. Nunca houve proteína na cesta básica. Se couber, teremos que ver quanto essa inclusão representa na alíquota que todos vão pagar”, disse o presidente da Câmara. Ele afirmou que a mudança teria um “preço alto para todos os brasileiros”. Lira tem defendido que a alíquota média do ICMS seja mantida e que qualquer novo benefício seja compensado.
Mais cedo, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA), que também integra o grupo de trabalho, afirmou que o GT avalia a inclusão de armas no “imposto do pecado”. A cobrança até estava prevista na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma, mas ficou de fora do texto por meio de destaque apresentado pelo PL durante a votação no plenário da Câmara, em dezembro do ano passado.
A “bancada da bala” e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro são defensores da agenda armamentista no Congresso e resistem a essa medida. Nesta quarta-feira, o deputado Passarinho – que é o representante do PL no grupo de trabalho da reforma – se reuniu com Bolsonaro para discutir o tema.
Ao final da reunião, Bolsonaro enviou mensagem aos aliados recomendando que o partido não votasse nada que representasse aumento da carga tributária. A palavra de ordem foi repetida por membros do PL na Câmara mas, nos bastidores, alguns consideram o pedido genérico, já que o agronegócio, setor identificado com o bolsonarismo, é o que mais trabalha para incluir a carne na cesta básica zero.
Os deputados também vinham debatendo a possibilidade de incluir as apostas esportivas online, conhecidas como apostas, no Imposto Seletivo – inclusive como forma de compensar a ampliação da cesta básica. Os membros do GT pediram ao Ministério das Finanças um estudo sobre o potencial de receita da medida e o impacto na taxa de IVA, mas alegam que os números não foram entregues.
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