Um pedido de visão coletiva na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a discussão do Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/2023, que altera o regime jurídico do Banco Central (BC) para empresa pública, com natureza especial em razão do exercício de atividade estatal. O debate da proposta foi adiado para a próxima quarta-feira (10), em sessão extraordinária.
Atualmente, o BC é um órgão federal vinculado ao Ministério da Fazenda. A proposta, além de retirar o vínculo do banco a qualquer ministério, confere autonomia administrativa, contábil, orçamentária, financeira, operacional e de gestão de ativos. A aprovação do orçamento anual de financiamento e investimento do BC ficará a cargo da comissão temática competente do Senado Federal.
Durante a sessão, o presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (União-AP), chegou a anunciar acordo para adiar a discussão por 30 dias. O acordo teria sido assinado entre os senadores Rogério Carvalho (PT-SE), o autor e relator da PEC, os senadores Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Plínio Valério (PSDB-AM), respectivamente, e o líder do Governo em da Câmara, Otto Alencar (PSD-BA). A medida evitaria a votação de pedido de suspensão da discussão, o que poderia acarretar um adiamento de até 60 dias.
“O pedido era para suspendermos o início da discussão do assunto e não colocarmos em votação o pedido de adiamento da discussão. Assim como fiz em outros projetos polêmicos, suspenderia o início da discussão sobre o assunto para não ficarmos limitados a dois adiamentos de 30 dias”, explicou Alcolumbre.
Diante da recusa do painel, o acordo foi suspenso e o pedido de revisão coletiva foi acatado. “Qualquer pedido de adiamento está alimentando essa tensão entre o Banco Central e o presidente Lula”, disse o relator Plínio Valério ao recusar o acordo.
Relatório
Plínio Valério apresentou o relatório favorável à aprovação da PEC, em forma de texto substitutivo. Na avaliação do senador, a autonomia financeira, orçamentária e administrativa do BC constituem um complemento natural à autonomia operacional e aos instrumentos de que o banco dispõe atualmente.
Ao ler o relatório, o senador destacou que a mudança no regime jurídico do BC afetará os atuais funcionários do BC, que deixarão de ser regidos pelas regras do Regime Jurídico Único (RJU), e passarão a ser servidores públicos regulados pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Outro ponto levantado é que a mudança também impacta as expectativas legais dos atuais empregados, inclusive as condições de sua aposentadoria. Para contornar a questão, o texto prevê que o tempo gasto em cargos nas carreiras do Banco Central será considerado, para todos os efeitos, como exercício efetivo nos cargos que serão ocupados, pelos servidores optantes, em carreiras similares.
O texto determina ainda que os integrantes do quadro permanente do BC somente poderão ser demitidos em decorrência de decisão judicial transitada em julgado ou em caso de falta grave, apurada em processo disciplinar “no qual lhes é assegurada defesa contraditória e integral, inclusive observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade”.
Reunião
Na mesma reunião da CCJ, os senadores aprovaram o PEC 37/2022que altera o artigo 144 da Constituição Federal, para incluir a Guarda Municipal e o Agente de Trânsito entre os órgãos que compõem a segurança pública.
Os senadores também aprovaram a Projeto de Lei 3038/2021que cria o Conselho Curador do Fundo de Aperfeiçoamento da Defensoria Pública da União (DPU), composto pela Defensoria Pública Federal, pelo vice-Defensor Público Federal, pelo diretor da Escola Pública da União (EnaDPU) e três defensores públicos federais, um de cada categoria da carreira.
As duas propostas vão ao plenário do Senado.
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