A Comissão Temporária do Senado Federal que acompanha os desdobramentos da catástrofe climática no Rio Grande do Sul realizou, nesta segunda-feira (1º), audiência pública para debater a Projeto de Lei 2038, de 2024, que trata da criação de uma Política Nacional para Deslocados Internos. A legislação foi elaborada com base na calamidade pública que atingiu o Rio Grande do Sul, causada pelas fortes chuvas nos meses de abril e maio.
O texto prevê a adoção de medidas emergenciais e duradouras de assistência às pessoas obrigadas a abandonar suas casas, em decorrência, entre outras situações, de calamidade humana ou natural de grande porte, sem que os atingidos tenham saído do Brasil.
O autor do projeto, senador Paulo Paim (PT-RS), destacou que o Brasil é vulnerável às mudanças climáticas e que, em 2022, o país registrou 713,6 mil deslocados internos devido a diversos fatores, como degradação ambiental, subsidência de solo , urbanização desordenada, falta de infraestruturas adequadas em zonas vulneráveis, falta de investimento na prevenção e gestão inadequada do solo. “Nosso país, como um dos mais afetados da região, pode desempenhar um papel de liderança no combate a esta situação, implementando políticas humanitárias que respeitem os direitos humanos e o meio ambiente, buscando a sustentabilidade. É necessário e urgente construir políticas públicas para deslocamento interno.”
Na sétima reunião da comissão, o parlamentar gaúcho lembrou que o colegiado, criado em maio, fez duas viagens ao estado afetado e que os parlamentares se reuniram com autoridades, setor produtivo, trabalhadores e população, em geral, para ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul.
Mudanças climáticas
A responsável pela proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR – Brasil), Silvia Sander, destaca que as mudanças climáticas são um multiplicador de vulnerabilidades no mundo, gerando novos deslocamentos e necessidades de proteção para esta população. E que três quartos das pessoas em situação de deslocamento forçado em todo o mundo viviam em países com exposição elevada ou extrema a riscos relacionados com o clima, incluindo o Brasil.
Ao citar números da tragédia no estado, Silvia Sander também destacou que entre os atingidos no Rio Grande do Sul estão refugiados de outros países. “Existem cerca de 43 mil refugiados no estado e outros necessitados de proteção internacional que já foram deslocados dos seus países de origem, por diversas razões. Pessoas que vêm de países como a Venezuela e que agora são, mais uma vez, afetadas”.
O representante do ACNUR destaca que, desde o início da emergência, o organismo internacional vem prestando apoio técnico aos governos federal e estaduais e também trabalhando com estruturas comunitárias para refugiados, imigrantes e brasileiros deslocados de suas casas.
Silvia Sander também citou como uma de suas preocupações a quantidade de lixo que as chuvas e enchentes geraram: cerca de 47 milhões de toneladas de lixo, o que representa 61% de todo o lixo gerado no Brasil em um ano.
Segurança Pública
O representante do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MSP), tenente-coronel Jaldemar Ribeiro Pimentel Júnior, destacou que, passada a fase de salvamento, neste momento, a preocupação é com a segurança pública da população, devido à violência gerada pela crise económica que afecta o Estado.
“O Ministério da Justiça está preocupado em manter a Força [Nacional], desde que solicitado pelo estado do Rio Grande do Sul, em razão da questão pós-catástrofe. A população acredita que estão voltando para casa, mas não há residência, o que pode desencadear situações de violência, caso o Estado não esteja presente naquele momento.”
Os militares garantiram que a Força Nacional continuará atuando no Rio Grande do Sul com 300 integrantes que já estão nos municípios de Canoas, São Leopoldo, Nova Santa Rita, Roca Sales e Porto Alegre, e que o momento é de promover o social reintegração das pessoas afectadas.
Legislação
O consultor legislativo do Senado Federal, Tarciso Dal Maso Jardim, destacou que, pela primeira vez, o parlamento brasileiro aborda a questão do deslocamento interno no texto do projeto de lei que está em debate na comissão temporária nesta segunda-feira. E que o novo projeto de lei se inspira na legislação existente sobre migração e refugiados, pois trata da mobilidade humana, como na Operação Acolhida, que oferece apoio a migrantes e refugiados da Venezuela internalizados no Brasil.
O consultor legislativo explica que as garantias e medidas de assistência aos deslocados internos podem ser temporárias ou duradouras, dependendo da necessidade. “Diante da turbulência de uma catástrofe, temos medidas emergenciais, mas também precisamos pensar em medidas duradouras. E é aí que entram as unidades federativas, que devem pactuar as diretrizes, o financiamento e as questões operacionais para concretizar essa política de longo prazo.”
Tragédia
As fortes chuvas, enchentes e enchentes de abril e maio deste ano afetaram 478 municípios, de um total de 497 cidades gaúchas, e afetaram cerca de 2,39 milhões de pessoas. Desde maio, devido às enchentes, houve 538 mil deslocados internos no estado.
Dados da Defesa Civil do estado indicam que 179 pessoas morreram em decorrência das chuvas e, ainda, 33 pessoas continuam desaparecidas. Pouco mais de 800 pessoas ficaram feridas.
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